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Suíça não está sozinha na guerra de moedas

A capital política e financeira do Japão parece calma, enquanto que o iene luta para evitar a supervalorização. AFP

A Suíça parece isolada na Europa com seu problema de moeda sobrevalorizada, mas não é o único país no mundo a ter que enfrentar a questão.

Países escandinavos aderiram recentemente às nações tão diversas como Japão, Brasil, Austrália e Canadá que enfrentam as consequências da disparada dos preços de suas exportações.

O banco central suíço (BNS) tentou em vão frear a alta do franco através da compra de volumosas quantias de euros e corte das taxas de juros a praticamente zero por cento. Em setembro, o banco central tentou uma última cartada, fixando o valor do franco a 1,20 em relação ao euro.

As medidas do BNS levaram imediatamente à especulação de que a Suécia e a Noruega poderiam seguir o mesmo exemplo, já que as moedas dos dois países se tornaram mais atraentes para os investidores.

O Japão foi atingido pelo mesmo problema que a Suíça, com o iene servindo de moeda refúgio, atraindo uma multidão de investidores procurando fugir da volatilidade do mercado. Mas isso só multiplicou os problemas, já que a terceira economia mundial também depende muito do resultado de suas exportações.

Intervenção massiva

Em agosto, o Japão interveio com uma soma recorde de 4,510 trilhões de ienes (60 bilhões de dólares) em um dia de intervenção nos mercados de divisas que ofuscou completamente os esforços anteriores do BNS.

O governo também disponibilizou 100 bilhões de dólares para incentivar os japoneses a investir no exterior. A Suíça rejeitou uma proposta de economistas do banco UBS para um fundo semelhante no início deste ano.

Mas as medidas japonesas parecem estar dando pouco efeito, já que o iene continua pairando perigosamente em alta em relação ao euro e ao dólar. Um levantamento feito em agosto com 105 grandes empresas japonesas aponta que mais da metade estava considerando mudar fábricas e escritórios para o exterior.

A Toyota parece ter perdido sua posição de primeiro fabricante de automóveis para a Volkswagen, da Alemanha. A empresa japonesa diz que perde 34 bilhões de ienes de lucros cada vez que a moeda japonesa sobe em relação ao dólar.

Especialistas do Instituto Japonês de Pesquisa calcularam que as taxas de câmbio desfavoráveis em relação ao euro poderia custar ao setor industrial 150 bilhões de ienes em lucros, nos próximos seis meses.

Impostos punitivos

O Brasil, por sua vez, tem criticado os Estados Unidos, acusando a superpotência de se engajar em uma guerra de moedas com sua política de desvalorização do dólar através de uma política de imprimir dinheiro – conhecido como afrouxamento quantitativo.

Ironicamente, antes da crise financeira, os EUA é que criticavam a política da China de compra de grandes quantidades de reservas internacionais para manter sua própria moeda artificialmente baixa.

Incapaz de cortar suas taxas de juros por medo de aumentar a já alta inflação, o Brasil optou por uma tática mais agressiva e polêmica para combater o aumento de sua moeda, o real.

Em 2009, o governo brasileiro introduziu uma série de impostos punitivos para a entrada de divisas e compras de títulos. Este é um truque que a Suíça tentou, sem sucesso, na década de 1970 quando o franco se valorizou em relação ao marco alemão.

Pressão das commodities

Durante sua recente visita ao Brasil, o ministro suíço da Economia Johann Schneider-Ammann disse à swissinfo.ch que tais táticas “não serviriam de exemplo para a Suíça”.

“Eu não acho que seja uma boa ideia proteger nosso mercado com impostos punitivos”, disse.

Segundo Janwillen Acket, economista do banco Julius Bär, o Brasil teria mais espaço de manobra do que alguns outros países, graças as suas altas taxas de juros.

“As taxas de juros do Japão já estão praticamente a zero por isso o país tem que encontrar uma solução mais criativa, assim como a Suíça”, disse à swissinfo.ch.

Acket acrescentou que as moedas refúgio dependentes de commodities – como as da Austrália, Canadá e Noruega – podem escapar da supervalorização se a economia mundial afundar mais uma vez, reduzindo a demanda por petróleo e minerais desses países.

“A tendência mundial de desvalorização competitiva das moedas vai de encontro ao contexto de uma desaceleração econômica global”, disse Acket. “Isso deve fazer que algumas moedas pareçam menos atraentes, em breve.”

A opinião do economista ecoa o pensamento de muitos observadores que acham que países individuais não serão capazes de evitar as diversas rodadas de choques econômicos que abalaram os mercados nos últimos três anos.

O franco suíço é considerado uma moeda refúgio, o que significa que os investidores e especuladores tendem a comprá-lo quando outras moedas, principalmente o euro e o dólar, estão sob pressão.

O Banco Central da Suíça (BNS) tem enfatizado que não persegue uma meta de taxa de câmbio, mas baseia sua política monetária em seu mandato legal.

Este mandato estipula que “o BNS deve garantir a estabilidade dos preços, tendo em conta a evolução econômica”.

A partir de março de 2009, o BNS interveio nos mercados cambiais. Essas incursões levaram a uma perda de 21 bilhões de francos no ano passado.

Enfrentando intensa pressão de políticos e do setor de exportação, o BNS interveio ainda mais nos mercados este ano, antes de anunciar uma taxa de câmbio fixa de 1,20 francos por euro em setembro.

Desde então, o franco pairou acima desta margem, graças ao compromisso assumido pelo BNS de comprar quantidades ilimitadas de reservas cambiais.

Adaptação: Fernando Hirschy

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