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Os condomínios que José Gonçalves gere na região de Montreux

Homem posando para uma foto
José Gonçalves se naturalizou suíço para dar mais confianças aos clientes. swissinfo.ch

No ano de 1990 José Gonçalves deixava Aveiro, em Portugal, para experimentar viver na Suíça. Essa experiência prolongou-se e nunca mais abandonou o país helvético. 

Há cerca de três anos fundou, juntamente com a sua esposa, a empresa G. Élite Services Sàrl, que se ocupa de gerir condomínios de prédios e alguns apartamentos, entre Vevey, Montreux e Villeneuve. Num dia quase primaveril, a swissinfo.ch encontrou-se com José Gonçalves em Clarens e abriu-nos a porta da sua experiência suíça.

José Gonçalves nasceu em Aveiro, junto ao mar, “na Veneza portuguesa”, como muitos lhe chamam devido aos seus canais. Ainda na cidade, formou-se em eletricidade geral mas trabalhou numa oficina de automóveis. Quando fez 18 anos, surgiu a oportunidade de ir para a Suíça, “como sabia que se ganhava melhor, decidi experimentar. Vim de espírito aberto”, a pensar que poderia, inclusivamente, regressar a Portugal.

A sua irmã trabalhava na hotelaria, por esse motivo, empregou-se igualmente nessa área. Recorda que começou a lavar loiça na cozinha do hotel, mas como era um jovem com vontade de progredir, passou para outras áreas, tais como: limpeza de quartos, preparação de refeições, empregado de mesa. Nessa altura, os hotéis, particularmente os de cinco estrelas, tinham necessidade de mão-de-obra e financiavam formações. José, com o apetite que tinha de aprender, abraçou as formações como oportunidades para a sua carreira. O nosso entrevistado terminou a sua passagem pela hotelaria e restauração, como gerente de um restaurante que pertencia a um centro administrativo brasileiro.

Após 22 anos de trabalho nesta área, José Gonçalves diz-nos que já estava cansado e como a sua mulher trabalhava na limpeza e gestão de condomínios de forma independente, eles decidiram empenhar-se em conjunto nesse projeto. Devido à maternidade, a sua mulher começou a gerir o condomínio do prédio onde viviam, para manter um trabalho a tempo parcial. Nos trabalhos de eletricidade, jardinagem, limpeza de vidros altos, por exemplo, José colaborava nas horas em que não estava em horário laboral, “aqueles trabalhos eram terapêuticos, porque a hotelaria é muito estressante”, confidencia-nos.

Os primeiros 10 anos trabalharam sempre de forma independente, não tinham ainda uma empresa formada. Apenas oficializaram a empresa há cerca de três anos. À medida que as crianças iam crescendo, a esposa de José Gonçalves ia tendo mais tempo livre e o número de condomínios também foi aumentando. A certa altura, o número já era significativo para que ambos se dedicassem ao negócio e procurassem fazê-lo prosperar.

Os condomínios da Rivière

A empresa G. Élite Services dedica-se à gestão de condomínios, manutenção técnica dos edifícios e limpezas. Para além dos prédios, fazem serviços em apartamentos, que podem incluir, para além da manutenção técnica e limpezas, acompanhamento de obras, mudanças, entre outras funções. O facto de ambos trabalharem muitos anos na hotelaria de luxo, permitiu-lhes criar uma rede de relações com elevado poder de compra. Dessa forma, a empresa de José está responsável por 30 prédios, entre Vevey, Montreux e Villeneuve, e cerca de 250 apartamentos. A divulgação dos serviços incidiu, na grande maioria, no passa-palavra entre os clientes e os futuros clientes, por darem um feedback positivo dos serviços prestados.

O negócio foi prosperando ao longo dos anos, devido à relação de confiança que José e a sua mulher mantêm com os clientes e pela dedicação que inculcam nas tarefas que desempenham. Algumas dessas relações foram criadas ainda nos tempos de hotelaria, porque as pessoas diziam que precisavam de ajuda em alguma tarefa e eles foram-se disponibilizando para ajudar. Por isso, mantiveram uma relação de cumplicidade de quase 20 anos com alguns deles.

Quando José Gonçalves fundou a empresa, já tinha obtido a nacionalidade suíça. Na sua opinião, esse detalhe foi importante para dar mais confiança aos seus clientes. Contudo, realça que uma pessoa sem nacionalidade tem a possibilidade de fazer tudo como ele. Como diversos clientes passam vários meses fora da Suíça, José tem as chaves dos apartamentos e quando lhe ligam a comunicar que vão regressar às suas casas suíças, eles preparam tudo para que sejam bem-recebidos.

Em geral, José ocupa-se da manutenção técnica, trabalhos exteriores, relação com o cliente e com os seus parceiros profissionais. O seu quotidiano é um pouco imprevisível. Dificilmente consegue planeá-lo porque surge frequentemente algum telefonema que o vai obrigar a resolver algum assunto inesperado. No entanto, “procuro sempre corresponder a todas as solicitações e faço os reajustes que forem necessários”.

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Um detalhe que o nosso entrevistado destaca, é o facto de ter parceiros profissionais de confiança. Em primeiro lugar, José procura empresários portugueses que atuem nas áreas que tem necessidades, “é mais fácil comunicar e também me agrada a ideia de dar dinheiro a ganhar a um português, porque há mais cumplicidade”, sorri perante estes laços que tenta preservar com a comunidade portuguesa. Contudo, assume com a mesma determinação de que se o trabalho não corresponder ao seu nível de exigência, opta por outra empresa.

Preparar a empresa para o futuro

Neste momento, a empresa de José Gonçalves e da sua mulher, emprega quatro funcionários, todos eles portugueses. O nosso entrevistado demonstra vontade em contratar mais um funcionário, que seja polivalente. De forma a organizarem o armazenamento dos equipamentos, adquiriram um pavilhão para guardar todos os materiais. Essa necessidade surgiu por terem duas garagens separadas e também porque pretendem fazer crescer mais o negócio, agora que o regresso a Portugal é cada vez menos uma possibilidade real.

O casal Gonçalves pretende encontrar mais prédios e apartamentos para que aumente o volume de negócio e consigam contratar pessoas. Esse objetivo caminha, lado-a-lado, com a vontade de ambos em se focarem na administração da empresa e contato com o cliente. “Dessa forma, podemos empregar mais pessoas e diversos serviços entregamos a outras empresas parceiras”, para que desempenhem cada vez menos tarefas dispersas no seu quotidiano.

Para já, ele conta-nos que a região onde atua tem um grande potencial de crescimento e que não quer ter de realizar diversos quilómetros diariamente. Mesmo estando a lidar com um público-alvo de elevada exigência, habituado a diversos confortos, conta-nos que fazer negócios na Suíça é muito simples, “há bastantes clientes suíços que têm uma grande abertura, mesmo quando andamos no exterior, no inverno, têm muita atenção para que estejamos confortáveis”, sorri.

A paixão pelo lago

José Gonçalves não hesita em dizer que a Suíça é um país lindo e diverso. Contudo, quando começa a avistar o lago Lemán, é invadido por uma sensação de conforto, de felicidade. “Já não era capaz de viver longe da água, é o nosso cantinho, sentimo-nos bem aqui”. O nosso entrevistado, destaca a diversidade cultural de Montreux, que, ao mesmo tempo, é uma pequena cidade com cerca de 25 mil habitantes. José não esquece de nomear o festival de jazz de Montreux como o grande evento estival da cidade.

O sonho adiado

Ao convidarmos José Gonçalves a partilhar conosco que projetos tem para o futuro, assume, com alguma amargura, que a mudança para Portugal em definitivo com que sonhava, talvez apenas aconteça daqui a muitos anos. “Os meus filhos estão ainda na escola e não querem ir para Portugal. A minha esposa iria, mas eu sou o que tem mais vontade”, assume a sorrir. Por isso, qualquer pretexto serve para ir até ao país luso visitar família e amigos.

Dessa forma, as pessoas da região de Montreux poderão continuar descansadas porque os seus prédios e apartamentos continuarão em boas mãos por vários anos.

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