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Syngenta lidera mercado de agrotóxicos

Grandes colheitadeiras sobre uma plantação de soja em Tangará, Mato Grosso. Reuters

Segundo dados estatísticos oficiais, o Brasil é há seis anos o maior consumidor de agrotóxicos do mundo apesar de apostar cada vez mais nos transgênicos. Uma parte considerável do mercado é dominado pela multinacional suíça Syngenta. ONGs criticam a situação, ressaltando os danos provocados pelos produtos ao meio ambiente e saúde popular.

Com a chegada da primavera e o início do plantio de importantes commodities como soja, milho, cana-de-açúcar e algodão para a safra 2013/2014, o Brasil voltará a ocupar, pelo sexto ano consecutivo, o lugar de maior consumidor mundial de agrotóxicos. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão responsável pela liberação do uso comercial de defensivos agrícolas no país, o mercado brasileiro de agrotóxicos cresceu 190% na última década, em um ritmo de expansão duas vezes maior do que o apresentado pelo mercado mundial (93%) no mesmo período. Na safra 2010/2011, de acordo com a agência governamental, o consumo somado de herbicidas, inseticidas e fungicidas, entre outros defensivos, atingiu no Brasil 936 mil toneladas e movimentou US$ 8,5 bilhões.

Segundo a Anvisa, cerca de 130 empresas atuam no setor de agrotóxicos no Brasil, mas somente as dez maiores foram responsáveis por 75% das vendas na última safra. O veneno agrícola campeão de vendas no país é o glifosato, com 29% do mercado brasileiro, seguido pelo óleo mineral (7%), pela atrazina (5%) e pelo novo agrotóxico 2,4D (5%), que é um dos componentes do agente laranja, usado como arma química contra civis na Guerra do Vietnã. Se levadas em conta as categorias de produto, os herbicidas representam 45% do total de agrotóxicos comercializados no Brasil, seguidos pelos fungicidas (14%) e inseticidas (12%).

Esse crescimento foi impulsionado pela acelerada expansão dos cultivos transgênicos no Brasil, iniciada há dez anos. Segundo a Campanha por um Brasil Livre de Transgênicos e Agrotóxicos, que reúne dezenas de organizações socioambientalistas brasileiras, somente Brasil e Argentina, os dois países que abraçaram a tecnologia transgênica na América do Sul, jogam em suas lavouras geneticamente modificadas cerca de 500 mil toneladas de agrotóxicos à base de glifosato a cada ano. Líder mundial da produção de defensivos agrícolas, a empresa transnacional de origem suíça Syngenta também está no topo no Brasil e é uma das maiores beneficiadas com a constante expansão desse mercado.

De acordo com os resultados apresentados no primeiro semestre de 2013, a empresa suíça realizou um total de US$ 1,17 bilhão em vendas na América Latina. Grande parte desse bom desempenho se deveu às vendas do herbicida Touchdown que, segundo informe da empresa, “beneficiou-se da escassez de glifosato dos concorrentes” no mercado latino-americano.

No Brasil, a Syngenta lidera o mercado de soja e agora, segundo seu CEO, Mike Mack, aposta na expansão do milho transgênico, adaptado para resistir a ataques de insetos e também aos herbicidas fabricados pela empresa. Desde 2007, a Syngenta já teve aprovados pedidos de plantio comercial para cinco variedades de milho transgênico pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão responsável por aprovar todos os pedidos de pesquisa, produção e comercialização de qualquer tipo de organismo geneticamente modificado no Brasil.

Pulverização

A história da utilização dos agrotóxicos produzidos pela Syngenta no Brasil, no entanto, não se resume ao sucesso de mercado, e também é cercada de polêmicas. No caso mais recente, ocorrido em maio nas proximidades da cidade de Rio Verde, em Goiás, um avião monomotor da empresa Agrotex despejou centenas de litros do pesticida Engeo Pleno, fabricado pela Syngenta, sobre estudantes que estavam lanchando ao ar livre, dentro do terreno de uma escola pública. Após o acidente, 28 crianças entre 4 e 16 anos de idade permaneceram alguns dias internadas com sintomas de envenenamento por um dos componentes do pesticida – o tiametoxan – que acaba de ser proibido na União Europeia por estar associado ao desaparecimento das abelhas e colapso das colméias.

Procurada pela reportagem para falar sobre sua posição no mercado brasileiro de defensivos agrícolas e também sobre os desdobramentos do acidente envolvendo a pulverização do pesticida Engeo Pleno sobre uma escola em Goiás, a direção da Syngenta no Brasil não deu retorno às tentativas de contato.

O episódio que vitimou as crianças gerou forte reação nos movimentos sociais, que chegaram a enviar uma carta aberta ao governo brasileiro sugerindo a punição da Syngenta, da Agrotex e dos demais responsáveis pelo acidente no interior goiano: “Vale lembrar que o caso da escola de Rio Verde em relação à contaminação por agrotóxicos através da pulverização aérea não é um ato isolado, mas algo recorrente dessa forma de aplicação de veneno que, mesmo cumprindo com as exigências legais para aplicação – o que na maioria das vezes não acontece –, é extremamente perigosa e contaminante do meio ambiente e das pessoas”, diz o documento, assinado pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.

A Syngenta anunciou em setembro uma iniciativa global – o Good Growth Plan – que traz seis compromissos da empresa suíça com o objetivo de “garantir a segurança alimentar e o cuidado com o meio ambiente” em todo o planeta. Os compromissos são: 1) aumentar em 20% a produtividade em soja, milho, cana e café sem usar mais terra, água ou insumos; 2) recuperar 50 mil hectares de pastagens degradadas, convertendo-as em terras cultiváveis; 3) proteger as áreas com habitats para insetos polinizadores; 4) capacitar 100 mil pequenos agricultores para o uso responsável de tecnologias, aumentando a produtividade em 50%; 5) treinar 160 mil agricultores em boas práticas agrícolas e uso responsável das tecnologias; 6) promover condições justas de trabalho para toda a cadeia de fornecedores.

Doenças

O título de campeão mundial do consumo de agrotóxicos é lamentado pela sociedade civil brasileira porque representa um aumento considerável dos riscos ao meio ambiente e, principalmente, à saúde humana. Um dossiê sobre o uso de agrotóxicos elaborado este ano pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) relaciona diversos ingredientes ativos utilizados em venenos agrícolas no Brasil ao risco que cada um deles representa para a saúde. O documento afirma que o uso intensivo de agrotóxicos pode causar “doenças como cânceres, má-formação congênita, distúrbios endócrinos, neurológicos e mentais”.

O dossiê da Abrasco faz referências a estudos sobre o aumento da incidência de cânceres na população de cidades muito expostas a pulverizações de venenos agrícolas, como, por exemplo, Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, e Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul: “Mesmo que alguns dos ingredientes ativos dos agrotóxicos, por seus efeitos agudos, possam ser classificados como medianamente ou pouco tóxicos, não se pode perder de vista os efeitos crônicos que podem ocorrer meses, anos ou ate décadas após a exposição”, alerta o documento.

A Syngenta lançou este ano na internet aquilo que define como uma “plataforma de compartilhamento de inovação na agricultura”, onde disponibiliza gratuitamente para pesquisadores de todo o mundo algumas técnicas e características genéticas de suas sementes patenteadas, responsáveis por gerar plantas resistentes aos defensivos agrícolas também desenvolvidos por ela. A iniciativa da empresa suíça já foi ironicamente batizada pelo movimento socioambientalista brasileiro como o “iTunes dos Transgênicos”. O Grupo ETC, que monitora o mercado global de biotecnologia, define a nova plataforma eletrônica da Syngenta como “uma tentativa de imposição de transferência tecnológica para o Sul”.

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