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Investimentos, ação ambiental e produtos apreendidos

Centro de pesquisa em cultivos da Syngenta no Chile, inaugurado em 2009. Syngenta

Uma das maiores empresas transnacionais de origem suíça, a Syngenta tem presença marcante na América Latina e, em particular, no Brasil.

Volta e meia, o nome da empresa ganha as manchetes dos jornais brasileiros, seja por seus êxitos e inovações tecnológicas, seja por questões polêmicas que provocam críticas dos movimentos sociais e ações punitivas de órgãos do governo federal.

Fiel a si mesma, a Syngenta voltou nas últimas semanas a atrair a atenção da imprensa e da sociedade, por motivos distintos. De um lado, a empresa suíça inaugura novas instalações, anuncia novos investimentos e atua na vanguarda ambiental ao participar do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). De outro, tem que enfrentar nova denúncia, desta vez por conta da apreensão de um milhão de litros de agrotóxicos em situação irregular em uma de suas unidades.

Às vésperas da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que acontecerá em Copenhague, a atuação do CEBDS tem sido importante na definição da posição que será levada pelo governo brasileiro ao evento.

A participação no Conselho, que apresentou cinco propostas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é ressaltada pela direção da empresa: “É importante lembrar que o impacto da mudança climática na agricultura cria novos desafios e oportunidades para a Syngenta”.

Em entrevista exclusiva à swissinfo.ch, a direção (*) da empresa explica sua atuação ambiental: “Ajudamos nossos clientes a se adaptarem aos padrões dinâmicos da agricultura e apoiamos seus esforços de reduzir a emissão de gases de efeito estufa resultantes da agricultura. A Syngenta também está tornando suas operações mais eficientes energeticamente e encorajando seus fornecedores e outros integrantes de toda a cadeia de valor a fazer o mesmo”.

Segundo a Syngenta, “aumentar a produtividade da agricultura nas fazendas existentes pode ajudar a atender à demanda crescente por alimentos sem utilizar áreas de florestas e terras não cultivadas, que armazenam grandes quantidades de carbono”. Outro potencial da agricultura, de acordo com a direção da empresa, é “reduzir os gases de efeito estufa produzindo safras para biocombustíveis, uma alternativa com menor taxa de carbono do que os combustíveis fósseis”.

Apreensão de agrotóxicos

A publicidade espontânea positiva conseguida pela Syngenta com sua participação no CEBDS, no entanto, foi ofuscada pela presença do nome da empresa em uma notícia criminal. Em outubro, agentes da Policia Federal e fiscais da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apreenderam cerca de um milhão de litros de agrotóxicos na fábrica da Syngenta em Paulínia (SP). Segundo a Anvisa, os produtos estavam adulterados ou em situação irregular.

Em nota, a Anvisa afirma que a Syngenta “também foi autuada por destruição total das etiquetas de identificação de lote, data de fabricação e de validade do agrotóxico Flumetralin Técnico Syngenta, igualmente interditado. Vários lotes do mesmo produto também foram interditados por apresentarem certificado de controle de impurezas sem assinatura, data da sua realização ou com data de realização anterior à produção do lote analisado”.

Segundo a Anvisa, “o controle de impurezas toxicologicamente relevantes no Flumetralin Técnico é obrigatório uma vez que tais impurezas são reconhecidamente carcinogênicas e capazes de provocar desregulação hormonal. Também foram interditados todos os lotes do produto PrimePlus, formulados com os lotes interditados do Flumetralin Técnico”.

Outro produto técnico interditado por conta de um certificado de análise insatisfatório (sem assinatura e sem a quantidade real de ingrediente ativo) foi o Score Técnico, de acordo com a Anvisa. Além disso, o agrotóxico Verdadeiro 600 teve suas embalagens interditadas por “confundir o agricultor quanto ao perigo do produto”.

A Syngenta foi autuada ainda por venda irregular do agrotóxico Acarmate (Cihexatina). A fiscalização identificou que o produto, com venda restrita ao estado de São Paulo, era comercializado para outros estados.

“Pendências atendidas”

A direção da Syngenta afirma que, durante o período da fiscalização, as solicitações feitas pela equipe da Anvisa foram atendidas: “Algumas questões foram identificadas ao longo da fiscalização, e estão sendo avaliadas pela Syngenta. Em uma segunda ocasião, a Anvisa retornou às instalações em Paulínia para a continuidade do processo de fiscalização de rotina, por solicitação da própria Syngenta. O objetivo foi verificar as medidas tomadas pela empresa para atender a determinadas exigências feitas pelo órgão. E estas pendências verificadas foram plenamente atendidas”.

“A companhia já está providenciando a adequação, ou a defesa, pertinentes, de acordo com o caso. Tomamos todas as providências necessárias para assegurarmos que não haja prejuízos aos nossos distribuidores e milhares de clientes, agricultores que dependem de nossos produtos para o desenvolvimento de suas atividades”, afirma a Syngenta.

A Anvisa determinou que a Syngenta efetue “alterações no sistema informatizado que possui, de modo que seja possível controlar efetivamente, lote a lote, a quantidade dos componentes utilizados nos Produtos Formulados”.

A empresa está sujeita a nova fiscalização em 30 dias para verificação do cumprimento das condições estabelecidas na notificação, e as infrações encontradas podem resultar na aplicação de multas de até R$1,5 milhão, além do cancelamento dos informes de avaliação toxicológica dos agrotóxicos em que foram identificadas tais irregularidades.

Syingenta quer provar legalidade

A Anvisa afirma que, em caso de descoberta de outras infrações além das administrativas, encaminhará uma representação à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal para a abertura de uma possível investigação criminal contra a Syngenta.

A intenção da empresa agora é provar a legalidade de sua atuação na unidade paulista: “Reafirmamos que seguir os mais altos padrões de segurança, saúde e de proteção ao meio ambiente, bem como manter condições adequadas de trabalho são prioridades para a Syngenta. A fábrica de Paulínia possui, inclusive, certificação ISO 9001 desde 1996. Todos os produtos de proteção de cultivos da companhia são testados exaustivamente antes de sua disponibilidade ao mercado, de forma a garantir essas condições e o total atendimento à legislação e às normas regulatórias vigentes”.

Maurício Thuswohl, swissinfo.ch, Rio de Janeiro

(*) nota: a assessoria de imprensa da Syngenta não quis indicar o nome da pessoa da direção da empresa que fez as declarações

A direção da Syngenta afirma que está investindo em sua expansão no Brasil, onde pretende aumentar sua capacidade na Região Sul e construir novas instalações na Região Centro-Oeste.

Em 2008, a empresa suíça investiu em todo o mundo US$ 969 milhões em pesquisa e desenvolvimento: “Entre os 24 mil profissionais da Syngenta em todo o mundo, quatro mil estão alocados nos diversos centros de pesquisa”.

O crescimento da Syngenta acontece em toda a América Latina. Em junho, a empresa inaugurou no Chile o Centro de Pesquisa de Cultivos Arica, que recebeu investimentos de US$ 20 milhões: “O centro representa uma experiência pioneira para a agricultura de alta tecnologia”, afirma a direção da empresa no Brasil, que pretende “aplicar procedimentos inovadores” na nova unidade chilena.

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