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O Brasil na berlinda

Apresentação de dados do Brasil em Zurique. Dalen Jacomino, swissinfo.ch

Empreendedores suíços e especialistas em mercado brasileiro se reúnem para discutir as oportunidades e desafios de fazer negócios no Brasil.

Enquanto a Europa se desdobra para enfrentar um período de forte retração econômica, o Brasil avança e deve assumir até o final do ano o posto de 5ª potência mundial (PIB).  Para as empresas suíças, que tiveram suas exportações  para Europa reduzidas em função da crise e da consequente valorização do Franco frente ao Euro, o Brasil passa a ganhar ainda mais visibilidade e prioridade.

“O Brasil é um dos mais países mais interessantes para se fazer negócios atualmente”,  defendeu Kevin Hogan, CEO Global Life do grupo Zurich Seguros. Kevin Hogan foi um dos palestrantes do Brazil Forum 2012, que aconteceu quinta-feira, dia 4 de outubro em Zurique. 

 O objetivo era discutir as oportunidades e os desafios de se fazer negócios com o Brasil e também com os outros países da América do Sul, em particular os do Mercosul. O evento, organizado pela Câmara de Comércio Latino Americana (Latcam), pela Swisscam Brasil e pela Swiss Export  contou com a presença de personalidades do mundo da política, como o embaixador do Brasil na Suíça, Igor Kipman,  e do mundo do negócios, como Kevin Hogan, Zurich Seguros, Hanspeter Weilenmann, diretor comercial da empresa Bühler AG, e Annette Heimlicher, CEO da Contrinex AG, empresa fabricante de sensores para uso industrial.

Relações lucrativas

O Brasil é o mais importante parceiro comercial da Suíca na América Latina, reponsável por 40% dos negócios.  A Suíça, por sua vez, é o 20º mais importante parceiro econômico do Brasil, de acordo com dados publicados pela Swisscam, a Câmara de Comércio Suíço-Brasileira.

Ao longo dos últimos anos, a relação vem se intensificando. Na última década, o crescimento do comércio bilateral entre os dois países foi de 300% (dado publicado pela Swisscam).

Em solo brasileiro estão presentes atualmente cerca de 350 empresas suíças, que  empregam mais de 90.000 profissionais e faturam anualmente mais de USD 10 bilhões.  Primeiramente as grandes multinacionais suíças, como Nestlé, Novartis e Syngenta, é que se propuseram a desbravar o mercado brasilero.  As médias e pequenas empresas, com produtos de alta tecnologia ou de nicho, têm se interessado cada vez mais pelo mercado brasileiro.

Mesmo atuando em setores diferentes e desenvolvendo negócios em regiões diversas do país, uma convicção é dividida pela maioria dos participantes do Brazil Forum 2012: o Brasil oferece, sim, muitas oportunidades. O país possui o 6º maior PIB do  mundo (pode assumir a 5ª posição em breve), tem experimentado uma forte mobilidade social (só em 2010, 31 milhões de brasileiros ascenderam socialmente; desse total, cerca de 19 milhões saíram das classes D/E e entraram para classe média, a classe C), apresenta  um baixo nível de desemprego e uma taxa de juros em queda.  “O Brasil tem uma cultura de negócios espetacular e é um país muito dinâmico”, disse Hogan.

Mas, por outro lado, é necessário haver muita paciência e preparo por parte daqueles quem desejam desbravar tal mercado, principalmente  as pequenas e médias empresas, que tem pouco histórico de relacionamento  com o mercado brasileiro.  Segundo relatório “Doing Business” do Banco Mundial, que availia o ambiente de negócios em 183 países, o Brasil ocupa a 126ª posição, atrás de economias como Paquistão e Nepal. 

Tal posicionamento é resultado da burocracia, da falta de infra-estrutura, do complexo sistema fiscal e do protecionismo viginte no país. Muitos dos executivos presentes no Brazil Forum 2012 também reclamaram do fato de, em alguns casos, se depararem com parceiros de negócios pouco sérios, o que acaba gerando um clima de desconfiança, mais um fator complicador.

A fim de encontrar soluções mais eficientes, principalmente ligadas à taxação das empresas suíças no Brasil, as equipes dos dois governos têm estimulado o diálogo. Para o final deste mês está planejada mais uma reunião de representantes dos governos da  Suíça  e do Brasil em Brasília.

“O Brasil e a Suíça já têm um longo e sólido relacionamento,  temos agora que continuar a criar as condições necessárias para gerar ainda mais negócios. Temos que tirar algumas travas”, afirmou Igor Kipman,  embaixador do Brasil na Suíça. “Além disso, temos que promover o intercâmbio cultural. Mostrar a face criativa, produtiva e inovadora do Brasil.”

Fatores que complicam

Das experiências vividas pelos empreendedores e executivos suíços bem-sucedidos em seus negócios no Brasil surgem lições relevantes: muito preparo e consciência de que a burocracia existe. “É preciso aceitar e encarar as diversas etapas  buscando a ajuda de profissionais que possam tornar os processos mais rápidos e efiecientes”, disse Hanspeter Weilenmann, diretor comercial da Bühler AG, especialista e parceira tecnológica mundial para instalações e serviços de processamento de grãos e alimentos, com 190 funcionários e 16 trainees no Brasil.

Para a CEO da Contrinex, Annette Heimlicher,  falar a lingua local é extremamente importante. Faz muita diferença para o negócio. A produtora de sensores com sede em Givisiez emprega 15 funcionários no Brasil e continua em busca de talentos locais.

“Entenda muito bem o sistema fiscal, conheça bem as regras de taxação, caso contrário a surpresa pode ser bem desagradável”, afirmou Dominik Keller, Head de Frete Aereo e Marítimo da empresa VIA MAT Group.  Como um dos membros da platéia do evento  ressaltou: “um bom chefe de finanças e advogado de primeira linha são fundamentais para quem quer fazer negócios no Brasil”.

Nem é preciso falar que os aspectos humanos e de relacionamento também fazem toda a diferença. Os profissionais que têm uma visão mais aberta e informal tendem a ter mais facilidade de se comunicar e estabelecer relações no país.  Nesse caso, tanto para os negócios como para os relacionamentos a palavra chave para quem quer operar no Brasil é jogo de cintura. 

As relações comerciais entre Europa e Suíça têm perdido o vigor em função da crise financeira. Em 2008, 61% das exportações suíças se dirigiam à União Européia. Em 2011, esse número caiu para 57%. E a tendência para 2012 não é diferente. Já nos primeiros seis meses de 2012 as exportações para o mercado europeu registraram queda de 4,1% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com Eidgenössische Zollverwaltung (EZV), a Administração Federal das Alfândegas.  

A saída para a Suíça tem sido diversificar. Em 2011 a Suíça exportou para os principais países emergentes o dobro do que importou. As exportações para Asia cresceram 1,7% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, para os Estados Unidos subiram 10,4%, para a América Latina o crescimento foi de 9,1%,  Africa registrou aumento de 4,2% e Oceania, 4,1%.

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