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Em busca da vitória no vôlei suíço

Roberto Tietz (ao centro) dá instruções aos jogadores do Pallavolo Lugano. ti-press

Escolhas. Quase tudo na vida se resume a isso. E a paixão pelo vôlei e a carreira de treinador sempre foram certezas para Roberto Tietz, 45.

Há duas temporadas o brasileiro comanda a equipe do Pallavolo Lugano, time da cidade de mesmo nome no cantão do Ticino e um dos destaques da liga helvética de vôlei. É um homem de hábitos simples, mas sua trajetória no esporte o define como um profissional em constante busca pela excelência.

Da adolescência e juventude em Canoas, no Rio Grande do Sul, lembra que até os 18 anos jogava nas categorias de base do Clube Canoense e depois no São José, da vizinha Porto Alegre. “Em 1996 tive a primeira chance como técnico na equipe feminina da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), também em Canoas, onde conquistei títulos no campeonato local e uma vaga na Superliga Nacional”, recorda. E esses títulos foram seu cartão de crédito para três anos depois assumir como supervisor da equipe masculina.

Em 2003, ao lado de nomes históricos do vôlei brasileiro como os campeões olímpicos e mundiais Ricardinho e Marcelo Negrão, Roberto Tietz chegaria ao lugar mais alto do pódio, vencendo a Superliga Nacional.

A conquista o projetou ao cargo de gerente do Sport Club Ulbra, time de futebol profissional da universidade e que em seu melhor momento chegou a decidir um campeonato gaúcho com o poderoso Internacional, de Porto Alegre. Porém, o amor pelas quadras e o vôlei mantinha-se como chama viva. “Nunca parei de ser treinador e em paralelo a isso tudo treinava equipes amadoras e universitárias”, relata ele.

Paixão que o fez assumir, entre 2005 a 2008, o cargo de treinador da equipe de vôlei masculino da Ulbra e projetando nomes como Sidão e Lucão – atuais titulares da Seleção Brasileira.

Ao final de 2008 Tietz deu adeus à Ulbra, indo para o vôlei de São Paulo, no Clube Pinheiros. E foi em São Paulo, já em 2010, que a Suíça surgiu em sua vida. “Precisava de desafios, de novas informações na busca por excelência. Meu agente me falou de um convite para a Suíça e soube que essa era a minha chance”, recorda Tietz.

A experiência suíça

Ao chegar à Suíça o que mais impressionou Tietz foi á beleza do país. “No primeiro ano eu pegava o carro e ia passear, levava a família e os amigos para ver montanhas e lugares fantásticos. E faço até hoje. A Suíça permanece me surpreendendo”, pontua. Ele elogia a estrutura e o respeito suíço ao seu cidadão, exaltando o controle helvético sobre lesões e as “categorias de base”.

 

Cita que em 2010 um “conselho” sobre cuidados nos treinamentos em esporte com bola, incluindo o vôlei, foi emitido pela autoridade esportiva do país. “Isso mostra um olhar diferente na formação da base, com outros cuidados, não só os técnicos”, ressalta o brasileiro, que fez um treinamento obrigatório junto à Swiss Volley para poder atuar como técnico no país. 

As variáveis dos idiomas helvéticos arrancam um sorriso de Tietz. Considera essa uma das partes fantásticas da esperiência suíça e exemplifica: “Num dos últimos jogos, em Lausanne, o diretor veio conversar com o meu assistente, pois se conhecem há muito tempo. Eles falavam numa mistura de alemão com o “romanche” e eu juro que não entendi literalmente nada, mas sabia exatamente do que estavam falando. Aí, eu respondia em inglês e falava com meu assistente em italiano. Mas o detalhe é que eu sou brasileiro, meu assistente é croata e o diretor é suíço-francês. Ou seja, nenhum falava a sua língua de origem e usamos três línguas diferentes pra se comunicar. Essa é a cara da Suíça”, exalta Tietz.

Gastronomia

Longe das quadras, ele gosta de experimentar a gastronomia local, onde arrumou uma forma de esquecer o tradicional churrasco gaúcho. “Aqui há uma linguicinha “luganense” que tem um sabor próprio. Gosto de adaptá-la ao “arroz de carreteiro gaúcho” e faço uma mistura de sabores e culturas”, destaca. Já a saudade da esposa e das filhas é minimizada pela internet e as redes sociais, onde Tietz opina, conversa com amigos, vê e posta fotos e vídeos.

Quando está no Brasil divide seu tempo profissional entre a Universidade LaSalle, em Canoas, onde atua como professor de Educação Física, e a Escolinha Infantil Reino da Criança, onde coordena os esportes infantis.

Pavollo Lugano

Buscar o título helvético e um lugar nas ligas europeias. Esse é o foco de Tietz e do Pavollo Lugano. “Possibilidade real para isso existe, mas este ano está muito equilibrado”, comenta, ao enumerar Chenois, Lausanne, Amriswill e Näfels como os principais adversários.

Em 2010, o Pavollo ficou em quinto lugar e fora das finais. “Este ano nós e Shonenwerd somos as equipes surpresas. Como classificam cinco uma vai ficar fora e isso faz o campeonato ser emocionante e competitivo”, ilustra Tietz, ao ponderar que o caminho mais curto para chegar aos campeonatos europeus é o título da Copa Suíça de Vôlei, que garante ao campeão esse prêmio e inicia em dezembro. 

Mesmo que a Liga Helvética seja ainda considerada de segundo nível na Europa, Tietz destaca que investimentos estão sendo feitos, a “tifoseria” está crescendo e há permissão para estrangeiros. Caso dos brasileiros Dante e Kleis, campeões mundiais juvenis e titulares do Pavollo, mais os cubanos Domenico e Salas, que também passaram pela seleção do seu país, o macedônio Habil e Sinotti, que já foi campeão na Suíça mais de uma vez, jogando por outros times. “Os demais atletas são italianos ou suíços, com passagem pela A2 italiana”, explica o treinador.

O público acima da média em seus jogos demonstra o crescimento do esporte, com o Pallavolo Lugano tendo ainda mais um ingrediente. “Somos a única equipe da suíça-italiana e isso traz uma diferença. Meus dirigentes são mais “brasileiros”, mais “caldos” que os demais. A torcida é quente também e isso nos faz ser mais visados. É um desafio”, ressalta Tietz.

Roberto Tietz, 45, brasileiro, natural de Canoas, no Rio Grande do Sul, treinador de vôlei masculino do Pavollo Lugano, do cantão do Ticino, sul da Suíça.

Títulos: 1996/97 Campeão Gaúcho de Vôlei treinando a equipe feminina da Ulbra; 2002/03 Campeão da Superliga Nacional com o time masculino da Ulbra.

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