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Detentos recebem terapia do trabalho em penitenciária suíça

A nova direção da penitenciária de Witzwil, no cantão de Berna, uma das maiores da Suíça, imaginou uma nova forma de preparar os detentos à vida em liberdade: a pedagogia do trabalho.

O sistema penitenciário suíço é considerado exemplar em nível europeu, porém ainda poderia ser melhorado, como acredita o professor criminalista Andrea Baechtold, da Universidade de Berna.

Uma pequena televisão, um toca CDs barato, uma cama, uma cadeira e uma escrivaninha, no qual foi colocado um buquê fresco de flores. Esse é o mobiliário da cela de Abdullah M., um detento que já está há seis meses cumprindo sua pena na penitenciária de Witzwil.

Não se vêem cartazes de mulheres nuas ou seminuas pregados nas paredes, como aparecem nos filmes de Hollywood. Abdullah trabalha na cozinha da prisão. O tempo que está passando atrás das grades deve ser o último contato que ele terá com a justiça penal. “Eu quero me tornar uma pessoa melhor”, diz ele com otimismo ao repórter da swissinfo.

Preparativos para a liberdade

Witzwil não é uma prisão de alta segurança. “Os crimes que os nossos detentos cometeram são 30% relacionados com atos de violência e 40% com tráfico de drogas. O resto é de falsificação, fraude e outros”, esclarece Hans-Rudolf Schwarz. Ele já é há quatro meses diretor da penitenciária.

Prisioneiros não pensam em escapar de Witzwil. Isso seria fácil, pois a penitenciária tem uma área agrícola de mais de 600 hectares. Ela é até considerada a maior fazenda da Suíça.

“Para algum dos nossos detentos a pena começa a ser cumprida em regime fechado. Quando chegamos à conclusão, através da avaliação do comportamento individual de cada um, que não existe o perigo de fuga ou risco para outros detentos, então podemos colocar a pessoa em regime aberto de prisão”, conta Schwarz.

Pedagogia do trabalho

O cumprimento da pena em Witzwil inclui também a chamada “terapia do trabalho”. “Porém é preciso ressaltar que não temos terapia na prisão”, reforça Schwarz.

“O que necessitamos em primeiro lugar é avaliar a situação de cada novo detento. No nosso setor de acolhimento são feitas análises do estado de saúde e psíquico, assim como também o nível educacional e capacitação profissional, das pessoas que chegam”.

Graças à avaliação, os responsáveis em Witzwil conseguem recomendar ao detento um posto de trabalho que corresponda às suas qualificações e aos seus déficits.

A arte está em associar as aspirações de cada detento e as necessidades do sistema de produção. “Nossos produtos têm de corresponder às exigências do mercado. Não recebemos mais apoio do cantão. Isso significa que não fabricamos nenhuma figura de presépio ou brinquedos para serem depois distribuídos gratuitamente”.

Na terapia de trabalho proposto pela penitenciária, os participantes descobrem como os vários aspectos da vida na prisão estão interconectados: lazer, trabalho, acompanhamento, formação profissional e terapia.

Passeio às geleiras em prol da sociedade

Uma indicação da abertura crescente é o passeio conjunto organizado pela penitenciária de Witzwil e a Associação Suíça de Inválidos “Procap”. O programa, que já está na sua sétima edição, reúne 16 detentos e cinco deficientes físicos em programas que os levam até as altas montanhas dos Alpes. Os deficientes são transportados em cadeiras de rodas especiais.

O passeio deste ano leva os participantes a uma geleira. Para isso as cadeiras de roda precisam ser adaptadas. Ao invés de rodas, elas recebem pranchas de Snowboard (uma espécie de surf na neve), que são montadas pelos detentos de Witzwil.

Sistema penal suíço tem bom nível

O professor Andrea Baechtold, especialista em assuntos penais na Universidade de Berna, compara o sistema penitenciário da Suíça com outros países europeus. “A Suíça tem uma infra-estrutura considerada muito boa”.

Para Baechtold, também as condições de trabalho nas penitenciárias estão muito desenvolvidas. Um exemplo: em 100% das prisões existe oferta de trabalho, sendo que na Alemanha e Áustria são apenas 60%. Já no setor de afrouxamento de prisão como férias e formas especiais de prisão, como externatos de trabalho, Baechtold vê a Suíça como um ator mediano em contexto europeu.

Se na grande maioria dos países da União Européia detentos têm a possibilidade de serem soltos depois de cumprir a metade da sua pena, na Suíça isso só é possível depois do cumprimento de dois terços da pena.

Outra diferença, explicada pela estrutura política da Suíça, é a falta de normalização do sistema penitenciário, ou seja, cada cantão é autônomo para determinar como ele deve ser exercido. “Com exceção de alguns parágrafos no Código Penal, não existe nenhuma lei que regulamente isso”, critica Baechtold.

Alguns cantões chegam a não ter nenhum regulamento. “A situação legal de detentos na Suíça, em comparação européia, é abaixo da média”.

Porém o objetivo mínimo é alcançado. “O atual sistema penal na Suíça pelo menos garante que a pessoa não vai sair pior do que entrou”, conclui o professor de Berna.

swissinfo, Etienne Strebel, Witzwil

Witzwil oferece 200 lugares para detentos em prisão de regime fechado.
50% da ocupação é de estrangeiros.
118 agentes penitenciários.
40 postos de trabalho para detentos em várias oficinas e na horta.
Posto de saúde próprio.
612 hectares de área fazem de Witzwil a maior fazenda da Suíça.
Penitenciária independente desde 1895
Faturamento de 17 milhões de francos.
20 tratores.
400 cabeças de gado, 120 cavalos, 600 suínos, 100 galinhas, 30 colméias, máquina para produção de biogás.
Loja para venda de produtos.
20 mil refeições por dia são produzidos na própria cozinha.

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