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Medo do futuro leva portugueses à Suíça

A família só está à espera que o telefone toque com a notícia de que há uma vaga num cantão francófono. swissinfo.ch

Todos os meses, mais de mil portugueses mudam-se para a Confederação Helvética. Uns, porque não têm trabalho no país natal. Outros até têm um contrato por tempo indeterminado, mas nem isso os deixa tranquilos quanto ao futuro. No presente, queixam-se das políticas implementadas em Portugal e de estarem a sufocar com os impostos.

Maria João, de 38 anos, e Jorge Gonçalves, de 43, querem abandonar o quadro da função pública portuguesa, para ir trabalhar para a Suíça. Só estão à espera que o telefone toque, com a notícia de que há uma vaga para enfermeira num cantão francófono. Quando souber o destino da mulher, Jorge decidirá o seu futuro profissional. Com eles vão os dois filhos.

As crianças foram o que mais pesaram na decisão do casal. Maria João teme que os seus descendentes tenham o mesmo destino dos jovens com formação superior que hoje “não têm emprego, nem perspectivas”. “Corremos o risco de pagar os estudos aos nossos filhos e de eles sofrerem um processo de desemprego e emigração”, complementa o marido, dizendo que para isso é melhor levá-los já para o estrangeiro: “Ela tem seis anos e ele quatro. Estão numa idade em que ainda é possível uma adaptação fácil a outro país, a outra língua, a outra realidade, a outra sociedade”.

A Suíça foi o destino escolhido por esta família portuguesa. Jorge deslocou-se ao país para avaliar “a realidade ao nível da educação, da vivência, do custo de vida e dos salários”. Maria João não o acompanhou, mas descreve a Confederação Helvética como “um país organizado, justo, que preserva os Direitos Humanos e a natureza”, situado no centro da Europa, no meio de “países economicamente muito mais desenvolvidos, capazes, que produzem, e onde eles [filhos] poderão ter um futuro melhor do que aqui”. Jorge Gonçalves considera ainda que “é uma vantagem” para os filhos estarem num país “fora do euro e da Comunidade Europeia”.

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Migrante por escolha ou necessidade?

Este conteúdo foi publicado em Essas questões foram lançadas na internet. Os leitores da swissinfo.ch participaram intensamente nos enviando depoimentos e testemunhos, alguns plenos de emoção. Leia abaixo a seleção das melhores histórias ou contribue escrevendo a sua.

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“Estamos a ser sufocados com impostos”

Apesar da convicção, Maria João admite que lhe “custa muito” abandonar o seu país “magnífico, lindo, cheio de sol, com tudo para se poder ter uma vida impecável”.

Mas a palavra “tudo” esfuma-se assim que a enfermeira começa a analisar a situação de Portugal: “O nosso país está numa crise terrível. Actualmente, estamos a ser sufocados com impostos injustos. Não fomos nós que contribuímos para esta situação, mas políticas incorrectas, para que tenhamos de pagar uma factura tão grande”.

Outra razão que fez este casal, residente em Alijó, optar pela emigração foi, realça Jorge, “o interior do país estar a ficar desertificado, sem condições básicas para que as pessoas se fixem, nomeadamente ao nível da educação, saúde e do emprego”.

Referindo-se ao encerramento de serviços de saúde e escolas, Maria João dá um exemplo: “Mais dia, menos dia, os meus filhos para estudarem, têm de ir para outra cidade, e nós, depois, também não vamos ter poder económico para conseguir educá-los noutro sítio”.

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“Não é só o salário que me motiva”

Maria João mostra-se desgostosa com o facto de a área da saúde em Portugal estar, “cada vez mais, degradada”. Queixa-se, particularmente, da situação profissional da sua classe: “A carreira de enfermagem deixou de evoluir. Eu sou enfermeira especialista em saúde materna e obstétrica, mas tudo o que consegui foi à minha custa. Tive de pagar a minha formação. Depois, no terreno, ganhamos o mesmo, não somos valorizados, nem recebemos mais por isso, apesar de prestarmos melhores cuidados”.

Na Suíça, onde o custo de vida é muito elevado, Maria João vai ganhar quatro vezes mais do que em Portugal. “Não é só o salário que me motiva, mas também a segurança, principalmente, a dos meus filhos, porque, em Portugal, em termos de salário, se formos rigorosos no nosso orçamento, conseguimos viver e criar os filhos, só que não é com aquilo que nós queremos para eles”, diz a enfermeira, que está envolvida num longo processo de recrutamento e a ter aulas de francês há cerca de um ano.

Quando souber a zona geográfica onde a mulher vai ser colocada, Jorge vai “tentar arranjar um emprego, por conta de outrem”, ou estabelecer-se por conta própria na área da construção civil, com um colega. “Nós vamos para ficar”, garante o engenheiro, que trabalha na Câmara Municipal de Alijó.

Foi através de Leonor Vieira, que trabalha no recrutamento de enfermeiros para a Suíça, que Maria João se candidatou a um trabalho num cantão francófono.

Leonor recebe, cada vez mais, candidaturas de profissionais portugueses, entre os 30 e os 40 anos de idade, “muito experientes”. Já não são só recém-licenciados, que não encontram trabalho em Portugal, mas também pessoas “que não conseguem dar a volta ao orçamento”, mesmo com “duplos empregos”.

A enfermeira considera que este é um cenário “aflitivo e assustador para Portugal”.

A Embaixada da Suíça em Lisboa está a receber, por dia, entre cinco a dez pedidos de informação sobre a vida na Confederação Helvética e como encontrar um trabalho no país, por parte de cidadãos portugueses.

O número é avançado por Doris Zogg, terceira secretária da embaixada, que deixa um alerta aos interessados: “A situação do desemprego na Suíça não é tão alta como noutros países, mas também não é fácil encontrar trabalho lá”.

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