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Despertando o potencial dos pobres

O projeto BPN apóia esse marceneiro e sua pequena empresa no Quirguistão.

Empréstimos e treinamento para pequenos negócios no Terceiro Mundo estão ajudando-os a criar empregos. O empresário suíço Jürg Opprecht fala à swissinfo.

Opprecht é fundador e presidente da Rede de Profissionais dos Negócios (BPN, do inglês Business Professional Network), fundação sem fins lucrativos baseada em Berna. O objetivo é apoiar esses empreendimentos a forjar um futuro melhor.

Fundada no final de 1998, a BNP deu seus primeiros passos na ex-república soviética do Quirguistão. Depois ela cresceu e incluiu projetos no Benin (África) e Nicarágua (América Latina).

Opprecht, que é dono de uma companhia imobiliária e proprietário do hotel de cinco estrelas de Lenkerhof, localizado na estâncias de férias de Lenk, na região montanhosa do estado de Berna, revela que a idéia de criação da sua ONG partiu de uma visita ao Quirguistão. Durante um workshop dado por ele, as pessoas não lhe pediam dinheiro, mas ajuda para montar seus próprios negócios.

Durante sua viagem, ele constatou que seis em cada dez pessoas no país eram desempregadas e também viu a pobreza, sofrimento e desesperança vivida por muitos trabalhadores qualificados e potenciais empresários, que não tinham recursos para apoiar a si mesmo e suas famílias.

Nos últimos dez anos, a BNP ganhou uma forte reputação pelo seu trabalho, que chegou mesmo a ser reconhecido pelo Fórum Econômico Mundial, entidade baseada em Genebra.

swissinfo: Quando você iniciou a BPN? O que levou-lhe empregar parte do seu dinheiro para ajudar outras pessoas?

Jürg Opprecht: Iniciei a BPN, pois sou um empresário e queria fazer algo onde poderia empregar minhas capacidades empreendedoras e ajudar outras pessoas. Antes de ter criado essa fundação, eu já havia investido em pequenos e médios negócios na Suíça. Eu era o que as pessoas poderiam chamar de “seu anjo dos negócios”.

Eu gosto da idéia de construir um relacionamento com alguém – não apenas sendo um frio investidor – mas um professor, alguém que dá conselhos e atua como um treinador para discutir a expansão dos negócios. Então, quando eu vi uma oportunidade para fazer isso em larga escala em um país em desenvolvimento, a idéia me fascinou. Outra razão está no fato de, como um cristão, sinto que tenho uma responsabilidade de ajudar outras pessoas se tenho a possibilidade de fazê-lo.

Em sua opinião, o que foi alcançado desde 1998?

É importante para mim ver empresários florescendo nos seus ramos. Estou feliz por aqueles que, além da influência da BPN, conseguiram desenvolver-se desde então e não estagnar. Essa é a melhor recompensa.

Quais são os desafios da sua organização?

O maior desafio nos três países é mudar a forma de pensar, a mentalidade. Não é apenas ensinar marketing ou planejamento financeiro. Eles são tão espertos como nós. Eles aprendem rapidamente.

Mas no Benin, por exemplo, eles falam de um espírito de pobreza. As pessoas do Benin sempre falam: “Sempre fomos pobres, somos pobres e seremos pobres no futuro. Não existe esperanças”. Eles têm um espírito resignado e nós tentamos criar esperanças para ajudá-los a desenvolver seus próprios pensamentos e convencê-los de que o destino pode ser diferente.

Quem dá e como o senhor faz para encontrar pessoas que dão dinheiro ao Terceiro Mundo?

A grande maioria é empresários, proprietários de pequenos e médios negócios, pois eles conhecem os desafios de construir sua própria empresa. E a forma como os encontramos é através da propaganda boca a boca e promoção da BPN através de eventos, onde pedimos às pessoas que nos apóiem e sejam embaixadores espalhando nossa mensagem.

Como o senhor seleciona as pessoas que serão apoiadas pelo seu projeto? Isso não é um pouco complicado?

Esse é um dos pontos mais importantes do programa. No Quirguistão temos entre 300 e 350 demandas por ano, somente através da propaganda boca a boca. Deles selecionamos cerca de dez por cento. A coisa mais importante que queremos ver é um empreendedor, alguém que tenha habilidades empresariais, que já tenha começado um negócio em pequena escala e o administre mais ou menos de forma bem sucedida. Raramente financiamos empresas iniciantes, pois é muito arriscado.

Qual é a ética do Cristianismo que o senhor ensina?

Se você leva o Cristianismo para um projeto como este, muitas vezes você é mal interpretado. Alguns nos chamam de missionários (risos). Tenho de resolver esta questão em dois níveis. Um é a minha motivação pessoal, que é baseada em minhas convicções de que o Cristianismo pode ajudar os pobres de uma forma sustentável.

A outra é o fato de que estamos ensinando o que se poderia chamar de ética calvinista do trabalho como honestidade, trabalho duro, ser um bom chefe para os seus empregados, ser justo e por ai adiante. Isso é extremamente bem recebido, pois nos três países onde trabalhamos há muita corrupção. Eles estão muito agradecidos pelas normas éticas que transmitimos na forma de fazer negócios.

O que o senhor vê como potencial da BPN?

Vejo um gigantesco potencial. Existem mais de cinqüenta países no mundo, onde a maioria da população vive abaixo da linha de pobreza. Assim seria possível dizer que existe um grande número de oportunidades. E obviamente recebemos muitos pedidos de outros países.

Acreditamos ter um conceito comprovado de trabalho em como resolver as questões, que cada vez necessitam ser adaptadas à cultura local. Porém os princípios permanecem os mesmos.

O que o senhor acha da clássica ajuda ao desenvolvimento?

É claro que existe um tempo e um local, onde você tem de ajudar os pobres diretamente. Quando ocorre um tsunami, não é possível começar através da criação de empregos. É necessário ajudar a atender as necessidades. Porém é importante entregar a responsabilidade às mãos locais. Se você fornece ajuda em uma base contínua, você está criando dependência e as pessoas irão se habituar a ser dependentes. Isso inicia um circulo interminável.

Eu não tenho nada contra ajudar crianças, por exemplo. Mas pense bem: se as crianças recebem ajuda médica e se você consegue dar-lhes escola, isso é fantástico. Mas o que acontece com elas? Isso não cria riquezas em um país. O que as pessoas precisam é de emprego. Eu penso que todos os esforços em prol do desenvolvimento, não importa o caminho, devem tornar as pessoas independentes. E isso só pode ser feito se elas são capazes de gerar sua própria renda.

swissinfo, Robert Brookes

No final de 2008 ela apoiava 425 empresas:

– 302 no Quirguistão
– 78 no Benin
– 45 na Nicarágua.

Os projetos ocupam 6.200 trabalhadores no Quirguistão, 730 no Benin e 750 na Nicarágua.

No total, pouco mais de 38 mil famílias são apoiadas pelo trabalho da ONG suíça.

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