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Entrevista com Présence Suisse

Matyassy: as melhores idéias são as mais simples. swissinfo.ch

swissinfo entrevista o embaixador Johannes Matyassy, chefe da Présence Suisse, sobre o novo logotipo da Suíça e a imagem do país no exterior.

“Quanto mais cedo e melhor são outros povos informados sobre a Suíça, mais fácil nos podemos nos movimentar pelo mundo”

Qual o objetivo de criar um logotipo para a Suíça?

Um dos nossos objetivos é tornar nossa imagem no exterior mais coerente. Queremos acabar com a confusão causada pela utilização de diversos logotipos, já utilizados por diversas organizações, para marcar a presença da Suíça no exterior.

Então como nasceu afinal o simbolo?

Convidamos diversas agências de publicidade para desenvolver esse novo logotipo. Várias apresentaram suas idéias e escolhemos algumas delas. Na Comissão a melhore foi afinal escolhida. A partir desse novo logo, qualquer evento suíço que conte com nosso apoio terá de utilizá-lo.

Existem exemplos de outros países que também utilizam logotipos para simbolizar a sua própria imagem? Os ingleses criaram o slogam “cool britania”.

“Cool Britania” não foi um sucesso. Um país bem sucedido na escolha de um logo foi a Holanda. Eles escolheram a tulipa como símbolo para a sua imagem no exterior. Eu estive com eles e pedi um auxílio em relação à nossa procura de um logo. Sua sugestão foi de utilizar montanhas para simbolizar a Suíça. Eu, pessoalmente, achei muito boa a idéia de associar tulipas com a Holanda. Essa é uma imagem que traz boas associações. Porem se colocássemos montanhas junto com o nome “Suíça” teríamos criado uma enorme polêmica e todos diriam que o governo estaria mais uma vez reforçando os clichês que já existem em relação aos suíços. Por isso falei a nossa agência que iríamos utilizar para o nosso logo a bandeira nacional suíça, que é conhecida mundialmente e é associada às mais diferentes qualidades do nosso país.

E os holandeses tiveram sucesso com a tulipa?

Os holandeses precisaram de doze anos até que o seu símbolo se tornasse conhecido. Hoje até mesmos suas empresas utilizam a tulipa ao lado da sua própria marca. Na Suíça estamos apenas começando com esse processo.

Porém olhando o novo logotipo da Suíça, não se tem impressão que o trabalho foi tão grande. Trata-se afinal apenas da bandeira com o nome do país embaixo. Para uma idéia tão básica é necessário contratar uma agência de publicidade?

Você tem razão. No início nós recebemos as propostas mais exóticas. Porem, como eu havia explicado, desde o início nós queríamos utilizar a bandeira suíça. Chegamos a pensar em pegar o símbolo da Swiss. No final das contas, as possibilidades eram tantas que a melhor decisão foi contratar uma agência especializada no tema e pagar para isso. Revelo que o preço não foi elevado.

A bandeira não seria muito fácil, muito óbvia?

E qual o problema disso? É importante dizer que esse logo foi criado antes de surgir a companhia aérea Swiss, com a sua própria imagem. Nosso problema é que precisamos de mais tempo para lançar nossa campanha.
Nosso objetivo de lançar esse novo logotipo basea-se na nossa tarefa fundamental de transmitir cinco valores básicos da Suíça no exterior: – a diversidade, a tradição humanitária, proximidade com o cidadão, a qualidade da marca “suíça” e a eficiência e inovação de nossa economia. Realizamos periodicamente diversas pesquisas de opinião para saber como somos vistos no exterior. Essas pesquisas mostraram que esses valores básicos são associados com o nosso país e à nossa bandeira. Dessa forma, a melhor forma de nos mostrarmos no exterior é exatamente utilizando a nossa bandeira.

E como será utilizado esse novo logo no exterior?

O logo será a bandeira, que estará acima da palavra “Suíça”. Porem essa palavra será traduzida nos diferentes idiomas onde a Suíça ira se apresentar, seja através de feiras, eventos ou festas.

O comentários de alguns críticos é que um logotipo utilizando uma bandeira nacional não poderá ser registrado, o que facilitará cópias ou abusos.

Essa questão ainda não estava esclarecida há um mês atrás, mas nós já temos a resposta. Esse logo não pode ser registrado. Porem nós podemos utilizá-lo apoiando-se nas leis que regulam a utilização da bandeira nacional. Sendo parte do governo, vamos utilizar sem limitações esse novo logotipo.

Porém a cruz branca sobre o fundo vermelho já é visto em todo tipo de produtos, muito comprados por turistas como camisas, brinquedos e até o famoso canivete?

Analisando a lei que proíbe a utilização de símbolos nacionais para uso privado, esses produtos não estão dentro da lei. Porém isso é normalmente ignorado.

Por que vocês não adotaram o logotipo utilizado pela organização turística suíça, a Schweiz Tourismus, com o “Edelweiss” (planta dos Alpes) e uma cruz suíça no meio?

Pois esse símbolo só atinge as pessoas que vêm passar suas férias na Suíça, e não o público que tem contato com o nosso país no exterior. O símbolo é muito bom e já encontra uma grande aceitação, porem queremos mostrar a Suíça política e não a Suíça das montanhas.

Os suíços têm uma idéia de como as pessoas os vêem no exterior?

Já realizamos diversos estudos desse tipo. Hoje acabamos de publicar os resultados da pesquisa que realizamos na Espanha e na França, para saber como esses parceiros europeus nos vêem. Os resultados foram muito bons. Dentre os aspectos vistos de forma muito positiva pelos estrangeiros, de forma geral, é a nossa estabilidade política. Outro aspecto positivo é a proteção da ecologia na Suíça, nossa qualidade de vida e qualidade dos nossos produtos. Esses são os destaques. Porém existem também os pontos negativos: nas pesquisas descobrimos que, para o estrangeiro, a Suíça não é vista como um país inovativo, a integração dos cidadãos na política não é muito boa e o nosso engajamento humanitário é fraco.

E como influenciam os escândalos suíços, conhecidos pelos estrangeiros através da imprensa, como dinheiro de ditadores em contas bancárias suíças, contas sem nome de vitimas do holocausto que acabaram sendo desapropriados, etc?

Entrevistamos diferentes tipos de pessoas nas nossas pesquisas de opinião: chefes de empresa, estudantes, políticos e cidadãos comuns. Para as pessoas que se ocupam intensivamente com o nosso país, esses temas são bem conhecidos. Porem é preciso ver que, uma história como essa de contas numeradas de judeus, o seu ponto alto foi em 1996-1997. Agora quase todo mundo já esqueceu esse assunto. Porem não deixamos de perguntar esses temas. O que nos surpreendeu, foi que histórias escandalosas sobre a Suíça não tiveram grande influência na imagem do país. Isso nos leva a concluir que a imagem de um país é formada a médio e longo prazo.

Porém é curioso de ver que os pontos negativos vistos por estrangeiros não correspondem muito a realidade da Suíça. Isso é verdade?

A opinião de que não somos muito inovativos está correta parcialmente. Existem realmente setores onde não somos inovativos, porém essa opinião dos estrangeiros mostra que não estamos mostrando nossos pontos fortes ao público externo. Quanto à crença de que nosso sistema político não é muito democrático, trata-se de desconhecimento das nossas instituições no exterior. Na questão do engajamento humanitário, tenho de dizer que isso é verdade – a Suíça não é muito forte nas questões de ajuda para o desenvolvimento, missões de paz, política de imigração, etc.

Qual a vantagem que a Suíça pode ter ao trabalhar a sua imagem no exterior? Seria algo que possa ser avaliado materialmente?

O melhor exemplo que posso dar sobre a importância de nos tornamos mais conhecidos, ou dos estrangeiros terem um contato mais intenso com o nosso país, é com relação à chefes de Estado. Quando eles já estiveram em escolas ou universidades suíças, já viveram no nosso país, passaram dias ou meses aqui em missões de trabalho, então seu contato com a Suíça passa a ser muito mais emocional. Então a compreensão entre parceiros políticos é funciona melhor. O diálogo entre eles é diferente. Quanto mais cedo e melhor são outros povos informados sobre a Suíça, mais fácil nos podemos nos movimentar pelo mundo. O que fazemos, como órgão encarregado de trabalhar essa imagem é baixar um tapete: quando nossas instituições turísticas ou empresas chegam num país, eles já têm sobre o que caminhar.

Os suíços têm problema geral com a sua própria imagem?

Esse é um aspecto bem interessante. Não posso negar que os suíços são vistos realmente através de determinados clichês, mas isso é comum em qualquer país. No caso da Suíça eles vão de Heidi, chocolate, montanhas, vacas pastando com sinos no pescoço e vão ate mesmo aos bancos. Esses clichês são, de certa forma, até positivos para os estrangeiros, quando são analisados mais profundamente. O problema é na verdade interno. No ultimo domingo, estive presente ao 10 ° Encontro de Jovens Parlamentares Suíços. Uma jovem mulher disse-me: eu não quero que a Suíça seja conhecida só através desses clichês como montanhas, vacas, mas como um povo multicultural. Eu disse para ela que isso também era também um clichê, assim como as vacas, montanhas e chocolate. Na minha opinião o importante é que esses clichês tragam valores positivos para o nosso país. Eu seria a ultima pessoa a combatê-los. O objetivo final da nossa campanha de imagem, com a criação de um logotipo nacional, é complementar esses clichês para dizer que a Suíça também tem outros pontos positivos que precisam ser conhecidos: nossa democracia, tradição humanitária, tecnologia, etc. Não queremos embelezar a imagem da Suíça, mas sim de torna-la mais autêntica e clara para os estrangeiros.

swissinfo/Alexander Thoele

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