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Dinheiro da escravidão nos cofres suíços

"O escravo Jack", daguerreótipo de Joseph T. Zealy. Rotpunktverlag

Após "A Suíça e a escravidão dos negros", escrito em francês e publicado em abril, um segundo livro do escritor Hans Fässler analisa o papel que o país dos Alpes teve na escravidão.

“Viagem em preto-e-branco” mostra como as empresas suíças ganharam fortunas graças ao tráfico de seres humanos.

Nesse último livro publicado na Editora Rotpunktverlag – e disponível no momento apenas em alemão – o historiador Hans Fässler mostra que a Suíça estava muito mais implicada no comércio de escravos do que se sabia até hoje.

Em todas as regiões do país, o autor encontrou traços de investidores que financiaram o comércio, empresários que possuíram escravos ou soldados que participaram da repressão das suas revoltas.

A escravidão constituía a base de um sistema econômico complexo em volta do Atlântico. Esse sistema contribui enormemente ao desenvolvimento econômico europeu nos séculos XVIII e XIX.

Durante os dezenove capítulos do livro, Hans Fässler mostra como a Suíça conseguiu tirar proveito desse setor do comércio internacional. No século XVIII, o país dos Alpes importava mais algodão produzido por escravos do que a Inglaterra.

De Toussaint Louverture até o envolvimento helvético

O historiador suíço começou a se interessar pelas relações entre a Suíça e a escravidão durante a preparação de um espetáculo consagrado a um herói haitiano da revolta de escravos, Toussaint Louverture. Hans Fässler criou esse espetáculo para as comemorações dos 200 anos da entrada do cantão de St. Gallen na Confederação Helvética.

Durante suas pesquisas, ele encontrou famílias do cantão que possuíam na época grandes plantações, onde milhares de escravos eram ocupados. A descoberta provocou no escritor uma grande surpresa, pois isso não correspondia à imagem que ele tinha da Suíça. Sua pesquisa terminou revelando uma realidade ainda desconhecida.

O primeiro livro dedicado ao tema, intitulado “A Suíça e a escravidão dos negros”, foi escrito em francês e publicado em abril na editora Antipodes.

Sistema econômico europeu

As revelações de Hans Fässler desencadearam um grande debate político na Suíça.

Portanto, as relações negreiras da Suíça no século XVIII existiram apenas graças a indivíduos e não devido a uma política nacional ou cantonal. swissinfo perguntou ao autor se as instituições não precisariam questionar seu passado.

– Para mim, isso não é nem uma questão nacional ou individual. Eu prefiro ver essa questão de um ponto de vista europeu. Trata-se de um sistema econômico que envolvia toda a Europa e nenhum país pode dizer que não aproveitou – respondeu o historiador.

swissinfo e agências

“Viagem em branco-e-preto” (original em alemão: “Reise in Schwarz-Weiss”). Editora Rotpunkt, Zurique, 2005.
“A Suíça e o tráfico negreiro” (original em francês: “La Suisse et l’esclavage des Noirs”). Edições Antipodes, 2005.

– Dando seguimento à uma homenagem feita ao Toussaint Louverture, primeiro líder da independência do Haiti, o historiador suíço Hans Fässler resolveu pesquisar à fundo as relações entre a Suíça e a escravidão, principalmente nos séculos XVII e XVIII.

– O país dos Alpes teve um papel importante nessas relações, sobretudo através das atividades das suas empresas e bancos.

– Essa realidade histórica já foi objeto de diversas moções no Parlamento helvético.

– Hoje, Hans Fässler publica o segundo livro sobre o tema.

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