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Suíça quer manter acadêmicos estrangeiros no país

Junge Leute im Gegenlicht aufgenommen sitzten an runden Tischen und arbeiten an Laptops.
As autoridades ainda não compreenderam porque muitos acadêmicos estrangeiros não querem permanecer na Suíça após concluir os estudos. © Keystone / Christian Beutler

Um diploma suíço abre portas a uma carreira internacional. Porém muitas empresas suíças gostariam de contratar acadêmicos estrangeiros se não fossem regras complicadas e leis de imigração restritivas. Uma proposta do Parlamento helvético poderá facilitar a sua vida.  

Interessados em estudar na Suíça precisam de tempo e dinheiro. Em primeiro lugar é necessário esperar pela confirmação de admissão na instituição desejada. Porém se o estrangeiro é originário de um país fora da União Europeia ou da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) ele também necessita de receber um visto para residir no país.

O candidato deve preencher muitos formulários, enviar currículo e uma carta de motivação e ter a confirmação de moradia e até dar provar dispor de recursos financeiros suficientes.

Ter parentes rico na Suíça ajuda, especialmente se eles assumirem os custos de estadia do estudante. Sem isso, é preciso ter uma poupança bastante recheada. O cantão de Zurique, por exemplo, exige ao estudante estrangeiro o depósito mínimo de 21 mil fracos na conta de um banco qualquer na Suíça. 

Os tramites burocráticos da imigração (vistos e autorizações de residência) são resolvidos diretamente no cantão de residência. A Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH), uma das mais renomadas do país, oferece até um manual para explicar todos os detalhes dos procedimentos.  

Potencial não utilizado

Após superar esses obstáculos, o estudante estrangeiro se beneficia da excelente reputação das universidades helvéticas. Em geral, elas ocupam posições de topo de vários rankings internacionais. Com o diploma embaixo do braço, especialmente nas chamadas disciplinas MINTLink externo (matemática, tecnologia da informação, ciências naturais, tecnologia), o formando tem grandes perspectivas de encontrar um emprego, inclusive na Suíça.

Porém a grande maioria dos estudantes retorna aos seus países como mostra um estudo da Economiesuisse, a federação de empresas helvéticas: apenas entre 10 e 15% dos acadêmicos estrangeiros encontram um emprego na Suíça após concluir os estudos.

Os autores do estudo colocam a culpa da evasão em leis restritivas de imigração. Ao contrário dos cidadãos de países da UE/EFTA, que beneficiam da livre circulação, os acadêmicos oriundos dos chamados “países terceiros”, estão sujeitos a quotas determinadas pela legislação.

Um dos maiores obstáculos é o curto prazo dado ao acadêmico estrangeiro para encontrar um emprego na Suíça. “Se em outros países eles têm até três anos para encontrar um trabalho após a formatura, na Suíça são apenas seis meses e só partir de um pedido formal”, critica Economiesuisse. E se nesse espaço de tempo os estrangeiros não encontram um trabalho, precisam sair do país.

Dificuldades no mercado

Ken Tsay, originário de Taiwan, recebeu uma oferta de trabalho em uma empresa suíço logo após ter concluído o mestrado em “ciências assistidas por computador” na ETH. Porém as autoridades lhe negaram um visto de trabalho. “Assim escolhi tentar na Alemanha, que provou ser um país mais amigável aos imigrantes.”

Tsay não é o único diplomado de um país terceiro a deixar a Suíça por essa razão, confirma Annique Lombard, pesquisadora da Universidade de Neuchâtel. Sua conclusão baseia-se em um estudo que realizou sobre a “Integração de diplomados estrangeiros no mercado de trabalho na SuíçaLink externo“.

Ela mostra que estrangeiros originários dos países terceiros sofrem mais dificuldades para encontrar trabalho: “Quando o estrangeiro termina os estudos, seu visto de residência na Suíça se expira e ele deve então solicitar uma prolongação. Ela é dada por seis meses se a pessoa mostrar interesse em procurar um emprego no país.”

Informações incompletas

No entanto, não é fácil encontrar informações detalhadas sobre os procedimentos necessários nos sites das autoridades cantonais competentes. “A falta de informação e a falta de clareza dos trâmites podem, por vezes, ser uma razão para a pessoa deixar o país ou procurar ofertas mais atraentes em outros países”, explica Lombard. O prazo de estadia de seis meses para encontrar um emprego é muito curto em comparação a outros países europeus, onde as pessoas têm entre 9 e 18 meses.

Arielle Fakhraee, uma jovem americana, encontrou um emprego em uma pequena empresa ao concluir o mestrado em ciências na ETH de Zurique. Porém ao mudar o emprego as autoridades anularam seu visto de trabalho.

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Acadêmicos estrangeiros procurando um emprego na Suíça

Este conteúdo foi publicado em Após se formar, trabalhou em uma empresa spin-off da ETH que desenvolveu sistemas eletromagnéticos para aplicações biomédicas. A empresa fechou as portas depois de alguns anos.  Enquanto trabalhava para esta empresa, não tinha problemas com o visto de estadia na Suíça. Porém a situação mudou quando começou a trabalhar para uma consultoria.

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Menos limitações para imigrantes qualificados

A federação Economiesuisse critica as restrições migratóriasLink externo aplicadas aos acadêmicos estrangeiros. A questão chegou no Parlamento suíço, que aprovou com grande maioria nas duas câmaras (Senado e Câmara dos Deputados) uma moçãoLink externo para permitir que imigrantes originários de países terceiros, e formados em universidades suíça em áreas onde há carência de mão-de-obra especializada, sejam excluídos das cotas limitantes.

Agora o governo suíço deve preparar uma emenda legislativa correspondente. Annique Lombard acredita que, com a mudança, os empregadores terão mais incentivos para contratar acadêmicos estrangeiros. Hoje ainda precisam respeitar as cotas reservadas a cada cantão para contratação de mão-de-obra especializada do exterior. Essa limitação é uma barreira muitas vezes intransponível para as empresas.  

Os estrangeiros formados na Suíça não concorrem diretamente no mercado de trabalho com candidatos originários de países terceiros. “Afinal, eles têm a vantagem de já conhecer o país e dominar os idiomas locais”, ressalta Lombard.

Possibilidade de estágio

Para a Economiesuisse a reforma da lei trará também outro benefício: permitir que acadêmicos estrangeiros possam estagiar nas empresas durante os estudos. “O estudante estrangeiro não tem direito de estagiar em uma empresa suíça durante os estudos ou até nos seis meses após a conclusão deste”, critica.

Porém as autoridades cantonais explicam que essa limitação não existe no cantão de Zurique. “É possível obter um visto de trabalho para um estágio quando a universidade comprova que faz parte do currículo do estudante.”

Questionada, a ETH confirma. “Em alguns cursos de graduação os estágios são obrigatórios. Em outros são apenas recomendados. Isto permite um plano de estudos compacto e uma rápida entrada na vida profissional.”

Se o estudante pretende apenas obter um diploma, mas também um emprego na Suíça, recomenda-se que se informe com antecedência sobre as possibilidades de fazer um estágio no contexto dos seus estudos. 

Outras razões para deixar o país

O trabalho é o fator mais importante na escolha do local de vida, afirma Lombard. Ao mesmo tempo, as relações sociais – pais, amigos, maridos ou família – têm uma grande influência na mobilidade da pessoa. “Em muitos casos, relações importantes são estabelecidas durante o período de estudos, o que leva a decisões conjuntas de mobilidade dos casais. Nesses casos, é importante levar em consideração a realização de duas carreiras e a compatibilidade da vida profissional e familiar.

O casamento e as parcerias registadas na Suíça alteraram o quadro legal que, finalmente, permite não apenas o imigrante encontrar um emprego, mas também de residir legalmente no país.

Adaptação: Alexander Thoele

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