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Embargo europeu à carne brasileira atinge também a Suíça

Europeus desconfiam do controle sanitário do rebanho brasileiro. Abiec

Suíça é obrigada a cumprir embargo imposto pela União Européia à carne bovina brasileira e procura fornecedores alternativos.

Importador suíço fala de “guerra burocrática” entre UE e Brasil. Abiec acusa Comissão Européia de praticar “protecionismo sanitário”.

Antes mesmo de ter “digerido” a proibição da importação de tripas de bovinos brasileiros, que ameaça a produção da salsicha do tipo cervelas (veja link), a indústria de carnes suíça agora é atingida pelo embargo à carne bovina imposto pela União Européia em 31 de janeiro passado.

Das 84 mil toneladas de carne bovina consumidas anualmente pelos suíços, apenas 13 mil toneladas são importadas. Mesmo assim, o embargo atinge duramente o país, que harmonizou sua legislação sobre alimentos com a UE e é obrigado a respeitar a medida.

Segundo Marc Jansen, presidente da importadora VB Food Internacional, localizada em Dübendorf (próximo de Zurique), 60% a 70% da carne bovina importada pela Suíça vem do Brasil.

“No curto prazo, haverá escassez do produto no mercado. Somos obrigados a buscar alternativas, ao mesmo tempo em que esperamos que o embargo seja suspenso”, disse Jansen à swissinfo.

A Suíça só importa carne nobre, como filé, filé mignon e contrafilé, vendidos a preços salgados nos supermercados. Um pacote com pequenos contrafilés (total de 320 g), por exemplo, custa 16,50 francos suíços – quase 27 reais.

Páscoa sem filé brasileiro

O grupo Coop, segunda maior rede de supermercados do país, organizada em forma de cooperativa, importa 10% de sua carne bovina do Brasil. A empresa não quis revelar o volume total importado.

“O embargo se fará notar principalmente nos dias de festas, como a Páscoa, quando os suíços gostam de saborear uma carne de melhor qualidade. No momento, a produção nacional ainda cobre a demanda”, disse o porta-voz do Coop, Takashi Sugimoto, à swissinfo.

Já o Migros, maior rede de supermercados da Suíça, foi duplamente atingido: tanto pela proibição de importar a tripa bovina quanto pelo embargo à carne (2,8% importada do Brasil).

O grupo importava 320 toneladas de carne bovina brasileira por ano antes do embargo, informou a porta-voz da empresa, Martina Bosshard. “A alternativa agora é comprar da Argentina e do Uruguai, onde a carne nobre custa 30 a 50% a mais e os exportadores não são tão flexíveis na hora da encomenda como no Brasil”, disse à swissinfo.

Ela disse também que a Micarna, subsidiária que processou 110 mil toneladas de carne vendidas pelo Migros em 2007, ainda procura uma alternativa para a tripa brasileira usada na produção da salsicha cervelas, igualmente embargada pela UE.

“Guerra burocrática”

Marc Jansen vê no embargo à carne bovina uma queda de braço entre o Brasil e a Comissão Européia, que estaria sendo pressionada principalmente pelo Reino Unido, cujas exportações de carne foram interditadas devido à doença da vaca louca.

“Estamos falando de uma guerra burocrática e não que a carne brasileira represente um risco à saúde do consumidor. Não há interesse de nenhuma das partes que essa briga dure por muito tempo”, afirmou Jansen.

A VB Food tem escritório em Montevidéu e realiza inspeções junto aos exportadores. “Não confiamos no que é escrito no papel das autoridades sanitárias. Fazemos o controle de produção e qualidade diretamente junto aos fornecedores. Por isso, posso dizer que a carne brasileira é saudável. É claro que pode haver ovelhas negras, como em qualquer país”, disse Jansen à swissinfo.

Crítica ao “protecionismo sanitário”

Segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Marcus Vinícius Pratini de Moraes, trata-se de um “problema burocrático, gerado por uma disputa comercial, cujo objetivo é aumentar o preço da carne na Europa” (ouça os áudios ao lado).

O Brasil exporta anualmente cerca de 400 mil toneladas de carne bovina para a Europa. Segundo Pratini de Moraes, o embargo causará um prejuízo de cerca de 80 milhões de dólares por ano e a demissão de 4.500 pessoas na cadeia produtiva da pecuária.

Pratini de Moraes disse que tanto a UE quanto os EUA e o Japão usam argumentos tecnicamente insonsistentes para praticar o que ele chama de “protecionismo sanitário. Hoje as barreiras são não tarifárias. Para proteger seus rebanhos e seus interesses comerciais, eles usam desculpas sanitárias.”

Ele garantiu que o Brasil não tem qualquer problema de febre aftosa e que isso é comprovado também pelos importadores suíços e de outros países, que têm representação no Brasil. “A febre aftosa é só um argumento de protecionismo sanitário para impedir o nosso acesso ao mercado europeu”, afirmou.

swissinfo, Geraldo Hoffmann

A União Européia (UE) suspendeu em 31 de janeiro passado as importações de carne bovina do Brasil. A decisão foi tomada após as autoridades brasileiras apresentarem uma lista de 2.681 fazendas aprovadas pelo sistema de rastreamento (Sisbov) para vender carne à Europa.

A UE esperava – e só aceita – uma lista de 300 fazendas, argumentando que o Brasil não tem capacidade para fiscalizar mais do que isso. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) considerou a medida “desnecessária, desproporcional e injustificável”.

A polêmica sobre o assunto já dura sete anos. Ao mesmo tempo em que responde a questões levantadas pela missão veterinária do bloco, que esteve no Brasil em novembro de 2007, o governo brasileiro analisa a possibilidade de levar o caso à Organização Mundial do Comércio, caso não haja um entendimento em curto prazo.

Segundo a Abiec, o Brasil exportou 2,5 milhões de toneladas de carne bovina em 2007, com receita de 4,5 bilhões de dólares (1,08 bilhão só para a Europa).

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