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Empresas também sofrem pressões nos preços em casa

Cerca de 10.000 empregos estão em jogo no setor de engenharia mecânica e elétrica. Ex-press

A indústria de exportação da Suíça, além de sitiada pelo franco forte, tem que enfrentar agora a concorrência das empresas estrangeiras que reduzem os preços de seus produtos no mercado suíço.

Muitas empresas suíças que exportam para a zona do euro também se fornecem de peças no mercado interno.

O setor de engenharia mecânica e elétrica está se preparando para uma enxurrada de importações mais baratas dos concorrentes estrangeiros que aproveitam a alta do franco.

A esperada rodada de cortes de preços deve beneficiar compradores – e talvez também consumidores – de tais produtos, o que pode significar mais problemas para as indústrias locais e acelerar ainda mais os cortes de empregos.

Josef Maushart, diretor-executivo da fabricante de ferramentas de precisão Fraisa, soou o alarme em uma reunião da Swissmem, a federação das indústrias da Suíça.

“Este é um problema que não tem muita cobertura”, disse à swissinfo.ch. “Até agora, as empresas importadoras não reduziram muito seus preços. Mas se as taxas de câmbio atuais continuarem assim a longo prazo, elas vão usar isso a seu favor, reduzindo seus preços na Suíça.”

“Talvez tenhamos de começar a reduzir nossos preços na Suíça, como resultado de produtos importados mais baratos”, acrescentou.

Cortes de empregos

Confrontado com a perspectiva de atingir a paridade do franco com o euro, o Banco Central Suíço (BNS, na sigla em francês) fixou uma taxa de câmbio mínima de 1,20 franco por euro em setembro. A taxa tem sido mantida com sucesso, mas os fabricantes nacionais reclamam que ainda não são competitivos no mercado da zona do euro.

O presidente da Swissmem, Hans Hess, acredita que 10 mil empregos estão em jogo, em um setor onde os produtos suíços custam entre 10 a 15% a mais do que os concorrentes nos países europeus.

“Teremos que reduzir essa diferença, seja cortando empregos ou transferindo a produção para países vizinhos – o que também resultaria em uma perda de empregos na Suíça”, disse à swissinfo.ch.

A Fraisa até agora tem evitado cortar empregos, fixando seus custos de compras em 1,34 franco por euro para os contratos de longo prazo. Mas Maushart prevê uma queda de 40% nos lucros em 2012, quando os contratos expiram no final do ano.

Mais da metade desta erosão na margem de lucro pode acontecer no mercado suíço com a queda dos preços. A Fraisa fornece peças para fabricantes de relógio, fabricantes de equipamentos médicos, fabricantes de máquinas e para a indústria da aviação.

Aperto de crédito

Para combater as perdas esperadas, a Fraisa está investindo 20 milhões de dólares em novas tecnologias para tornar a produção mais eficiente. A empresa também tem a alternativa de reduzir a carga horária de alguns dos seus 210 funcionários da Suíça ou transferir mais a produção para a Alemanha ou a Hungria – contingências que quer evitar, se possível.

No entanto, a empresa também pode ser indiretamente atingida pela escassez de crédito, se a crise da dívida europeia piorar. Segundo Maushart, embora a empresa não preveja nenhum problema de crédito na Suíça, os clientes da Europa podem não se sair tão bem.

“Os maiores bancos europeus deverão aumentar o seu patrimônio em relação ao volume de crédito”, disse. “Tememos que os bancos não só aumentem sua base de capital, mas também reduzam os volumes de crédito, tornando mais difícil para os nossos clientes a obtenção de crédito.”

Ajuda estatal

Uma pesquisa feita com membros da Swissmem revelou que 36% das empresas estão se relocalizando por causa do franco suíço forte. Os preços de exportação caíram 4,8% nos primeiros nove meses deste ano para compensar as taxas de câmbio desfavoráveis.

Dois terços das empresas relatam que o franco afetou seriamente seus negócios, em comparação com apenas metade das empresas durante um levantamento realizado em fevereiro.

A federação vem pressionando o BNS para que enfraqueça mais a moeda suíça e o governo para que inicie os incentivos de longo prazo, tais como cortes de impostos e maior liberalização do setor energético do país.

Hess negou que o setor privado esteja pedindo ajuda do Estado, mas sim algum tempo para respirar.

“Se os problemas que estamos enfrentando fossem de velha data, poderia entender a crítica sobre as empresas pedindo ajuda”, argumenta Hess. “Mas o que temos assistido é consequência de um reforço significativo e imprevisto do franco.”

“Tudo o que pedimos é que o governo crie um quadro que nos dê tempo suficiente para resolver esses problemas”, acrescentou.

Uma pesquisa da Swissmem realizada com 280 empresas (que representam 28% dos membros do grupo) constatou que mais de um terço delas estão tendo prejuízos por causa do franco forte.

Mais da metade das entrevistadas disseram que as margens tinham sido corroídas em pelo menos 6% – o que é visto como um ponto perigoso pela indústria.

Dois terços das empresas disseram que seus negócios haviam sido “seriamente afetados” pelo franco forte.

Nem tudo é dor e desgraça, com um aumento de 3,9% nas vendas nos primeiros nove meses de 2011 mais um aumento de 6,4% em novos pedidos.

Mas um terço das empresas esperam uma queda dos pedidos em breve.

Cerca de 17% das empresas já haviam suprimido postos de trabalho e outras 28% dizendo que planejam fazê-lo em breve.

As empresas que fazem parte da Swissmem exportam 80% de seus bens, dois terços para a União Europeia e um quinto para os Estados Unidos.

Adaptação: Fernando Hirschy

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