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Vindimas, prazer visual e gustativo

O Ravire é um dos vários castelos na regiao de Sierre. swissinfo.ch

As vindimas estão terminando na Suíça, país onde quase todos os estados (cantões) produzem vinho. A safra de 2009, dadas as condições climáticas, já é anunciada como excepcional.

A reportagem de swissinfo fez um passeio gustativo na região de Sierre, estado do Valais (sudoeste), na propriedade de Michel Savioz, no Castelo Ravire.

Pendurado num desses lugares altos e cercados de verde típicos do vale do rio Ródano, o castelo Ravire domina a cidade de Sierre. A área é de 25 hectares de vinhedo, 8 deles em forte inclinação com uma exposição de 360 graus.

O castelo proporciona uma vista aérea e panorâmica do vale e dos Alpes e foi construído em 1412.

Tradicionalmente, os “valesanos” (habitantes do Valais) possuem vinhedos familiares. Como também viviam em transumância, os Savioz tinham suas vinhas em Sierre.

Um passeio pela Idade Média

“Meu pai comprou essa parcela em 1954 e eu nasci em 1956, conta o castelão, acolhendo-nos com Nador, seu enérgico cão São Bernardo. O castelo tinha sido demolido quando de uma das guerras de religião e só sobrou a torre. Começou a ser reconstruído em 1891 e o resto do castelo foi reconstituído em 1969.”

Mais abaixo, uma cave de origem foi transformada em museu, com coleções de vinho e de pintura. Tem também uma capela com as cinzas da família e os retratos, incluindo todos os bispos “valesanos”, pintados pelo pai de Michel Savioz.

“Meu pai faleceu quando eu tinha 22 anos e assumi ao mesmo tempo que estudava enologia. Queria fazer estágios no estrangeiro, mas minha mãe estava sozinha e precisava de mim aqui. Me deixaram escolher, mas como eu já trabalhava aqui e, de qualquer maneira, era isso que eu queria fazer.”

Uma evolução importante

Quando ele comeceu havia 300 produtores de vinho no Valais. Hoje eles são mil e representam 30% da produção cantonal. O restante está nas mãos das grandes cooperativas como Orsaz, Provins ou de grandes negociantes. “Muita gente se deu conta que fazendo seu próprio vinho, eles realizavam uma mais valia.”

“Não se pode esquecer que o Valais era pobre até os anos de 1950. Por exemplo, meu avô tinha vários ofícios (hotelaria, criação de gado, vinha). Muita gente também trabalhava na fábrica de alumínio de Chippis.”

Depois o cantão se desenvolveu graças ao turismo, à construção de grandes barragens e ao desenvolvimento da vinha.

Nesse setor, as coisas evoluíram muito. “Trinta anos atrás, havia 30% de tinto e 70% de branco. De uns 15 anos para cá, há 55% de tinto”, explica Michel Savioz.

Desde a introdução das apelações de origem controlada (AOC), no início dos anos 1990, “o Valais passou a privilegiar a qualidade e isso continua”.

O trabalho se profissionalizou, explica Michel Savioz. “Também se faz bons vinhos em Genebra, Vaud e Neuchâtel. Compreendemos que é preciso se adaptar ao clima e que produzindo menos quantidade, a qualidade melhora. É lógico e é bom que seja assim.”

Redescobrir especialidades

Nos anos 1970, o Valais tinha quatro variedades principais de uvas: chasselas, sylvanner, pinot noir e gamay.

“Em 1979, quando assumi a propriedade, meu pai estava entre os precursores porque havia retomado antigas variedades de uvas, no Valais: humagne branco, reze, petite arvine e amigne”, explica Michel Savioz. O castelo Ravire produz também hermitage, malvoisie, chasselas, pinot branco, muscat e chardonnay.

“Entre os tintos há uma a velha uva do país, cornalin, mas também humagne tinto, sirah, pinot noire, ancelota e diolinoir.”

Homem de tradição, Michel Savioz manteve a composição das uvas , a forma alongada das garrafas em vidro marrom (não mudou desde 1954) e as etiquetas verde claro representando o castelo. “Gozam de mim, mas eu mantenho.”

Uma safra promissora

Neste belo dia de outono, a vindima ocorre em torno do castelo Ravire. Os sete empregados portugueses, cinco mulheres e dois homens, estão colhendo moscatel. “Já é a terceira geração da mesma família. Essas pessoas conhecem bem o vinhedo e também trabalham nisso no país deles.”

Ele acrescenta, com um grande sorriso, que 2009 é um ano promissor. A vindima dura entre três e quatro semanas, conforme o ano. Depois ocorrem as colheitas tardias, em meados de novembro, para os vinhos doces à base de uvas murchas.

Nas caves do castelo, cerca de 70% da colheita é vinificada em tonéis de madeira durante dois ou três anos. O restante é engarrafo em agosto ou início de setembro.

“É tarde”, reconhece Michel Savioz, “mas quero que os tonéis fiquem vazios o menos tempo possível e, como praticamente só tenho especialidades, podemos deixar envelhecer um pouco mais.”

De boca em boca

Michel Savioz não tem telefone celular nem site na internet. “Minha clientela vem pela propaganda boca a boca, sejam privados ou donos de restaurantes. Eu gosto que as pessoas venham ao castelo, que em si é um argumento de venda. Mas é também uma história de amizade.”

Em janeiro, quando os vinhos estarão com a fermentação terminada, antes de podar o vinhedo, talvez Michel Savioz sairá de férias.

Por exemplo, para visitar vinhedos na África do Sul ou na América do Sul. “É muito enriquecedor ver outro lugar, há belos vinhedos por toda parte”, conclui com sua voz suave e entonação cantante como seus vinhos.

Isabelle Eichenberger, swissinfo.ch

Propriedade: 15 ha, 8 ha de vinhas (60% de uvas brancas et 40% de tinto), o restante em florestas.

Produção média: 700 a 800 gramas de uva por metro quadrado.

Produz: entre 30.000 e 50.000 garrafas por ano.
Variedades: vindimas tardias específicas do Valais com seu microclima favorável (malvoisie, pinot gris, amigne, ermitage).

Vinificação: 70% da colheita é vinificada em velhos tonéis.

Degustações: mais de 300 por ano.

Michel Savioz produz também uma especialidade única do vale de Anniviers, a Geleira.

Esse vinho, ligeiramente moscado e resinoso, é composto das uvas rèze, ermitage e malvoisie. Ele é envelhecido em altitude em tonel de pinho mélèze cheio até a borda, para não se oxidar.

Tradicionalmente reservado aos enterros, esse vinho foi fabricado durante cinco séculos pelos habitantes do vale de Anniviers, últimos nômades da Europa ocidental. O de Michel Savioz tem mais de 100 anos.

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