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Bancos suíços na linha de mira

Fachada do banco UBS. Keystone

Depois de um ano difícil, os dois maiores bancos da Suíça, o UBS e o Credit Suisse, adotaram estratégias divergentes para minimizar o risco de danificar a economia suíça para se manter competitivo no mercado global.

Ambos os bancos estão na corda bamba, entre um abismo de regulamentações, de um lado, e um abismo de prejuízos e oportunidades perdidas, do outro. Acionistas, concorrentes e governos só esperam a hora certa para atacar.

A partir de meados da década de 1990, os dois rivais convergiram progressivamente para uma estratégia semelhante que drenava capitais de seus redutos consagrados para construir suas divisões de banco de investimento.

Com isso, as duas maiores instituições financeiras da Suíça acabaram caindo na mesma arapuca dos ganhos fáceis que a maioria dos grandes bancos mundiais.

Os últimos quatro anos não ajudaram em nada na reputação dos gigantes suíços. O UBS tem sido assolado por uma série de escândalos de evasão fiscal que acabaram provocando até o fim do sacrossanto sigilo bancário suíço. O golpe de misericórdia pode vir agora após o escândalo da manipulação da taxa Libor e uma série de negociações fraudulentas realizadas por seus colaboradores.

O Credit Suisse também foi implicado, em menor grau, nos dois escândalos, mas tem enfrentado críticas por não ter capitalizado sua vantagem em relação a seu principal rival.

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Separação forçada

O outono europeu de 2012 trouxe uma reviravolta, com novas estratégias que colocam ambos os bancos em um curso futuro diferente.

O UBS anunciou o desmantelamento de suas operações de banco de investimento para se concentrar na gestão de ativos.

Já o Credit Suisse pretende reduzir significativamente o risco dos ativos de investimento, mas continua mantendo todas as linhas do negócio, incluindo aquelas que apostam dinheiro próprio do banco em negócios mais arriscados. A única concessão foi uma reorganização que deu a entender uma possível separação dessas operações de risco do resto do grupo.

A autoridade suíça que supervisiona o mercado financeiro do país, a Finma, se recusou a dizer qual o caminho que ela prefere. No entanto, Mark Branson, responsável do órgão no setor dos bancos, apoiou a emergência de estratégias divergentes.

“De certa forma é estimulante ver que os bancos de investimento mundiais estão tomando decisões mais diferenciadas do que no passado”, disse à swissinfo.ch.

“Uma das lições da crise é que todos os bancos de investimento foram expostos a produtos contaminados. Se você aplica uma estratégia do “eu também” você pode acabar muito exposto quando os mercados se voltam contra você.”

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Bancos suíços

Este conteúdo foi publicado em Sua reportagem nos leva ao coração de um segredo a 7 trilhões de francos suíços. A praça financeira suíça administra um terço dos ativos offshore do mundo, em razão da estabilidade política e uma regulamentação estrita do sigilo bancário. Somente os dois maiores bancos suíços, UBS e Credit Suisse, ocupam a metade desse mercado e…

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Competitividade

A ação dos dois bancos parece ter aplacado o BNS, o banco central suíço. Segundo o vice-presidente da instituição, Jean-Pierre Danthine, a situação teria “melhorado” em ambos os bancos, particularmente no Credit Suisse.

“Ambas as instituições estão planejando expandir ainda mais seu capital de absorção de perdas para reduzir seus riscos e, principalmente, aparar seus balanços, bem como prosseguir uma política de contenção de dividendos”, disse Danthine.

No entanto, o vice-presidente do BNS alerta que os bancos podem sofrer grandes prejuízos se crise europeia piorar.

Os investidores deram um sinal muito claro sobre qual estratégia eles consideram melhor. As ações do UBS dispararam com a notícia do plano radical do banco, enquanto que as do Credit Suisse despencaram após o comunicado do banco.

Como estas instituições enfrentarão seus rivais internacionais ainda é uma incógnita. As regras “Swiss finish”, que entram em vigor em 1° de janeiro, obrigam que UBS e Credit Suisse mantenham reservas de capital muito maior do que o padrão internacional, o que coloca a dupla suíça em desvantagem competitiva.

O acordo Basileia III, que redefine as regras de capital dos bancos para ajudar a reduzir o risco de outra crise financeira, recomendam que os bancos reservem pelo menos 7% do seu capital para cobrir os riscos.

As regras Swiss Finish para os bancos suíços estipulam reservas de 19%.

Volatilidade

A Federação dos Bancos Europeus pediu que a implementação das normas do acordo Basileia III – que entram em vigor em 1° de janeiro de 2013 – fossem adiadas por um ano para dar mais tempo aos bancos para se preparar. Os EUA já anunciaram um atraso de seis meses.

Apesar das normas “Swiss Finish” serem mais exigentes do que o padrão internacional, o fato dos bancos suíços saberem exatamente o que é exigido deles poderia dar-lhes uma vantagem competitiva sobre os rivais internacionais, de acordo com os observadores. Isso pelo menos dá ao UBS e ao Credit Suisse maior certeza sobre o futuro, permitindo colocar suas estratégias em ação.

Ambos os bancos estão no caminho certo para cumprir as exigências da nova regulamentação, embora a estratégia do UBS torne mais fácil para o banco satisfazer os requisitos de capital.

A insistência do Credit Suisse no setor de investimento não surpreende os analistas, já que o banco depende mais desse setor. No entanto, permanecem dúvidas sobre a estratégia do Credit Suisse para liderar os bancos de investimento, dada a volatilidade contínua desse negócio.

Adaptação: Fernando Hirschy

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