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Dinheiro traz felicidade (I)

Herrli (CH) berg é um jogo de palavras e significa "montanha esplendorosa". Foto: Alexander Thoele swissinfo.ch

Herrliberg é um pequeno povoado suíço na chamada “Costa de Ouro”, uma das regiões mais belas e ricas do país, localizada às margens do lago de Zurique.

No paraíso terreno e fiscal, dos seis mil habitantes, mais de 700 são milionários. Um deles é o conhecido político e empresário Christoph Blocher.

O Paraíso abriu uma filial na Terra. Essa é a primeira impressão que o visitante tem ao saltar em Herrliberg, uma das paradas no trajeto feito pelas balsas que saem do porto de Zurique e atravessam o lago com o mesmo nome.

Assim como num hotel de luxo, as balaustradas do píer estão decoradas com gerânios vermelhos. Ao atravessar seu portão de metal, o turista vislumbra as fachadas brancas de casas de madeira, árvores floridas, a torre de uma igreja protestante e as montanhas cobertas de videiras. Nada está fora do lugar. Não há lixos nas ruas, nem pedintes. Crianças louras brincam nas praças. Senhores bem vestidos passeiam em conversíveis esportivos. Tudo reflete bem-estar e harmonia.

“Herrliberg” é um dos povoados da chamada “Costa de Ouro”, uma faixa de terra localizada na margem esquerda do lago de Zurique, que recebeu esse nome não apenas pela beleza da região, mas seguramente por ser também um dos endereços mais chiques e exclusivos de toda a Suíça.

Seus habitantes sabem disso e não são nem humildes. Uma placa pendurada na frente do prédio da prefeitura mostra o novo logotipo de cidade: “Herrli(CH)Berg” – um jogo de palavras que significa em alemão algo como “montanha esplendorosa”.

700 milionários

Rico é o que não falta por lá. Em 2002, a prefeitura calculou a fortuna geral dos seus habitantes, para o recolhimento de impostos, em 6 bilhões de francos suíços (US$ 4,3 bilhões). Essa enorme quantia compreende casas, terrenos, ações em banco, ouro e outros valores guardados nos cofres dos seus moradores.

Esse dinheiro não se vê nas suas ruas. Como bons protestantes, os habitantes de Herrliberg não competem com Beverly Hills e suas mansões cinematográficas. Nos terrenos caríssimos desse povoado suíço, arquitetos de grife preferem construir casas e apartamentos modernos e discretos de alta qualidade, que escondem atrás das suas paredes e garagens a verdadeira riqueza dos seus moradores.

Essa riqueza aparece nos números. A prefeitura revela que os 3.400 contribuintes do pequeno povoado têm rendas anuais calculadas em 400 milhões de francos suíços (US$ 292 milhões). Dos 5.750 habitantes, mais de 700 são considerados milionários.

Assim, o dinheiro jorra na fonte de impostos nos cofres da pequena prefeitura. Só em 2002, foram recolhidos mais de 35 milhões de francos suíços (US$ 25 milhões). Tirando as despesas gerais como pagamento de funcionários, escola, sistema social, saúde, a prefeitura ainda tem guarda reservas de 67,5 milhões de francos suíços (US$ 50 milhões).

Programa para gastar o excesso de dinheiro

Essas “gorduras” nos cofres da prefeitura devem ser cortadas para que o balanço geral atinga patamares normais. “Criamos um programa para reduzir as nossas reservas até 2005”, explica o prefeito Rolf Jenny, que é quase um reflexo desse contexto paradisíaco. Bronzeado e de bom-humor, o “cinquentão” suíço divide o seu tempo entre a administração da cidade e o trabalho na sua oficina mecânica, onde são reparados carros de luxo. Na porta do escritório, sua Mercedez branca conversível mostra que os negócios vão de vento em popa.

Uma das idéias que a prefeitura teve para gastar as reservas-extras é um programa de redução gradual dos impostos, o que transformou Herrliberg num paraíso fiscal.

No sistema fiscal suíço, as comunas têm a liberdade de determinar quanto vai ser retirado do bolso de cada cidadão. A média geral de impostos no cantão de Zurique é calculada em 100%. Em Herrliberg, paga-se apenas 70%. Essa é a segunda menor alíquota de imposto numa comuna do cantão de Zurique, perdendo apenas para Neerach, um outro pequeno povoado.

Um exemplo explicativo do sistema de baixos impostos, que tornam a Suíça um país interessante não só para os ricos, mas também para as empresas: em junho, o Centro de Pesquisa Econômicas de Mannheim e a instituição de pesquisa suíça BAK Basel Economics publicaram os resultados de um estudo comparativo mostrando que, na Alemanha, uma empresa paga 200 mil Euros a um funcionário qualificado, para que, depois dos impostos, lhe sobrem 100 mil Euros no bolso. Para manter o mesmo nível salarial, nos Estados Unidos o empregador precisa pagar apenas 153 mil Euros. Na Suíça, vale o mesmo para os cantões suíços de St. Gallen, Basiléia, Berna, Genebra e Zurique. Apenas o cantão de Zug e Schwyz, reconhecidos como paraísos fiscais, o empregador só precisa gastar 130 mil Euros.

Por essa razão, pessoas de alta renda gostam de morar em povoados como Herrliberg, onde a qualidade de vida é alta e os impostos são baixos. E essas vantagens fiscais não são “peanuts”, como dizem os ricos.

Reportagem continua na segunda parte. Clique AQUILink externo para lê-la.

swissinfo, Alexander Thoele em Herrliberg

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