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Europa cooperou com vôos da CIA

Dick Marty participa de uma coletiva de imprensa em Paris. Keystone

Quatorze países europeus colaboraram com a CIA, a agência de inteligência americana, nos vôos secretos para transportar suspeitos de terrorismo.

Essa é a conclusão do relatório encomendado pelo Conselho da Europa – a agência que supervisiona a política de direitos humanos no continente – ao senador suíço Dick Marty.

Casos concretos existem e foram noticiados na imprensa: o turista alemão Khaled el-Masri foi seqüestrado no início de 2004 ao tentar atravessar a fronteira da Macedônia e levado para o Afeganistão, onde foi interrogado e torturado por vários meses, até ser libertado na Albânia.

Em 2003, o imame egípcio Osama Mustafa Hassan Nasr, mais conhecido como Abu Omar, foi raptado numa rua de Milão por 13 agentes da CIA e levado para o Egito, depois de uma curta parada no aeroporto alemão de Ramstein. A justiça italiana expediu um mandato internacional de prisão contra os autores do seqüestro, porém nenhum dos agentes foi detido ou expatriado para a Itália. Omar está incomunicável numa prisão egípcia, num país onde denúncias de abusos aos direitos humanos são freqüentes.

Se o governo alemão está envolvido diretamente com os dois casos, Dick Marty, senador suíço e também presidente da Comissão de Assuntos Jurídicos e Direitos Humanos da assembléia parlamentar do Conselho da Europa, prefere deixar a questão em aberto. Sua certeza é que a Alemanha foi utilizada “voluntariamente ou involuntariamente” como “ponto de partida” para os vôos que transportavam pessoas detidas dentro da guerra contra o terrorismo.

Países suspeitos

“Agora está claro – embora nós ainda estejamos longe de estabelecer a verdade -que as autoridades de vários países europeus participaram ativamente com a CIA nas atividades ilegais”, afirma Marty no relatório final sobre o caso das prisões clandestinas do serviço secreto americano entregue hoje em Estrasburgo, França.

Segundo uma cópia do relatório, obtida pela BBC, 14 países teriam sido coniventes com os Estados Unidos ao permitir que os seus espaços aéreos ou suas instalações fossem usadas para transportar ou interrogar suspeitos. Os aviões da CIA teriam utilizado Portugal, Irlanda, Grécia e Grã-Bretanha como campo de pouso. Na Itália, Suécia, Bósnia-Herzegowina e Macedônia, o serviço secreto americano teria seqüestrado pessoas suspeitas.

A acusação mais foi feita no relatório contra a Polônia e a Romênia. Provas obtidas pelo senador suíço reforçam a tese de que CIA teria mantido ou continuaria a manter prisões secretas nos territórios dos dois países. O serviço secreto americano teria conseguido expandir sua rede de combate ao terrorismo na Europa graças “ao apoio ativo ou passivo de alguns governos europeus”, afirma.

“Mesmo não dispondo ainda de provas concretas no estrito senso da palavra, os fortes indícios nos levam a concluir que esse tipo de prisão realmente existiu no coração da Europa. Precisamos continuar investigando”, continua Marty.

Denúncias do Washington Post

O relatório de 67 páginas, preparado pelo senador suíço segue o pré-relatório apresentado no final de janeiro, onde Marty levanta a suspeita da existência de diversas prisões da CIA, onde “centenas” de pessoas estariam sendo mantidas presas devido as suas supostas atividades terroristas.

As alegações de que a CIA mantinha prisões secretas no Leste Europeu, no Afeganistão e na Tailândia surgiram pela primeira vez em novembro do ano passado na reportagem do Washington Post.

Segundo o jornal, essas prisões foram estabelecidas depois dos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos e desde então mais de 100 pessoas teriam sido enviadas para “pontos negros”.

Inicialmente governos europeus pediram satisfações aos Estados Unidos, mas em seguida a mídia de vários países divulgou relatos de que a CIA teria usado aeroportos europeus no seu programa de “rendições extraordinárias”.

O programa consistiria em enviar suspeitos de terrorismo para serem interrogados por agentes de segurança em outros países, onde eles não contam com a proteção nem com os direitos assegurados pela lei americana.

swissinfo com agências

O Departamento Federal de Aviação confirmou que seis vôos suspeitos da CIA pousaram em aeroportos suíços.
Ao mesmo tempo, aviões suspeitos de serem utilizados pelo serviço secreto americano no transporte de prisioneiros teriam atravessado 76 vezes o espaço aéreo suíço entre 2001 e janeiro de 2006.
O órgão declarou ainda que os vôos estavam registrados como “não-comerciais”.

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