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Como alimentar o mundo inteiro sem destruir o planeta

Sojafelder
Colheita da soja em Tangara da Serra, Brasil. Keystone / Andre Penner

A Organização das Nações Unidas (ONU) está tentando resolver o dilema entre proteger o clima e combater a fome no mundo. Uma cúpula está prevista para setembro, mas dificilmente trará resultados concretos, criticam as ONGs e pesquisadores. A influência das grandes empresas é muito grande.

De acordo com a ONU, 815 milhões de pessoas passam fome no mundo inteiro. A crescente população do hemisfério sul precisa de cada vez mais alimentos. Assim, os rendimentos agrícolas devem aumentar. Para isso, tem-se utilizado mais fertilizantes e pesticidas, por exemplo, e ampliado as terras aráveis através do desmatamento das florestas.

Essas práticas, no entanto, têm um impacto negativo sobre o clima e o meio ambiente, o que por sua vez leva à seca e à fome, como é atualmente o caso em Madagascar.

Cúpula sobre sistemas alimentares

O que se deve mudar na agricultura e na alimentação para combater a pobreza e a fome e, ao mesmo tempo, proteger o clima e a biodiversidade? De acordo com o secretário-geral da ONU, António Guterres, é necessário mudar os sistemas alimentares globais.

Em colaboração com o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), a ONU está organizando a quarta grande cúpula sobre sistemas alimentares, programada para ser realizada em setembro, na cidade de Nova York. O objetivo do encontro é responder à questão de como alimentar a crescente população mundial, levando em consideração a mudança climática. Uma pré-cúpula acaba de ser realizada nesta semana em Roma (26-28 de julho).

Protestos contra a cúpula

ONGs como a Public EyeLink externo e a SwissaidLink externo criticam a cúpula. Para elas, as grandes empresas agroalimentares têm muita influênciaLink externo e estão cada vez mais envolvidas nos processos da ONU.

“A ONU está perdendo sua legitimidade”, diz Simon Degelo, responsável por sementes e biodiversidade na Swissaid. “É preocupante que as agências da ONU estejam colocando grande parte dos atuais processos de resolução dos problemas de alimentação mundial nas mãos de empresas que contribuíram para causá-los.”

A cúpula está, assim, enfrentando uma oposição mundial. Cientistas suíços também se juntaram ao boicoteLink externo e diferentes políticos estão questionando criticamente o governo suíço.

“De modo geral, recusar-se a debater um problema não resolve nada”, diz Patrick Dümmler, do laboratório de ideias em economia Avenir Suisse. “Precisamos dialogar para poder examinar um problema de diferentes pontos de vista e encontrar juntos soluções que contemplem todos os atores envolvidos.”

Dümmler certamente não tem como avaliar qual é, exatamente, a influência das grandes empresas na cúpula da ONU, como ele mesmo diz. No entanto, o “fato de que essa acusação vem de diferentes ONGs internacionais não me surpreende. Parece que elas sempre precisam ter adversários com uma imagem negativa, já que isso contribui para sua própria legitimidade”.

O presidente do Conselho Nacional (Câmara Baixa do Parlamento) e especialista em política exterior, Andreas Aebi, do Partido Popular Suíço (UDC, direita conservadora), vê as coisas de uma maneira diferente: “Uma cúpula da ONU pode contribuir significativamente para encontrar uma solução. Na minha experiência como especialista em política exterior, a troca de ideias e o debate entre as partes envolvidas é sempre útil.”

No final, contudo, são os atores nacionais que devem implementar os objetivos e as decisões de uma cúpula. “Parece-me essencial que todos participem em pé de igualdade.”

Adaptação: Clarice Dominguez

Adaptação: Clarice Dominguez

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