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As gigantes farmacêuticas versus os "coronaHackers"

A Novartis tem observado um aumento nos ataques de "spear phishing" referindo-se ao coronavírus, por meio de e-mails fraudulentos para enganar um usuário a acessar seu computador. © Keystone / Georgios Kefalas

Na atual corrida global pela vacina Covid-19, os hackers estão tentando espionar o andamento das pesquisas médicas em alguns países. O que dizer sobre a segurança da indústria farmácia suíça?

Este conteúdo foi publicado em 16. junho 2020 minutos
Alexis Rapin

Os piratas informáticos já conheciam os "vírus", mas há outro que em breve não terá segredos para eles. Enquanto cientistas de todo o mundo estão trabalhando em uma vacina ou tratamento para a Covid-19, os hackers estão agora engajados na ciberespionagem em busca de segredos farmacêuticos. E de acordo com algumas evidências, esses hackers podem muito bem estar atuando a serviço de potências estrangeiras.

As acusações nesse sentido se sucedem há várias semanas: em meados de maio, os Estados Unidos acusaram publicamente a China de tentar invadir os institutos de pesquisa americanos que trabalham no novo coronavírus. O Reino Unido também tem denunciado tentativas de hacking do exterior, sem nomear países específicos. O Irã, responsável pelas invasões cibernéticas contra a OMS em abril, e a Rússia figuravam, no entanto, na lista de suspeitos.

"Observa-se esses agentes tentando identificar e obter ilegalmente [...] dados sobre vacinas, tratamentos e triagem das redes e do pessoal envolvido na pesquisa Covid-19", resumiu uma declaração emitida no mês passado pelo FBI e pela Cybersecurity and Infrastructure Security Agency (CISA).

Corrida à vacina e geopolítica

Se o hacking explodiu no mundo inteiro desde o início da pandemia, não se trata de crime menor: em uma corrida por vacinas que se tornou eminentemente geopolítica, essa ciberespionagem médica pareceria ser um risco calculado para certos países determinados a ter a solução primeiro. Na mesma linha, lembramos que em meados de março a administração Trump tentou negociar a exclusividade de uma possível vacina desenvolvida por uma empresa alemã. 

Embora o roubo de propriedade intelectual esteja muitas vezes envolto em segredo, já conhecemos algumas das entidades visadas por essas tentativas de ciberespionagem: a gigante farmacêutica americana Gilead, a Universidade de Oxford e, mais recentemente, a empresa alemã Bayer. Uma empresa farmacêutica canadense, cujo nome não foi divulgado, também foi vítima de uma invasão informática, revelou a inteligência canadense no final de maio.

E a indústria farmacêutica suíça?

Enquanto várias instituições suíças estão envolvidas na pesquisa da Covid-19, o que dizer da segurança das empresas do setor? Por enquanto, a ameaça parece ainda não ter se materializado. "Não estamos observando um aumento nos ataques cibernéticos", diz a porta-voz da Roche, Nathalie Meetz, "mas eles estão constantemente acontecendo e evoluindo. Muitos de nossos funcionários de TI estão trabalhando para construir sistemas mais seguros. A empresa de Basileia produz, entre outras coisas, o Actemra, um medicamento que pode tratar pneumonias graves causadas pela Covid-19.

Uma observação semelhante pode ser feita no departamento de imunologia do Inselspital em Berna, onde o Professor Martin Bachmann está trabalhando em uma futura vacina contra o coronavírus. Embora ele esteja colaborando com a Universidade de Oxford, uma das instituições que recentemente sofreu um ataque cibernético, ele diz não ter observado nada de anormal até o momento. A gigante americana Johnson & Johnson, com filiais em vários cantões e que também está trabalhando em um projeto de vacina, não quis comentar sobre a questão da ciberespionagem.

Por outro lado, na Novartis, "tem havido um aumento nas tentativas de spear phishing, mencionando o vírus", diz Satoshi Sugimoto, chefe de comunicações. Este processo consiste em utilizar e-mails fraudulentos para enganar um usuário e obter acesso ao seu computador. No entanto, ele observa que este é o caso de "muitas outras empresas": como as autoridades federais apontaram recentemente, os hackers estão atualmente aproveitando os medos em torno da Covid-19 para tentar atrair os usuários da internet de forma mais eficaz.

Abordagem preventiva suíça

A Confederação Suíça está de olho: "O Centro Nacional de Segurança Cibernética (NCSC) está em contato regular com instituições de pesquisa e universidades, independentemente da crise da Covid-19", diz Pascal Lamia, diretor do Centro de Relatórios e Análises para Garantia da Informação (MELANI).

"Estas organizações, assim como outros operadores de infraestruturas críticas na Suíça, recebem regularmente informações sobre a situação atual no que diz respeito às ameaças cibernéticas", acrescenta ele. Em particular, ele ressalta que a MELANI "publicou uma diretiva sobre teletrabalho durante a crise do coronavírus".

A questão da ciberespionagem industrial e científica estrangeira, entretanto, é mais da competência do Serviço Federal de Inteligência (SRC, iniciais em francês). Pascal Lamia menciona a este respeito o programa de prevenção Prophylax, que a SRC "vem conduzindo há vários anos com empresas e universidades suíças" que são propícias ao roubo de dados sensíveis. Em uma brochura publicada em 2019 como parte do Prophylax, a SRC alertou essas entidades para os riscos da ciberespionagem.

Enquanto a busca de uma vacina contra a Covid-19 ainda pode levar muitos meses, agências de segurança nacional nos EUA, Reino Unido e Canadá, entre outras, assumiram a liderança: elas agora estão trabalhando diretamente com laboratórios para ajudá-los ativamente a se proteger contra hackers estrangeiros. A Novartis e o Departamento de Imunologia da Inselspital informam que ainda não foram contatados pelas autoridades federais a este respeito.

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