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Brasil e China ocupam praça financeira suíça

O banco inglês Lloyds passou seu setor de "private banking" internacional, em 2013, para o gerente de patrimônio suíço Union Bancaire Privée. Keystone

O setor bancário estrangeiro que opera na Suíça foi atingido por uma onda de dissolução e fusão nos últimos anos, dando lugar à implantação no país de instituições financeiras da China e do Brasil.


O número de bancos estrangeiros na Suíça diminuiu de 162, em seu auge em 2009, para121 no final de maio deste ano, com bancos como Lloyds, ABN Amro, Santander e ING fazendo as malas para deixar a praça financeira do país.

A tendência continuou em julho, com a venda do banco israelense Bank Leumi para o suíço Julius Baer e o anúncio de uma mudança de mãos no português Espirito Santo. Além desses, o banco inglês Standard Chartered também procura um comprador para suas operações na Suíça.

A diminuição do número de bancos estrangeiros na Suíça não leva em conta que várias instituições no exterior estão diminuindo suas transações na Suíça, como o HSBC, que está vendendo 10 bilhões de francos (11 bilhões de dólares) dos ativos de seus clientes.

A Associação de Bancos Estrangeiros na Suíça (AFBS, na sigla em inglês) espera que os bancos do Brasil, China e Cingapura preencham o espaço deixado pelos bancos europeus e americanos. Alguns sinais começam a confirmar esta previsão.

O grupo Safra, do Brasil, que comprou o banco Sarasin de seus proprietários holandeses em 2011, chegou a um acordo em abril para assumir as operações de private banking na Suíça do gigante americano Morgan Stanley. Em julho o BTG Pactual, também com sede no Brasil, anunciou assumir as operações de private banking do italiano BSI.

“Também ouvimos rumores de que bancos chineses e cingapurenses pretendem se instalar aqui”, revela Martin Maurer, secretário-geral da AFBS. “Alguns bancos das economias emergentes já atingiram o tamanho que lhes permite expandir para novos mercados. A Suíça é um lugar atraente para aqueles que querem diversificar suas operações em private banking”.

Dúvidas

A especulação da chegada dos bancos chineses à Suíça recebeu um impulso adicional com o recente acordo cambial entre a Suíça e o banco central da China. O próximo passo para as ambições da Suíça de se tornar um centro de negócios em renminbi seria a criação de um banco chinês em solo suíço.

Mas Martin Schilling, diretor de serviços financeiros da PricewaterhouseCoopers suíça, acredita que haverá mais baixas nas instituições financeiras estrangeiras. Schilling acha que a consolidação dos bancos estrangeiros na Suíça foi executada em um ritmo mais rápido do que a dos bancos nacionais.

“Toda a negociação ficou em torno da grande onda de consolidação do setor bancário suíço, mas isso não tem sido o caso”, disse Schilling. “De longe, a maior redução veio dos bancos estrangeiros, com uma concentração além do esperado.”

Os bancos estrangeiros e nacionais da Suíça se encontram atualmente espremidos por três lados: as consequências da crise financeira e o mal-estar econômico consequente que cortou o apetite dos mercados e da clientela; a cruzada mundial contra a evasão fiscal, que criou uma confusão de problemas legais, e o custo da implementação dos novos regulamentos para reduzir os riscos para a economia.

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Bancos suíços

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Dificuldades externas

Os bancos estrangeiros na Suíça parecem ser particularmente afetados por essas condições adversas. Alguns simplesmente pagaram o preço por terem usado o sigilo bancário para fornecer um cofre na Suíça para os ativos não declarados das fraudes fiscais offshore.

A filial do banco Leumi de Zurique é um dos 14 estabelecimentos bancários investigados pela justiça americana por, supostamente, terem ajudado sonegadores dos EUA.

Outros bancos foram obrigados a vender suas atividades no país por causa da queda de seus lucros, causada por condições comerciais adversas. O banco português Espirito Santo parece estar preso entre duas cadeiras, sofrendo tanto dos maus resultados, quanto da prisão do fundador do banco Ricardo Espírito Santo Silva Salgado, como parte de uma investigação de evasão fiscal.

Mas, segundo Martin Schilling, o principal motivo de tantos bancos estrangeiros estarem reduzindo suas atividades na Suíça é devido ao tamanho relativamente pequeno de suas operações no país.

“Com o aumento das pressões regulatórias e econômicas, alguns grupos financeiros internacionais decidiram abandonar os investimentos não considerados como operações fundamentais”, disse para swissinfo.ch.

Mudança de paisagem

A crise financeira mundial obrigou todos os bancos a recuar e reavaliar suas estratégias. Confrontado com queda dos lucros (e, muitas vezes perdas consideráveis) e exigências de órgãos reguladores para melhor controle de risco com maiores reservas de capital, muitas multinacionais foram obrigadas a cortar as operações que se distanciavam de seus negócios e que não geravam receitas suficientes para justificar a sua existência.

A isso se acrescenta ainda os potenciais perigos legais e de reputação ligados à evasão fiscal que vêm tornando alguns pequenos escritórios de private banking na Suíça um luxo exorbitante.

Mas Martin Maurer está convencido de que o setor de bancos estrangeiros na Suíça deve se estabilizar e começar a florescer novamente no futuro.

“Se você olhar só para a tendência de consolidação ao longo dos últimos dois anos, você pode chegar à conclusão de que não haverá bancos estrangeiros na Suíça no prazo de cinco anos, mas isso simplesmente não é o caso”, disse.

“Com certeza, haverá menos bancos estrangeiros do que no passado, mas eles vão ser maiores e de diferentes regiões geográficas.”

Bancos árabes

De acordo com o consultor financeiro árabe radicado na Suíça Nasri Mulhamé, os bancos árabes, que se concentram principalmente na gestão de fortunas, não foram afetados pelos escândalos de evasão fiscal que comprometeram vários bancos no país.

“Os clientes árabes não estão aqui para evitar pagar impostos, já que as taxas de impostos são geralmente muito baixas ou inexistentes em seus países de origem”, disse o ex-diretor do Arab Bank de Genebra.

“Eles procuram principalmente a estabilidade política da Suíça. Se você está procurando um refúgio seguro para seus ativos durante períodos de incerteza, a Suíça continua sendo o destino número um.”

Além disso, Genebra é um destino tradicional para os árabes ricos, devido aos altos padrões de vida e sua crescente importância como centro de negócio de commodities.

A tendência começou na década de 1970, quando o petróleo começou a fluir no Oriente Médio, mas a região não tinha um sistema financeiro muito desenvolvido.

Adaptação: Fernando Hirschy

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