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Recuperação à vista para os bancos estrangeiros

O centro financeiro do Ticino foi um dos principais atingidos. Ti-Press/Gabriele Putzu

Para os bancos estrangeiros na Suíça, 2010 foi o ano da virada do setor, apesar da deterioração nas relações com a Itália, as anistias fiscais e os dados roubados ainda estarem causando estragos.

Os 153 bancos que compõem o setor também estão de cara fechada por causa da redução de suas margens, provocada pela queda das taxas de juros e pela alta do franco suíço.

A Associação de Bancos Estrangeiros na Suíça (AFBS) revelou que os lucros aumentaram em 6%, em um total de 1,965 bilhões de francos (2,35 bilhões de dólares), enquanto que as retiradas de ativos por parte dos clientes foram praticamente nulas no ano passado.

Formando quase metade da praça financeira da Suíça e administrando quase 1 trilhão de francos (1,2 trilhão de dólares) de ativos, as instituições estrangeiras são parte importante do mercado financeiro suíço.

Concentrados principalmente na área de “private banking”, vários membros da associação sofreram com as campanhas contra a evasão fiscal promovidas pelos países vizinhos nos últimos dois anos.

Roubo de dados

Em 2009, o ativo líquido mantido em bancos estrangeiros na Suíça diminuiu em 14 bilhões de francos devido à anistia fiscal decretada pelo governo italiano que repatriou os fundos depositados principalmente em Lugano, no cantão do Ticino (sul).

Muitos clientes estrangeiros também se sentiram ameaçados com o número crescente de casos de furto de dados entregues aos governos de fora.

O HSBC, em Genebra, foi uma das maiores vítimas desse tipo de roubo, com dados sendo repassados da França para a Alemanha e, mais recentemente, para a Inglaterra.

Os clientes dos bancos estrangeiros com sede na Suíça continuaram retirando seus depósitos no ano passado, enquanto se arrastava a polêmica em torno da anistia e do roubo de dados, mas os saques não representaram mais do que “míseros” 200 milhões de francos.

De acordo com a AFBS, uma das razões da volta dos investidores ao país foi a alta do franco suíço. Para o presidente da associação, Alfredo Gysi, também diretor-executivo do banco BSI, com sede em Lugano, a região de língua italiana da Suíça também está atraindo mais dinheiro limpo.

O caso Itália

“O Ticino foi particularmente exposto por causa de sua situação geográfica. Passamos por várias anistias fiscais ao longo dos últimos 15 anos, que reduziram a quantidade de ativos italianos depositados no cantão”, disse a swissinfo.ch.

“Mas isso aumentou enormemente o fluxo de ativos offshore declarados o que foi uma mudança positiva. Esse capital vem para a Suíça porque os clientes consideram que os produtos e serviços que recebem dos bancos suíços é melhor do que em seus países de origem.”

O Ticino (sul) continua sofrendo com a deterioração das relações políticas entre a Suíça e a Itália. A Itália é um dos poucos países que continua mantendo a Suíça em sua lista negra de paraísos fiscais e que se recusa a iniciar as negociações sobre um novo acordo de dupla tributação.

“O Ticino está na posição única de fronteira com uma região da Europa [norte da Itália], que tem fortes taxas de crescimento econômico e está nas proximidades de Milão”, disse Gysi. “É fundamental estabelecer um diálogo com a Itália para resolver qualquer problema antes que possamos desenvolver as oportunidades oferecidas por esta posição”.

“A atitude agressiva da Itália com a Suíça complicou a vida das empresas italianas que desejam investir na Suíça. Essa postura, no fim das contas, tem sido mais prejudicial para a Itália”, acrescentou.

Franco suíço forte atrapalha os lucros

A AFBS saudou as iniciativas tomadas em favor dos tratados fiscais individuais com a Alemanha e a Inglaterra, que prometem acabar com a discussão sobre a evasão fiscal, sem comprometer o sigilo bancário suíço.

A associação também notou um recente movimento no parlamento italiano para forçar seu governo a acabar com o congelamento das relações suíço-italianas.

Apesar do franco suíço forte ter ajudado a atrair mais recursos para a Suíça, a alta da moeda também apertou as margens dos bancos estrangeiros, observa a AFBS.

Os ativos europeus depositados na Suíça caíram em 20% nos últimos dois anos, com o dólar também perdendo terreno em relação ao franco.

“A maioria de nossas receitas são em euros ou dólares, enquanto que nossos custos são em francos suíços” explica Gsyi. “Isso teve um efeito negativo sobre as margens.”

Outro fator que rói os lucros desses bancos é a baixa das taxas de juros na Suíça. Os serviços de “private banking”, com foco na segurança e na liquidez, está mais ligado nas taxas de juros para gerar lucros do que o setor de investimentos.

O resultado líquido das atividades de juros dos membros da AFBS caiu de 3,8 bilhões de francos, em 2009, para 3,5 bilhões no ano passado.

Os 153 (155 em 2009) bancos estrangeiros na Suíça compõem 45% do número total de bancos no país.

Pesos pesados, como BSI, Crédit Agricole, HSBC, JP Morgan, Deutsche Bank e LGT Bank são completados por uma gama de bancos menores.

Um em cada cinco bancários na Suíça trabalha em uma instituição estrangeira. O número total de funcionários cresceu 3% em 2010, chegando a 26800.

Os ativos sob gestão caíram em 6% para 910 bilhões de francos em 2010, em grande parte graças às taxas de juros baixas e taxas de câmbio desfavoráveis. Em 2009 esse número foi de 980 bilhões.

Os saques de clientes estrangeiros diminuíram bastante, 200 milhões de francos no ano passado contra 14 bilhões de retiradas em 2009 – ano da anistia fiscal decretada na Itália.

Os bancos estrangeiros pagaram 526 milhões de francos em impostos no ano passado e 640 milhões em 2009.

Adaptação: Fernando Hirschy

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