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A Suíça é uma manipuladora de moedas?

Thomas Jordan.
O poderoso chefão do Banco Nacional Suíço (banco central) Thomas Jordan. © Keystone / Eq Images / Christian Pfander

O governo norte-americano acusou a Suíça no mês passado de ser uma manipuladora de moedas, e recebeu uma série de negações do Banco Nacional Suíço. O analista de política monetária Fabio Canetg explica o que significa essa discussão.

A Suíça e o Vietnã foram ambos colocados na lista de lista de manipuladores de moedas dos EUA, após um relatório do Departamento do Tesouro acusar os dois países de interferirem excessivamente nos mercados de câmbio. O Banco Nacional Suíço (BNS) negou isto: suas ações não dão à Suíça uma vantagem competitiva injusta, diz a instituição.

SWI swissinfo.ch: Por que o BNS é tão agressivo em sua compra de moedas estrangeiras?

Fabio Canetg: Em tempos de crise, os investidores tendem a comprar fortemente o estável franco suíço estável. Isto significa que ele aumenta de valor, o que torna as exportações suíças mais caras. Ao mesmo tempo, bens e serviços do exterior tornam-se mais baratos na Suíça.

Ambos os efeitos são uma dor de cabeça para o Banco Nacional, cujo mandato é manter a estabilidade tanto da economia suíça quanto dos preços domésticos. Como resultado, o SNB compra moedas estrangeiras para evitar que a valorização do franco se torne muito severa.

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SWI: Então por que os EUA agora declararam a Suíça um manipulador de moedas?

F.C.: Os EUA toleram intervenções nos mercados de moedas quando elas não vão além de 2% do Produto Interno Bruto de um país. No caso da Suíça, isso significa um limite de cerca de CHF 15 bilhões (16,97 bilhões de dólares) a cada ano. Em 2020, o Banco Nacional foi claramente além deste valor, intervindo numa faixa de mais de CHF 90 bilhões. E como a Suíça também é um exportador líquido para os EUA, [com um claro saldo positivo no comércio com os EUA] Washington decidiu rotulá-la como um manipulador de moedas.

SWI: O que está por trás desta estratégia dos EUA?

F.C.: Os critérios dos EUA são de motivação política. Eles foram introduzidos inicialmente como uma reação aos esforços da China para manter sua moeda artificialmente baixa – com o objetivo de vender seus produtos mais baratos no mercado americano. Mas as ações do BNS, por outro lado, não são feitas com este objetivo de tornar as exportações suíças mais baratas no exterior. O BNS quer simplesmente evitar uma situação em que os produtos suíços se tornem muito caros.

SWI: O BNS estava preparado para isso?

F.C.: Sim, o BNS estava bastante preparado para este relatório. Pouco antes de ser publicado, o BNS havia publicado um comunicado de imprensa no qual se comprometia a continuar ativo nos mercados cambiais.

SWI: O que aconteceria se o BNS reduzisse suas compras de moeda?

F.C.: Há cerca de um ano, a taxa de inflação na Suíça se mantém abaixo de zero – fora da faixa de meta determinada pelo BNS. Assim, o banco também tem que estar atento para que os preços não baixem ainda mais. E como cortar a taxa de juros atual de -0,75% não teria qualquer efeito, comprar moedas estrangeiras é o único instrumento que lhe resta. O BNS não vai parar de fazer isso.

SWI: Existe alguma estratégia alternativa que o BNS poderia considerar?

F.C.: Não. A curto prazo, o BNS só poderá manter os preços estáveis se confirmar sua disposição de investir em mercados de câmbio quando necessário. Caso contrário, há um risco de deflação, ou seja, um período sustentado de queda de preços.

A médio prazo, o banco poderia, tal como o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) e o Banco Central Europeu, considerar uma mudança fundamental na política monetária. Uma meta de inflação mais alta, por exemplo, reduziria a pressão contínua sobre o franco.

SWI: Qual é o pior cenário possível para a Suíça?

F.C.: Não está claro. Como um primeiro passo, serão realizadas conversações bilaterais entre os dois países. A lei americana prevê então medidas a serem tomadas contra a Suíça: mas a forma que essas medidas tomarão dependerá de quão bem a Suíça poderá explicar sua ação sobre os mercados cambiais. Aqui, o país tem o apoio do Banco de Compensações Internacionais (BIS), o “banco central dos bancos centrais”, cujo presidente disse ao jornal Neue Zürcher Zeitung em outubro que a Suíça não é um manipulador de moedas.

SWI: Quão grave é o problema do franco suíço forte?

F.C.: Isso ainda é uma preocupação, pois aumenta o preço das exportações suíças e significa que a taxa de inflação em casa permanece baixa – o que desacelera o desenvolvimento econômico do país. O BNS confirma regularmente sua prontidão para agir nos mercados cambiais; mas nos últimos meses, não fez mais nada para tentar enfraquecer o franco.

O especialista em política monetária Fabio Canetg é pesquisador associado no Centro de Estudos Gerzensee do Banco Nacional Suíço, um instituto que ministra cursos de treinamento e educação continuada para funcionários do banco central, bem como para doutorandos em economia política.

swissinfo.ch/ets

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