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Desemprego entre portugueses dobra na Suíça

Na Suíça, cresce o número de imigrantes que procuram emprego. Keystone

O desemprego na Suíça aumentou de 2,7% para 3% em dezembro passado. É a taxa mais alta dos últimos dois anos, mas ainda uma das mais baixas da Europa.

Os trabalhadores estrangeiros são mais atingidos do que os suíços. Entre os imigrantes portugueses, a taxa de desemprego quase dobrou de 3,7% para 7% no último trimestre de 2008.

Em entrevista à swissinfo, a portuguesa Margarida Pereira, secretária sindical para a área de migração do Sindicato Unia, aponta os contratos temporários de trabalho e a falta de formação como principais causas do desemprego entre os imigrantes lusos e acusa a direita nacionalista de fazer uma campanha discriminatória contra trabalhadores estrangeiros.

swissinfo: Como se explica o aumento do desemprego entre os portugueses na Suíça?

Margarida Pereira: Este fenômeno não é novo. A questão é que, em tempo de prosperidade econômica, as estatísticas do desemprego nos meses de inverno não são analisadas ao pormenor por determinadas forças políticas e por alguns media.

Antes da entrada em vigor dos acordos bilaterais Suíça-União Europeia, o número de trabalhadores sazonais estrangeiros desempregados não constava nas estatísticas, pois estes eram obrigados a regressar ao país de origem até receberem contrato para a nova temporada de trabalho. Ao abrigo dos acordos bilaterais, hoje um trabalhador, depois de ter pago contribuições sociais durante 12 meses, poderá ter acesso ao subsídio de desemprego na Suíça. O que é nada mais do que justo.

Quais são as categorias mais atingidas?

Um elevado número de portugueses na Suíça continua a ter contratos de trabalho por tempo determinado – de 8 a 10 meses, de março a outubro ou novembro, por exemplo. O trabalho sazonal continua a existir em sectores como a construção, a jardinagem, a agricultura e a hotelaria.

Por outro lado, o número de trabalhadores temporários (construção, alguns ramo da indústria etc) também tem aumentado bastante nos últimos anos. A grande maioria dos temporários é estrangeira, entre eles muitos portugueses. Em tempo de crise, são trabalhadores com contratos de trabalho mais precários, como contratos a tempo parcial, por tempo determinado, por chamada etc., os primeiros a serem afectados pelo desemprego.

A falta de formação e integração dos imigrantes, apontada em relatórios oficiais, agrava o problema?

O problema situa-se mais ao nível do desenvolvimento do mercado de trabalho e das novas formas de emprego. Os postos de trabalho tornam-se cada vez mais precários. Contratos temporários ou por chamada permitem despedimentos mais facilitados e não garantem a certeza de trabalho. Tanto em situação de prosperidade como em situação de crise são trabalhadores mais vulneráveis, muitos deles estrangeiros (incluindo portugueses), os afectados. As empresas deveriam também desenvolver modelos, de modo a evitar os despedimentos.

Também não posso deixar de referir que trabalhadores menos qualificados são dos primeiros a serem afectados pelo desemprego. E, infelizmente, os trabalhadores portugueses estão entre os menos qualificados. Mas aqui temos que chamar o patronato à responsabilidade que deve oferecer aos seus empregados todas as condições e criar oportunidades para que estes tenham oportunidade de fazer formação profissional.

Quanto à integração, os trabalhadores portugueses têm uma muito boa reputação no mercado de trabalho. Há empresas que preferem trabalhardes de nacionalidade portuguesa, por serem aplicados, responsáveis, de fácil trato e que muito bem se adaptam a novas realidades. A integração não pode ser só medida pelo grau de conhecimento da língua local.

Há desempregados voltando para Portugal ou eles preferem ficar aqui com o seguro desemprego?

Alguns voltam, outros ficam. Como já mencionei, um trabalhador depois de ter efectuado descontos durante 12 meses poderá ter acesso ao subsídio de desemprego na Suíça. Já que se é aqui que trabalha e aqui que faz os seus descontos e paga os seus impostos, é aqui que também deve receber o apoio necessário antes de obter novo contrato de trabalho.

As estatísticas do desemprego dão razão à direita nacionalista suíça (UDC), que faz campanha contra a livre circulação de trabalhadores europeus no país, alegando que muitos deles ficam facilmente desempregados e sobrecarregam o sistema de previdência social?

É óbvio que não. A campanha da UDC é uma campanha racista, discriminatória, e alarmista, que pretende provocar o medo nas pessoas e apresentar o estrangeiro como bode expiatório.

A livre circulação de pessoas e de trabalhadores só tem trazido vantagens à Suíça e aos suíços – grande desenvolvimento em muitos sectores, prosperidade econômica, investimento estrangeiro, criação de empregos, redução de desemprego entre os suíços. Em 2004, o número de desempregados de nacionalidade suíça era mais elevado que o de estrangeiros, ao contrário de hoje.

Há muitos setores econômicos na Suíça que não sobreviveriam sem mão-de-obra estrangeira. O volume de trabalho executado por estrangeiros em alguns setores comprova isso: na hotelaria e restauração – 53%, trabalho doméstico – 40%, construção – 37%, saúde – 27% e assim por diante.

swissinfo, Geraldo Hoffmann

A Suíça tem cerca de 4,5 milhões de trabalhadores, dos quais 1,2 milhão são estrangeiros (incluindo alguns milhares que vivem nos países vizinhos e cruzam a fronteira diariamente).

A taxa de desemprego na Suíça é de 3%. Em dezembro de 2008, 119 mil pessoas estavam desempregadas no país – 11 mil a mais que no mês anterior.

A Secretaria Federal de Economia prevê que a taxa será de 3,3% em 2009 e de 4,3% em 2010.

Na União Europeia (UE), a taxa média de desemprego é de 7,8%. Só a Holanda, com 2,3%, tem uma taxa inferior à da Suíça.¨

De setembro a dezembro de 2008, a taxa de desemprego entre trabalhadores suíços aumentou de 1,8% para 2,1% – a média entre os imigrantes foi de 6,1%.

Entre os imigrantes alemães, subiu de 2% para 3%; entre os franceses, passou de 3,8% para 4,6%; entre os portugueses, pulou de 3,7% para 7%, e entre os imigrantes oriundos da ex-Iugolslávia, atingiu a marca de 7,5%.

Atualmente 1,6 milhão de estrangeiros vivem na Suíça – deste total, 1 milhão vêm da UE. Os 193 mil portugueses formam o terceiro maior grupo de imigrantes, atrás dos italianos (290 mil) e dos alemães (224 mil).

O Sindicato Unia, com 200 mil trabalhadores filiados da indústria e do setor de serviços, está fazendo uma campanha para incentivar os portugueses a realizar uma formação profissional contínuia (veja link abaixo).

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