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Desemprego diminuiu mas pobreza aumentou

O desemprego diminuiu e os salários são bons, mas .... Keystone

Em 2007 conviveram altos salários, grande dinamismo da economia e uma paradoxal perda do poder aquisitivo.

Nesse contexto, a organização católica Caritas revelou que existem cada vez mais “trabalhadores pobres” na Suíça.

Mesmo se as palavras “Suíça” e “pobreza” parecem contraditórias, a estatística se encarregou de derrubar o mito.

Contra toda expectativa, em 2007 o desemprego chegou às taxas mais baixas da década e os salários estão entre os mais altos da Europa.

Apesar disso, o poder aquisitivo diminui e a pobreza aumenta, fatos difíceis de aceitar no país alpino.

Oásis helvético?

A Secretaria Federal de Economia (SECO) apresentou em março passado um estudo sobre a satisfação no trabalho, com interessantes resultados: 9 em cada 10 trabalhadores suíços se dizem satisfeitos com o emprego, horários e com a possibilidade de conciliar trabalho e vida pessoal.

Dias depois, a Divisão Federal de Estatística (OFS) apresentou um estudo completando o anterior em que revelou que os suíços ganham, em média, 55 francos por hora.

Descontados os impostos e cotizações sociais, o salário médio mensal é de 5.630 francos, 20% a mais do que na França, Alemanha e Áustria e 30% superior ao da Espanha, para citar apenas alguns exemplos dentro da União Européia.

Mais emprego

Simultaneamente, o desemprego caiu bastante em 2007. Começou o ano acima de 3% da população economicamente ativa (PEA) e diminuiu de forma paulatina e constante devido o crescimento da economia e do setor exportador, fechando o ano por volta de 2,7%.

Isso significa que apenas 102.300 pessoas na Suíça estão desempregadas, um recorde dos últimos sete anos. A tendência é que 2008 seja também de bons resultados.

Os cantões do Valais (sudeste) e Ticino (sul) têm taxas de desemprego superiores à média nacional, com 3,5% e 4,5% da PEA respectivamente. O último colocado em desemprego é Genebra, com mais de 6%. Em contrapartida, Berna e Zurique registram taxas inferiores a 2%. A tendência foi, portanto, positiva, embora certos dados relativizem o quadro.

‘Working poors’

Mesmo que os suíços se sintam satisfeitos com o trabalho, sejam bem remunerados – 5.500 por mês em média nacional de salário bruto – e se abram novas vagas, o poder aquisitivo da população perde 1,1% ao ano desde 2001, como resultado do aumento da inflação.

Esse dado coloca em evidência um problema que parecia não existir na Suíça.

Há atualmente aproximadamente 550 mil pessoas consideradas pobres e 360 mil entre elas são os chamados working poors, ou seja, pessoas que trabalham mas não conseguem fechar o mês e pagar seguros, aluguel e, às vezes, até alimentação.

Segundo estimativas divulgadas em maio pela Divisão Federal de Estatística (OFS), trata-se de 8,5% e de 4,2% da população, respectivamente.

Os dados da OFS são apenas indicativos mas a organização católica Caritas suíça afirmam que eles não correspondem mesmo à realidade.

Manual de pobreza

Em julho, a Caritas divulgou o “Manual da Pobreza na Suíça”, com cifras diferentes.

Apesar de seu alto nível de desenvolvimento e a existência de um PIB por habitante de 35.500 dólares anuais, o estudo realizado por Christin Kehrli e Carlo Knöpfel concluiu que na Suíça existem muito mais pobres do que aparece nas cifras oficiais.

“Pessoas, famílias e grupos são considerados pobres quando dispõem de recursos – materiais, culturais e sociais – tão escassos que são excluídos do modo de vida que, em sociedade, é o mínimo aceitável”, explicou Kehrli.

Na Suíça, segundo especialistas, existe uma pobreza “ralativa”, que faz com que as pessoas tenham uma vida marcada por restrições, embora não seja uma pobreza “absoluta”, que priva as pessas de casa, roupas e comida.

O Manual coloca outra reflexão importante, constatando que a Suíça não dispõe de um parâmetro oficial da pobreza. “O mínimo vital deve garantir a existência material (casa, alimentação, atendimento médico, etc) e promover a integração social e profissional”, acrescentou.

swissinfo, Andrea Ornelas

A economia suíça crescerá 3% em 2007 (dados oficiais ainda não divulgados), melhor cifra da década, desempenho que permitiu reduzir o desemprego em praticamente todos os setores produtivos.

A ong Caritas, primeira entidade não-governamental especializada em avaliar a pobreza na Suíça, fornece ajuda social a desempregados, imigrantes, woorking poors e outros grupos com problemas econômicos.

A Divisão Federal de Estatística (OFS) e a Secretaria Federal de Economia (SECO) são as instituições públicas que fornecem dados sobre emprego e desemprego. Não existem dados oficiais sobre a pobreza.

Na Suíça, os salários mais altos são 6 vezes maiores que os mais baixos; na União Européia (UE) a diferença é 30% maior.
É considerada pobre, uma pessoa que ganha menos de 2.500 francos suíços por mês.
O salário médio é de 5.500 francos por mês mas 25% da população ganham menos de 4.120 francos e outros 25% ganham mais de 8.020 francos.

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