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Estudantes avaliam professores na Internet

Hoje em dia, não são apenas os estudantes que sofrem pressão. Keystone Archive

Docentes em universidades e escolas técnicas na Suíça estão sendo qualificados por número de estrelas. Elas são dadas através de uma avaliação "online" feita pelos seus próprios alunos.

O site MeinProf.ch funciona desde dezembro do ano passado. Professores que recebem más notas reclamam do tratamento.

Desde que foi lançado, o site MeinProf.ch já recolheu duas mil e quinhentas avaliações. Para alguns professores elas trouxeram algumas surpresas, se bem que nem todas agradáveis. Se ensinar swahili, o idioma bantu falado em países como o Quênia, Tanzânia ou Uganda, garante boas notas, exortar as virtudes da informática ou da boa gestão não significa conquistar o coração dos estudantes.

Jochen Bigus, professor de administração de empresas na Universidade de Berna, é um dos que se admiram com os resultados. Na qualificação geral, seus alunos lhe deram apenas 2,2 pontos (o máximo é cinco). No fator “satisfação nas aulas” a situação é até pior: 1,8 pontos. Ele admite estar “perplexo” com as notas que recebeu.

“Em minha opinião, o resultado está deturpado. Afinal, apenas seis estudantes me avaliaram. Nas avaliações internas da universidade, onde mais do que cem estudantes participam, minha avaliação é bem melhor”, declara.

Bigus coloca o dedo no que considera como um ponto “frágil” do sistema de notação online. O número de avaliações é muito baixo, apesar de ser considerado pelos criadores do site como satisfatório. Isso faria com que as notas dadas pelos alunos não sejam realmente “representativas”.

“De fato, precisamos dez vezes mais avaliações”, admite Patrick Mollet, um dos responsáveis pelo site MeinProf.ch. “Para ser verdadeiramente representativo, é necessário ir além da comunidade de estudantes de língua germânica, para atingir a comunidade francófona e italófona”.

Por outro lado, Mollet defende a iniciativa, argumentando que esta seria a única maneira de realizar uma avaliação pública e democrática do desempenho de cada professor nas universidades e escolas técnicas.

“Avaliações internas permanecem confidenciais. No final, elas são escondidas em um lugar qualquer e ninguém sabe o seu conteúdo”, avalia.

Pró e contra

Apesar de a sua contagem pessoal ter sido relativamente baixa, o professor Bigus não vê o sistema como sendo unicamente negativo.

“É bom para os estudantes ter essa abertura e poder dizer o que pensam. Isso nos encoraja a melhorar o trabalho. Porem, eu acho que existem aqueles que aproveitariam do sistema apenas para denegrir os docentes por uma questão pessoal”.

Para Mollet, a solução ao problema está na questão da participação. “Como mostra a versão do site na Alemanha, quanto mais avaliações, mais fácil é para aquelas que estão fora de contexto de desaparecerem na massa”.

Alguns professores já reclamaram pela sua avaliação e publicação aberta dos resultados. Outros chegam mesmo a ameaçar de processar os responsáveis pelo site.

“Houve ameaças, mas até agora nenhuma delas foi cumprida”, explica Mollet, se mostrando confiante que o site não sofrerá nenhuma penalização judiciária.

Parte da tranqüilidade se explica graças às declarações feitas por parte da Comissão Federal de Proteção aos Dados Pessoais. Nelas, os funcionários consideram que as informações disponibilizadas pelo site não são confidenciais e que os critérios utilizados na avaliação do corpo docente seriam “factuais”.

Outra razão para não temer o fechamento do site está também na experiência dos países vizinhos. Na Alemanha, os responsáveis pelo site foram processados por um professor, insatisfeito com seus resultados, pelo fato da sua avaliação também contar com vários comentários considerados por ele como “difamatórios”.

Os juízes absolveram os acusados, argumentando que os comentários difamatórios haviam sido retirados em tempo e que os responsáveis pelo site não teriam obrigação de monitorar as páginas 24 horas por dia.

Mollet considera que o real problema está no medo do corpo docente de ser avaliado abertamente, um conceito novo para a grande parte dos professores, apesar de já estar sendo aplicado em vários outros países.

Para Bigut, não há problema se os resultados da avaliação são bons ou ruins. Ele admite que os professores terão que se acostumar com a crítica pública. Ele apenas espera que o sistema não permita abusos.

“Essas avaliações não são sempre benéficas para os professores, pois podem dar a falsa impressão – boa ou ruim. Os resultados podem ser conseqüências futuras, como no momento em que o financiamento das instituições for decidido”, avalia o professor.

swissinfo, Scott Capper

O site “MeinProf” foi iniciado por cinco estudantes universitários de Berlim, em 2005, como um sistema de avaliação do corpo docente em toda a Alemanha.

Nele, os estudantes podem pontuam professores e assistentes de acordo com sete critérios, incluindo também comentários. As diferentes categorias de avaliação são imparcialidade, apoio, material de estudo, entendimento, prazer, carga de trabalho e recomendações.

Os autores do projeto argumentam que o site ajuda os estudantes a escolher os melhores cursos e instituições de ensino.

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