Ex-congressista George Santos se declara culpado e evita julgamento nos EUA
O ex-congressista republicano de origem brasileira George Santos, expulso do Congresso após ser acusado de corrupção, declarou-se culpado nesta segunda-feira (19) de fraude eletrônica e roubo de identidade, crimes que podem o levar a passar de dois a 22 anos na prisão.
“George Anthony Devolder Santos declarou-se culpado de fraude eletrônica e roubo de identidade agravado”, apontaram fontes do tribunal federal distrital de Isling, a leste de Nova York.
A declaração de culpabilidade evita o julgamento que começaria no mês que vem. A juíza instrutora do caso, Joanna Seybert, anunciará a sentença em 7 de fevereiro, mas o promotor Breon Peace adiantou que ele “irá para a prisão por no mínimo dois anos”.
Não obstante, os 23 crimes dos quais este filho de imigrantes brasileiros era acusado podem lhe render até 22 anos de prisão.
Além disso, Santos terá que restituir 373.749,97 dólares (R$ 2.026.883,46, na cotação atual) e pagar uma multa de 205.002,97 dólares (R$ 1.111.751,60) como parte do acordo de culpabilidade, segundo o tribunal.
O ex-congressista, de 36 anos, era acusado de mentir ao Comitê Federal Eleitoral, usurpação de identidade, lavagem de dinheiro e desvio de recursos da campanha eleitoral para sua conta pessoal.
Segundo a Promotoria, Santos também utilizou cartões de crédito de seus doadores sem autorização para comprar roupas de grife, realizar pagamentos, pagar a entrada de um automóvel e retirar dinheiro em caixas eletrônicos.
Também recebeu auxílio durante a pandemia de coronavírus ao qual não tinha direito e prestações de seguro-desemprego mesmo tendo uma atividade remunerada.
Santos mentiu ao Congresso americano sobre sua riqueza pessoal, “inventando milhões de dólares em ativos que nunca existiram e escondendo sua renda real”, disse o promotor.
“Hoje, […] Santos disse a verdade sobre seus planos delitivos. Admitiu ter mentido, roubado e enganado as pessoas”, disse o promotor.
“Sua alegação [de culpabilidade] representa justiça para esses eleitores e as instituições governamentais, bem como para as vítimas individuais”, acrescentou Peace.
Em sua declaração, Santos admitiu que permitiu que “a ambição anulasse” o seu “juízo”.
“Sentir-me culpado é um passo que nunca imaginei dar, mas é necessário, porque é o correto”, acrescentou. Não apenas diante dos demais, mas pelo “reconhecimento das mentiras que disse a mim mesmo nos últimos anos”.
Após pedir “sinceras desculpas” a sua família, amigos e simpatizantes, e aos eleitores de seu distrito, reconheceu que havia “falhado” com eles.
– Nova cara –
Após se negar a renunciar à sua cadeira quando foi indiciado, a Câmara dos Representantes o expulsou em dezembro do ano passado. A comissão de ética da Câmara o acusou de ter “prejudicado gravemente a reputação” do órgão legislativo.
Assim, ele se tornou o sexto congressista obrigado a deixar o cargo na história da instituição. O último cargo eleito do Congresso destituído de sua cadeira foi o democrata do estado de Ohio James Traficant, em 2002, após ser acusado de corrupção. Ele foi condenado a oito anos de prisão.
Santos se apresentou como “a nova cara do Partido Republicano” e construiu uma figura de candidato nas eleições legislativas de novembro de 2022 baseada em mentiras sobre sua educação, religião, experiência profissional, bens e salários.
Também alegou que havia trabalhado para grandes bancos como Goldman Sachs, e que foi uma estrela do voleibol na universidade. Além disso, o ex-congressista falsificou seu histórico familiar, afirmando ser descendente de judeus sobreviventes do Holocausto que fugiram da barbárie nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
Em maio de 2023, a Promotoria o acusou inicialmente de dez crimes, que foram ampliados para 23 em outubro de 2023. Até agora, Santos, que aguardava o julgamento em liberdade, havia se declarado inocente de todas as acusações.
Uma investigação realizada pelo jornal The New York Times quando ele já estava no Congresso revelou suas mentiras e propiciou a investigação que pôs um fim abrupto à sua breve carreira política.
No ano passado, sua ex-tesoureira de campanha, Nancy Marks, se declarou culpada de manipular os registros financeiros da campanha em coordenação com o ex-congressista, incluindo um papel na declaração fraudulenta de um empréstimo fictício de 500.000 dólares (R$ 2.711.550) que Santos afirmou ter feito para sua campanha.
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