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Com as cores do Brasil nos pés

O francês Gerard Mandrea, fundador da Não do Brasil. Não

Como o arquiteto e empreendedor Gerard Mandrea criou a Não do Brasil, uma empresa francesa que produz sapatos no Brasil e os vende mundo afora, inclusive em Zurique.

Era uma vez Adilson, um garoto pobre nos confins de Minas Gerais, Brasil, que andava sempre descalço. Toda vez que pedia para sua mãe comprar um simples par de sapatos, recebia como resposta: Não. A mãe não tinha condições financeiras para tal aquisição. O pequeno Adilson começou, então, a fabricar seus próprios sapatos usando restos de material que recuperava nos bairros pobres de Belo Horizonte.

Essa é a legenda por trás da Não do Brasil (o Não vem do fato de a mãe de Adilson sempre dizer Não aos seus pedidos), uma marca de sapatos fundada em 2010 pelo empresário francês Gerard Mandrea, 65 anos, e que já conta com uma loja em Zurique e um total de 20 lojas espalhadas pela Europa, Oriente Médio e Ásia. Brevemente uma nova loja deve ser inaugurada em Manila, Filipinas.  

Cores e materiais

O interesse do arquiteto e empresário francês pelas cores e materiais brasileiros começou nas décadas de 80 e 90 quando visitava o país para participar de competições automobilísticas. Mandrea é um apaixonado por ralis.

Com o tempo, a ideia de levar as cores e materiais do Brasil para a França foi tomando forma. Em 2010, o empresário inaugurou a primeira loja da marca Não do Brasil em Juan-les-Pins, sudeste da França, na Costa Azul.

Além de usar e abusar da combinação de cores, mais de 70% do material utilizado na produção dos sapatos é de origem reciclável. Os sapatos, desenhados por Mandrea, são feitos à mão. Por isso, cada modelo é praticamente único.

Até o final do ano passado, a Não do Brasil trabalhava com três empresas subcontratadas em Belo Horizonte. Nos primeiros meses de 2014, está prevista a inauguração de uma fábrica própria em Nova Serrana, Minas Gerais.

Nova Serrana é considerada a capital nacional do calçado esportivo. Localizada no centro-oeste mineiro, a cidade conta com aproximadamente 850 empresas calçadistas e uma produção média anual de 110 milhões de pares.

Não

Regiões carentes

De acordo com Lamar Hawkins, proprietário da loja em Zurique, as linhas de produção estão localizadas em regiões mais carentes do estado de Minas Gerais.  “Por isso, fazemos questão de treinar nossos colaboradores e oferecer um esquema de trabalho sério, gerar oportunidade a essas pessoas,” explica Hawkins. Na loja em Zurique uma tela expõe ao longo do dia algumas imagens da produção no Brasil.

Hawkins ressalta que o projeto da Não do Brasil está focado não apenas na produção de sapatos coloridos, confortáveis e divertidos made in Brazil a serem vendidos aos europeus, mas na consciência ecológica e social que envolve todo o processo. “Tenho orgulho em dizer que estou ajudando a vender um produto que eu uso e em que acredito”, afirma o empreendedor.

Aos poucos, o empreendimento parece estar ganhando novos adeptos. Além das novas lojas que vêm sendo inauguradas, desde novembro de 2012 a empresa conta com o suporte de novos investidores da Arábia Saudita. 

Do outro lado do balcão, os consumidores também tem mostrado interesse. Hawkins explica que um terço dos clientes de Zurique são turistas – a loja fica em Niederdorf, centro histórico e região que reuni bares, restaurantes,  lojas e que, portanto, atrai turistas. O restante é composto por consumidores locais. “Servimos clientes que vão dos 4 meses ao 88, 90 anos de idade”, afirma.

Divulgar produto e conceito

As lojas são coloridas, chamam atenção. “Depois há o argumento Brasil como referência e assim iniciamos a conversa com o consumidor, apresentamos o produto e o conceito”, explica o empreendedor. Hawkins diz que tem o objetivo de abrir nos próximos anos lojas ainda em Genebra e Basileia, e avalia também a possibilidade de trabalhar com lojas temporárias (pop-up shops) em St. Moritz, Interlaken e Lucerna.

Sobre as vendas, os empreendedores se recusam a dar números. Segundo Hawkins, o objetivo é divulgar não apenas o produto, mas o conceito que permeia todo o  processo de produção dos sapatos. “Nosso lema agora é comunicação, comunicação e comunicação”, diz. E com tal estratégia, esperam, pouco a pouco, conquistar um lugar no concorrido e agressivo mercado de varejo.

Fundador: Gerard Mandrea

Primeira loja: 2010 em Juan-les-Pins, França

Atualmente: 20 lojas na Europa, Oriente Médio e Ásia

Zurique: loja inaugurada em setembro de 2012. A operação conta com 4 pessoas

Produção: 3 empresas subcontratadas no Brasil

Primeira fábrica própria no Brasil: janeiro de 2014

Os sapatos não são vendidos no Brasil.

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