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Embarque na primeira linha da PostAuto

O redator da swissinfo embarca na linha "100", a primeira da PostAuto. swissinfo.ch

No momento em que a companhia transportadora dos Correios suíços completa 100 anos, o redator da swissinfo resolve fazer seu primeiro percurso.

Na linha original, o ônibus “100” saía de Berna e ia até Detlingen, um vilarejo que não mudou nada em todo esses anos.

Encontrar a estação rodoviária de Berna não é uma tarefa muito fácil. Ela está meio escondida atrás das linhas de trem da estação ferroviária. Durante a manhã, depois da hora de pico, ela se esvazia. Estudantes e idosos desembarcam dos poucos ônibus que chegam e caminham em direção ao centro da cidade.

O ônibus “100” sai de uma das plataformas da estação. Possivelmente a escolha do número seja uma coincidência, mas a linha é praticamente a mesma que foi inaugurada há cem anos pela PostAuto. Será que tanta coisa mudou nesse espaço de tempo?

Ao contrário dos modernos ônibus de Mercedes-Benz de 380 PS da atualidade, nessa época o trajeto era feito por um dos três veículos existentes, com motores à gasolina de quatro cilindros, 14 lugares e um consumo de 40 litros para cada 100 quilômetros percorridos. Eles quebravam constantemente devido às péssimas condições da estrada.

Os ônibus saiam de Berna e viajavam, atravessando pastos e povoados bucólicos, até Detlingen, um vilarejo distante 17 quilômetros da capital suíça. Hoje, a linha número 100 vai até Aarberg, bela cidade de quatro mil habitantes cortada pelo rio Aare.

Dormir no volante

Na estação central de ônibus de Berna, o motorista Andréas Scheuner, 52 anos, se prepara para embarcar.

– Normalmente a viagem é muito tranqüila. Somente nas horas de pique, quando as pessoas saem do trabalho, é que o ônibus fica mais cheio. Nós temos que ser extremamente pontuais, pois muitos dos passageiros precisam pegar conexões em outros pontos – explica Scheuner.

Ele é um dos 2.600 motoristas empregados na PostAuto. Há quinze anos ele conduz os veículos da empresa por diferentes trajetos do cantão de Berna. Ao contrário do que ocorre para os profissionais de outros países, na Suíça Scheuner e seus colegas trocam constantemente de itinerário.

– Nenhum dia é o mesmo. Nós trabalhamos sempre em horários diferentes e fazendo diferentes percursos. Eles normalmente são tão tranqüilos, sobretudo os que atravessam as zonas rurais, que precisamos de diversificação. Senão o motorista acaba dormindo no volante – explica sorrindo Scheuner.

Poucos incidentes

Perguntado se já viveu em todos os anos de carreira algum acontecimento marcante, o simpático motorista de ônibus precisa de alguns minutos para refletir. A resposta vem na típica discrição suíça:

– Só me lembro de uma mulher que teve um colapso cardíaco e caiu da cadeira no meio da viagem. Também teve um outro caso, quando a veia de um passageiro estourou e o ônibus ficou cheio de sangue – lembra-se.

Essas situações não tiram Scheuner da tranqüilidade. A PostAuto treina constantemente seus profissionais para lidar com essas situações. Até cursos de primeiros-socorros eles recebem. O único medo são assaltos, algo raríssimo num país considerado seguro como a Suíça. Mas acontece:

– Eu mesmo nunca passei por essa situação, mas tenho colegas que já foram roubados por dependentes de droga. Eles entravam nos ônibus e levavam o caixa, que até bem pouco tempo eram móveis. Agora eles foram fixados com parafusos – revela o motorista e mostra, chacoalhando a caixa de aço, que nem um pé-de-cabra seria capaz de retirar o objeto.

De Berna aos pampas

A viagem até Detlingen dura pouco menos de meia-hora. Depois de sair do espaço urbano de Berna, o ônibus começa a descer e subir pequenas colinas. A paisagem é composta de pastos e pequenos povoados com suas típicas casas e fazendas de madeira.

Quando Andréas Scheuner anuncia a chegada em Detlingen, o espanto não é pouco: o vilarejo parece estar abandonado. Não mais do que 382 pessoas moram lá. Com exceção dos idosos e crianças, a grande maioria trabalha durante o dia em Berna.

O único restaurante só abre algumas vezes durante a semana. Além de um centro de terapia para dependentes de drogas, na realidade uma pequena casa com oficinas, de uma lojinha dos Correios, da igreja – que está fechada – nada parece acontecer em Detlingen. Até mesmo a lojinha de produtos alimentícios, administrada por um produtor de leite, está fechada. Na placa ele indica o funcionamento, limitado a poucas horas do dia.

A indicação que Detlingen recebeu a primeira linha de ônibus da PostAuto está numa placa de metal, fixada no prédio dos Correios.

Uma hora depois, o motorista Andréas Scheuner pára seu ônibus no ponto de Detligen. Ele sorri e pergunta ao repórter se gostou de conhecer o vilarejo. Sem esperar a resposta, o suíço diz:

– Realmente não há muito para se ver em Detlingen. Entre no ônibus, que eu te levo até o ponto seguinte. Depois desembarque, que meu colega irá levá-lo num outro ônibus até Aarberg, a grande cidade da nossa região. Vocês irão adorá-la.

A simpatia das pessoas e a lentidão com que o ônibus vai cruzando os vilarejos é tão típico quanto o “Tü-Ta-Too” da buzina do PostAuto. Bem vindo a Suíça do interior!

swissinfo, Alexander Thoele

As linhas cobertas pela rede de transportes da PostAuto totaliza 10 mil quilômetros.
Número total de passageiros transportados anualmente: 100 milhões.
Número total de quilômetros percorridos anualmente pelos ônibus: 89 milhões, o que corresponde a seis vezes a volta ao redor do mundo.
Faturamento anual da empresa: 500 milhões de francos.
Números de funcionários: 2500.

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