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Cotas não interessam economia suíça

Keystone

Com a União Europeia prestes a impor cotas de gênero para a direção de empresas, a questão de como lidar com a falta de mulheres em postos de direção volta a ser discutida na Suíça.

As empresas europeias podem passar a ser obrigadas a ter mais mulheres em seus conselhos, com uma meta de 40% até 2020, segundo as regras propostas pela Comissão Europeia no início deste mês.

Em 2010, apenas 4% dos altos cargos executivos da Suíça eram ocupados por mulheres, e as mulheres representavam 8,3% dos quadros das empresas. Esses números não mudaram muito em mais de uma década, de acordo com a Secretaria de Estado da Economia da Suíça (Seco).

No ano passado a Seco emitiu um código de boas práticas para encorajar as empresas a nomear mais mulheres para cargos de direção, mas Heliane Canepa, primeira mulher presidente-executiva de uma das 100 empresas SMI (Índice de Mercado Suíço), diz que não há mais tempo para ações voluntárias .

“Dez anos atrás, tivemos a mesma discussão e as empresas juraram que iriam melhorar. Elas introduziram uma série de programas para mulheres e houve muita conversa. Mas essas empresas ainda não têm mulheres no topo”, disse à swissinfo.ch.

Diversidade

A associação das empresas suíças (economiesuisse) rejeita a ideia de cotas, preferindo incentivar metas internas nas empresas, apoiadas pela promoção de práticas trabalhistas favoráveis à família.

“Do ponto de vista dos negócios, cotas rígidas legais são a resposta errada para a sub-representação de mulheres nos conselhos”, disse à swissinfo.ch Meinrad Vetter, um dos responsáveis pelas questões de concorrência e regulamentação da organização.

As cotas da UE não se aplicariam à Suíça, que não está sujeita às leis da UE, a menos que um acordo bilateral seja elaborado sobre a questão. O problema é que a Suíça está sendo cada vez mais pressionada a se adaptar às normas da UE.

As versões anteriores do plano da UE tinham incluído um mínimo obrigatório de 40% de mulheres em conselhos não executivos até 2020. Mas isso já foi alterado para dar prioridade às mulheres igualmente qualificadas.

Mas isso também é problemático, de acordo com Vetter. “Parece muito fácil, mas na prática não é. Diversidade é a chave para um conselho de administração e a diversidade inclui não apenas o sexo, mas também a mistura de nacionalidades, a experiência, educação e assim por diante”.

Vetter acredita que o desequilíbrio será corrigido naturalmente com o tempo. “Eu acho que é do interesse de cada empresa ter mulheres em seus quadros e por isso não é necessário obriga-las”.

Benefício feminino

O benefício da participação feminina nas empresas foi demonstrado em um recente estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas do Credit Suisse.

As ações das empresas com pelo menos uma mulher no conselho de administração ficaram 26% acima das empresas que só contam com homens em seus conselhos.

No entanto, ainda há uma falta de vontade política em introduzir cotas de gênero na Suíça. No ano passado, a Câmara dos Deputados rejeitou uma moção pedindo cotas de gênero nos conselhos das empresas por 102 votos contra 57.

A luta continua em um nível regional. Christine Thommen, do Partido Radical de Schaffhausen (norte), apresentou uma proposta de cota de 35% para as mulheres na administração pública da cidade.

“Eu não acho que seja a solução ideal, mas alguma coisa tem que ser feita. Já tem tempo que as mulheres estão aí, com boa formação, mas até agora nada mudou nos altos postos”, disse à swissinfo.ch.

Impulso

Heliane Canepa acha que o sistema de cotas deve ser só temporário, até que o impulso para a promoção das mulheres seja estabelecido. “No momento, só as supermulheres conseguem se destacar. Isso também tem que ser possível para as mulheres normais”.

A participação feminina na força de trabalho é alta na Suíça, mas as mulheres tendem a interromper a carreira e são mais propensos a trabalhar a tempo parcial, muitas vezes por causa de compromissos familiares.

De acordo com a Secretaria Federal de Estatísticas, 57,8% das mulheres que trabalham têm empregos a tempo parcial em comparação com 13,6% dos homens.

Muitas escolas suíças ainda tem uma pausa para o almoço de duas horas, durante a qual as crianças vão para casa para comer, criando um ônus organizacional significativo para os pais que trabalham.

Para Meinrad Vetter, estes são alguns aspectos práticos que precisam mudar, junto com mudanças na cultura corporativa. “As empresas precisam promover arranjos para as família, oferecendo creche, horário flexível e oportunidades de trabalhar em casa”.

As regras propostas pela Comissão Europeia se aplicam aos cargos não-executivos de empresas de capital aberto com mais de 250 funcionários, onde a Comissão estima que as mulheres representam menos de 15% dos cargos.

Os países da UE estão divididos sobre a questão, com duas das maiores economias do bloco – Grã-Bretanha e Alemanha – dizendo que não querem cotas obrigatórias impostas pela UE.

A Noruega, que não é membro da União Europeia, impôs uma cota de 40% para os quadros não-executivos em 2003, uma meta que foi alcançada em 2009. As empresas norueguesas podem ser fechadas se não atingirem a meta.

A Universidade George Washington, com o apoio da Embaixada dos EUA em Berna, realizou um estudo, em 2011, com 1100 profissionais com experiência de trabalho na Suíça. 85% dos entrevistados eram mulheres. 70% tinham nível superior.
 
Destaques:
 
89% dos homens e 54% das mulheres rejeitam um sistema de cotas para colocar mulheres nos conselhos de administração.

73% das mulheres dizem que há barreiras para as mulheres que avançam na gestão superior na Suíça.

(61% dos homens discordam)
  
89% das mulheres e dois terços dos homens dizem que ter filhos afeta negativamente a carreira de uma mulher.
 
86% dos entrevistados dizem que os horários escolares devem ser alterados para atender os pais que trabalham.

Adaptação: Fernando Hirschy

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