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Era pós-Arafat já começou

A morte do líder histórico deixará um grande vazio para os palestinos. Keystone Archive

O líder histórico dos palestinos está em estado de coma no hospital militar Percy, perto de Paris. Uma parte de seus poderes foi transferida ao primeiro ministro palestino.

Dois especialistas suíços analisam a sucessão e as perspectivas de paz no Oriente Médio, sem Arafat.

Para o especialista suíço do Oriente Médio, Erich Gysling, mesmo se Yasser Arafat perdeu parte do apoio do povo palestino nos últimos anos, ele continua sendo respeitado por quase ter conseguido criar um Estado palestino independente.

O deputado federal Daniel Vischer esteve recentemente na Cisjordânia e emite a mesma opinião. “Arafat teve um papel preponderante na condução dos palestinos à situação em que se encontram atualmente. Ele foi o responsável pela maioria das coisas boas que aconteceram com os palestinos”, afirma o deputado.

Mas fora dos territórios ocupados por Israel, o papel do líder da Autoridade Palestina é mais relativo, segundo Erich Gysling.

Como chefe militar da OLP (Organização de Libertação da Palestina), Yasser Arafat esteve envolvido com a violência e o seqüestro de aviões desde o final dos anos 60 e nos anos 70.

Anos mais tarde, ele foi mediador entre as diferentes facções palestinas e dividiu inclusive o Prêmio Nobel da Paz com o então primeiro ministro israelense, Ytzhak Rabin e o ministro das Relações Exteriores, Shimon Peres.

Esperanças perdidas

Mas as esperanças de paz se dissiparam depois do fracasso das negociações de Camp David, em 2000. A partir daí, Yasser Arafat perdeu muito do apoio que tinha da comunidade internacional.

Nos últimos anos, o presidente palestino esteve cada vez mais isolado, confinado por Israel em seu quartel geral da Mouqataa, em Ramallah, na Cisjordânia.

“Para os palestinos, ficará a imagem de quem negociou a paz com Israel, mesmo se ele fracassou na reta final”, acrescenta Erich Gysling.

Segundo o especialista suíço, a visão de Israel segundo a qual Yasser Arafat era um comandante terrorista, não corresponde à realidade. E o fracasso das negociações de Camp David não foi de sua única responsabilidade.

“Alguns observadores afirmam que Israel não concordou em ceder parte de Jerusalém nem o direito ao regresso dos refugiados palestinos”, lembra Gysling.

As perspectivas de paz

Atualmente, os analistas estão céticos quanto às perspectivas de paz na região, sobretudo sobre o direito ao regresso dos refugiados palestinos aos territórios ocupados por Israel.

Para Daniel Vischer, os palestinos vão insistir nesse ponto nas futuras negociações com Israel. Essa é a principal dificuldade para os palestinos aceitarem o plano de paz suíço, não oficial, proposto pela Iniciativa de Genebra.

Esse acordo, lançado em dezembro de 2003 e que prevê a divisão de Jerusalém, a criação de um Estado palestino independente e a renúncia dos palestinos ao direito de regreesso dos refugiados, não foi reconhecido oficialmente pela Autoridade Palestina, muito menos por Israel.

Violência e pobreza

Por sua vez, Israel coloca como condição prévia às negociações de paz o fim das atividades dos diferentes grupos armados palestinos, autores de freqüentes atentados e ataques suicidas contra seu território.

Para Erich Gysling, a extrema pobreza na Faixa de Gaza é uma das razões principais da existência dos grupos islamistas armados é o maior problema que o sucessor de Arafat terá de resolver.

“Entre 40 a 60% dos palestinos vivem abaixo do limite da pobreza. A maioria sobrevive com pouco mais de 1 dólar por dia. O nível de vida é parecido com o Camarões ou do Haiti”, afirma o especialista suíço.

Ele conclui que “se essa situação não mudar drasticamente, o sucessor de Yasser Arafat nada poderá fazer frente aos fundamentalistas islâmicos”.

swissinfo, Morven Mclean
tradução, Claudinê Gonçalves

– Yasser Arafat nasceu no Cairo, Egito, dia 4 ou 24 de agosto de 1929.

– Seu nome de nascimento é Muhammad Abd al-Rahman ar-Rauf al-Qudwah al-Husayni. Ele também é conhecido como Abu Ammar.

– Ele é o líder da Autoridade Palestina desde 1993 e presidente palestino desde 1996.

– Foi chefe militar da OLP desde 1969 e chefe do Fatah, principal facção da OLP.

– Em 1994, Arafat recebeu o Nobel da Paz junto o primeiro ministro isralense Ytzak Rabin e o ministro das Relações Exteriores Shimon Peres.

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