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Equipe mapeia pontos de ajuda à Nova Friburgo

Soldados resgatam corpos em Nova Friburgo, dia 19 de janeiro. Keystone

“Fizemos contato com mais de duzentos cidadãos suíços que constam da lista do Consulado-Geral no Rio de Janeiro e podemos dizer que todos estão sãos e que tudo vai bem com eles”.

Em meio ao profundo sentimento de luto que se abateu sobre Nova Friburgo desde que foi parcialmente destruída, a notícia do especialista em ajuda humanitária Sebastian Eugster é um alívio para quem têm parentes ou laços afetivos na cidade construída por colonos suíços em 1819.

































Sebastian Eugster é o chefe da equipe de três especialistas – integrada também por Olivier Lateltin e Roberto Mendéz – do Corpo Suíço de Ajuda Humanitária enviada ao Brasil pelo governo suíço para ajudar o Consulado-Geral no reconhecimento e na ajuda aos cidadãos suíços eventualmente tocados pela tragédia, além de fazer um reconhecimento das necessidades mais urgentes onde a Suíça poderá ajudar Nova Friburgo.

Missão cumprida

“Foram cinco dias de missão no Brasil, trabalhamos três dias inteiros em Nova Friburgo e dois dias no Rio de Janeiro, um para os preparativos iniciais e outro para a finalização do relatório da missão”, conta Eugster, em entrevista exclusiva à swissinfo.ch. De retorno à Suíça no domingo (23), a equipe agora apresentará o relatório às autoridades federais: “Os objetivos principais da missão –  ajudar a estabelecer contato com todos os suíços da região e, em segundo lugar, fazer uma análise das necessidades mais urgentes e mapear as possibilidades de a Suíça dar apoio – foram atingidos”, adianta Eugster.

Segundo o cônsul-geral da Suíça no Rio, Hans-Ulrich Tanner, a principal ajuda deverá se dar na transferência de conhecimento para o aumento da capacidade da Região Serrana do Rio (onde Nova Friburgo está localizada) de prevenir e minimizar os efeitos de desastres climáticos dessa magnitude: “Eu acredito que a Suíça tem verdadeiras coisas a oferecer nesse sentido. Existem já algumas idéias para o futuro próximo, como participar de um seminário de avaliação que deverá ser convocado pelas autoridades locais. Nesse seminário, é nossa intenção já colocar em prática essa questão da transferência de expertise”, afirma.

Eugster concorda com Tanner: “Um ponto central em toda a gestão de riscos, é que a gente sempre aprende com o passado. É um aspecto onde a Suíça aprendeu muito ao longo dos anos. Temos uma paisagem similar, existem montanhas, existem florestas, existem muitas precipitações intensivas e chuvas intensas. Aprendemos com destruições similares, mas, nunca dessa magnitude. Acho que o aspecto central é que nós conhecemos a situação, nós conhecemos os riscos”, diz.

“Conversamos muito com geólogos brasileiros, e eles já estão identificando os hot-spots, os lugares críticos. É preciso observar esses lugares para, no caso em que isso se repita, com o aumento do conhecimento repartido entre todos se possa alertar as pessoas e evacuar as pessoas. No geral, eu acho que existe muita capacidade de previsão e de preparação, mas é preciso melhorar continuamente essa capacidade. Esse é um aspecto em que a Suíça pode oferecer sua expertise”, conclui Eugster.

Autoridades

Antes da chegada da equipe de especialistas suíços à Nova Friburgo, alguma confusão foi feita pelas autoridades, e o prefeito chegou a anunciar que uma equipe formada por 20 especialistas em salvamento treinados nos Alpes seria enviada pelo governo suíço para ajudar nas operações de resgate. Desfeito o mal-entendido, segundo Eugster, a relação foi a melhor possível: “Fomos recebidos de braços abertos pelas autoridades brasileiras e de Nova Friburgo em particular. Nossa missão, que era dar apoio ao Consulado, era muito clara desde o início”.

Eugster faz uma ressalva: “Nós apreciamos todo o apoio que recebemos das autoridades, mas também das pessoas privadas. Todo mundo a quem perguntamos alguma coisa foi muito caloroso e isso certamente tornou mais agradável o nosso trabalho”, disse. O clima, na cidade segundo ele, é de ajuda mútua: “Tem muita solidariedade. Eu estive em um centro que faz coleta e distribuição de doações. Existem muitos voluntários, tem muita gente que trabalha voluntariamente para ajudar o vizinho, muita gente hospedou os vizinhos em sua casa. Os suíços, assim como os outros, participam dessa corrente de solidariedade. Mas, não podemos diferenciá-los, pois há uma grande corrente de solidariedade em toda a cidade”.

O especialista suíço elogia o trabalho que está sendo realizado no Brasil: “É preciso compreender que uma catástrofe dessa magnitude é realmente um grande choque para qualquer país. Acho que o Brasil está fazendo um trabalho muito bom, com muita coordenação. Nós ficamos impressionados com a capacidade logística colocada à disposição.

Comparando com outras crises em que estive presente, posso dizer que os brasileiros estão sendo muito eficazes em seu trabalho. Atualmente, eles se concentram no trabalho de recuperação para restabelecer todos os serviços básicos, como eletricidade, comunicações e estradas. Agora, será preciso encontrar soluções para as pessoas que perderam suas casas”, avalia.

Tsunami na montanha

Com larga experiência em cenários posteriores a catástrofes naturais em várias partes do mundo, Eugster compara a situação brasileira com uma experiência vivida no ano passado em outro país sul-americano: “Talvez uma tragédia que possa ser comparada a essa da Região Serrana seja o terremoto do Chile. Toda a devastação que havia em Nova Friburgo foi causada por deslizamentos de terrenos tão violentos e rápidos que fizeram com que, de um segundo a outro, uma casa fosse tocada. Não foi como uma inundação tradicional, onde a água sobe pouco a pouco. O que houve foi realmente um choque, como um golpe”.

“A devastação em Nova Friburgo tem a força da natureza e ela é impressionante. Eu vi a devastação que aconteceu após o tsunami ocorrido no Chile em conseqüência do terremoto, e posso afirmar que os desgastes em Nova Friburgo são comparáveis. Há a força da água que demoliu tudo. No caso da Região Serrana, a combinação de água, terra e pedras produziu uma força à qual não há infraestrutura que possa resistir. Se há uma casa no caminho de uma ação da natureza como essa, tudo é destruído. Se as pessoas conseguem se salvar, então elas são felizardas”, diz.

O número de vítimas da tragédia que se abateu sobre a Região Serrana do Rio de Janeiro no dia 12 de janeiro não cessa de crescer. Até a tarde de sgunda-feira  (24), dados da Defesa Civil e da Secretaria Estadual de Saúde contabilizavam 814 pessoas mortas.

Seis municípios (Nova Friburgo, Petrópolis, Teresópolis, Bom Jardim, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto) foram atingidos pela descomunal força das águas e perderam vidas humanas, mas a cidade fundada por imigrantes suíços foi a mais destruída e já contabiliza 389 mortos.

 Para completar o quadro de luto e dor, o Ministério Público divulgou uma lista estimando em 513 o número de pessoas desaparecidas na região.

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