Perspectivas suíças em 10 idiomas

Suíça, um gigante discreto da robótica

Robot qui pense
Ainda estamos muito longe do robô pensante, mas sabemos como fazer robôs que podem segurar um copo de plástico sem esmagá-lo ou deixá-lo cair no chão com seu conteúdo. EPFL

É aqui que nascem os robôs do futuro, flexíveis, ágeis, colaborativos e tão inteligentes quanto uma máquina pode ser. Visita a um laboratório da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL) e a uma startup que dele surgiu.

Não é um slogan de marketing, mas um fato: em robótica, a Suíça é a campeã mundial. “Se olharmos para os 20 melhores laboratórios do mundo, quase um quarto deles encontra-se na Suíça, embora tenhamos apenas oito milhões de habitantes”, confirma Aude Billard, que dirige o Laboratório de Algoritmos e Sistemas de Aprendizagem (LASA), da EPFL. No primeiro andar de um dos edifícios futuristas do vasto campus, esta pioneira suíça em Inteligência Artificial (IA) e sua equipe fazem os robôs coabitar com os humanos, muitas vezes escrevendo software para os robôs existentes.

Aude Billard
Physicienne de formation, Aude Billard a travaillé au CERN avant de passer à Edimbourg son doctorat en Intelligence artificielle et de prendre un poste de professorat à l’Université de Californie du Sud à Los Angeles. Parallèlement à son poste de professeure à l’EPFL depuis 2003, elle a cofondé trois start-ups, dirige le Réseau thématique suisse en robotique. Elle est aussi active en politique, comme conseillère communale (membre du législatif) de la ville de Lausanne. swissinfo.ch

Pois a Suíça não é, sobretudo, um país que fabrica robôs. Em vez disso, eles vêm de fábricas japonesas, coreanas, chinesas, alemãs ou norte-americanas. Sua força reside, acima de tudo, na pesquisa e nas startups que dela emergem, especialmente em novos materiais, programação e IA. O Fundo Nacional Suíço (FNS), órgão público de apoio à pesquisa, compreendeu bem isso ao lançar em 2010 o Polo Nacional de Pesquisa (PNP) em robótica, que reúne seis universidades e institutos, sob a liderança da EPFL.

Do laboratório à fábrica

Após 12 anos e cerca de 85 milhões de francos suíços investidos, é hora de passar para uma outra fase. A Innosuisse, agência pública de fomento à inovação, lançou, em 1º de janeiro de 2022, uma NTN Innovation BoosterLink externo em robótica, com um orçamento anual de meio milhão de francos suíços e cuja condução foi confiada a Aude Billard.

“Iremos apoiar pelo menos dez projetos por ano, e, igualmente, acompanhar essas empresas em fase de arranque, a fim de as ajudar a obter um financiamento mais amplo”, explica a nova diretora. Porque se o PNP estava principalmente centrado em pesquisa de ponta, é agora necessário atacar os mercados, que estão cada vez mais exigentes em relação aos robôs de todos os tipos. Como Aude Billard bem resume: “Criar uma startup é uma coisa, mas produzir um produto real é outra”.

Quem é?

Formada em física, Aude Billard trabalhou no CERN antes de concluir seu doutorado em Inteligência Artificial em Edimburgo e assumir uma cátedra na Universidade da Califórnia do Sul, em Los Angeles. Ao mesmo tempo que exercia o cargo de professora na EPFL (desde 2003), ela cofundou três startups e dirige a Rede Temática Suíça em robótica. É também ativa na política, como conselheira comunal (membro do legislativo) da cidade de Lausanne.

E em que setores irão esses produtos emergir? Um dos grandes desafios da robótica é passar de estruturas rígidas, feitas de metal ou plástico duro, para materiais mais flexíveis. Porque só a mão de um “robô suave” será capaz de se aproximar da delicadeza e eficiência da mão humana. É mais do que uma questão de conforto quando se trata de interagir com o ambiente ou com as pessoas. “A pesquisa tem avançado muito. Há algumas áreas que podem agora levar a produtos industriais. Portanto, espero ver algumas grandes realizações”, prevê a diretora-chefe da LASA.

No entanto, esses materiais não rígidos colocam todo o tipo de novos problemas, de controle e precisão, especialmente na apreensão de objetos. Imaginemos ensinar uma máquina a pegar uma caixa de leite, sem esmagá-la ou derrubá-la. “Assim que se tem esses materiais flexíveis, torna-se muito não-linear, e há também muitas incertezas nas medições. Portanto, é preciso desenvolver algoritmos que nos permitam controlar isso, o que inclui a IA. Mas penso que a robótica atingirá um ponto em que isso se tornará possível”, explica Aude Billard.

>> Um braço robótico controlado diretamente pelo cérebro humano: este é um dos projetos da LASA (em inglês)

Conteúdo externo

Medicina e ética

A robótica médica é outro campo em que a Suíça se destaca. Ela constitui uma grande parte da pesquisa levada a cabo no PNP. A gama é muito ampla, desde robôs cirúrgicos a microrrobôs implantados no corpo humano, passando por próteses ativas ou os famosos exoesqueletos, que ajudam na reabilitação ou devolvem autonomia a pessoas com mobilidade reduzida.

Ademais, a nova RTN Robótica também estará aberta a áreas que não sejam estritamente técnicas. O desenvolvimento de robôs levanta questões éticas e legais, que Aude Billard considera “absolutamente essenciais”. “Estaremos atentos a elas e, se tivermos boas propostas, vamos apoiá-las”.

Programação para todos

Na LASA, não esperamos pela RTN para trazer os frutos da pesquisa para fora do laboratório. Já foram criadas três startups, incluindo a AICA, que desde 2019 trabalha para tornar acessível a todos a programação de robôs utilizados na indústria ou nas fábricas.

“Quando se compra um robô, a programação custa pelo menos tanto quanto a própria máquina”, explica Baptiste Busch, cofundador da jovem startup. Proveniente de escolas técnicas de Nantes, Bordeaux e Varsóvia, este doutor em robótica chegou às margens do Lago de Genebra graças a um projeto europeu. E ele se sente como um peixe na água.

“Tivemos vários industriais que vieram à LASA para nos pedir que aplicássemos as soluções que estávamos desenvolvendo em suas máquinas. Mas não é vocação de um laboratório fazer isso”, diz o diretor-chefe da AICA. “Decidimos, portanto, criar com a professora Billard esta startup”.

>> Tornar a utilização de um robô tão fácil quanto utilizar um celular: é isso que o vídeo de apresentação da AICA promete (em inglês)

Conteúdo externo

No início, a AICA obteve mandatos de consultoria, mas muito rapidamente começou a trabalhar com integradores robóticos, ou seja, as empresas que fazem a ligação entre o fabricante de uma máquina e o seu usuário.

“Oferecemos-lhes soluções de software para mudar a forma como programam os robôs, soluções que são menos rígidas do que o que é feito atualmente, e que são o resultado de nossa própria pesquisa”, explica Baptiste Busch.

E o bônus é que a AICA também fornece uma interface que permitirá ao cliente reprogramar ele mesmo o seu robô quando quiser atribuir-lhe uma nova tarefa. Isso de uma maneira bastante intuitiva, e sem a necessidade de se ter um diploma de engenharia. Ele também poderá, graças aos algoritmos de aprendizado, mostrar à máquina a tarefa a ser realizada, sem precisar reprogramá-la. Isto tornará os robôs operários disponíveis para todos, desde os grandes industriais até aos pequenos artesãos.

Robótica e sustentabilidade

Também envolvida na política (como membro do Conselho Comunal de Lausanne, nas fileiras socialistas), Aude Billard não poupa suas palavras: “Temos de ser honestos. Eu não acredito em robôs sustentáveis. Por outro lado, podemos assegurar a eficiência energética e não utilizar robôs quando estes não são necessários. É como com os carros. Precisaremos sempre deles, nem que seja só para ambulâncias ou corpo de bombeiros, mas temos realmente de nos interrogar sobre o quanto isso custa para a sociedade em geral”.

Porque obviamente, um robô significa uma bateria, que deve ser carregada com eletricidade e não é necessariamente produzida de maneira sustentável. E para citar dois casos concretos: “Por exemplo, teremos de nos colocar a questão da utilidade de um cão robótico, comparado a um cão real. Mas se falarmos de uma cadeira de rodas automática, em vez de uma mecânica, penso que a sociedade se inclinará para a solução que dá à pessoa maior mobilidade, mais autonomia e uma vida mais agradável e prazerosa”.

Adaptação: Karleno Bocarro

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR