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Genebra se recusa a retirar uma foto que critica presidente turco

O fotógrafo Demir Sönmez mostra sua foto em frente ao prédio das Nações Unidas, em Genebra Keystone

As autoridades de Genebra se recusaram a remover uma fotografia de uma exposição na cidade que culpa a morte de um adolescente turco ao presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. As autoridades turcas exigiram que a foto fosse excluída do evento.

Em um comunicado divulgado na terça-feira (26), as autoridades da cidade de Genebra disseram que apoiavam a liberdade de expressão e anunciaram que iriam manter a autorização para que exposição possa continuar até o dia 1º de maio.

Na segunda-feira, as autoridades de Genebra receberam uma queixa do consulado da Turquia feita à Suíça, exigindo que uma fotografia de um adolescente morto, que faz parte de uma exposição fotográfica exibida na praça Place des Nations, em frente à sede europeia da Nações Unidas, fosse retirada.

A foto, realizada pelo fotógrafo turco-suíço Demir Sönmez, que é de origem curda e armênia, mostra uma faixa de março de 2014 que acusa Erdogan de ter sido responsável pela morte de um adolescente na praça Taksim, em Istambul, em junho de 2013. A legenda da fotografia diz: “Meu nome é Berkin Elvan. A polícia me matou por ordem do primeiro-ministro turco”.

A embaixada turca em Berna declarou à televisão pública suíça, SRF, que respeita a liberdade de qualquer artista, mas disse que a foto coloca Erdogan “sob suspeita de uma forma injusta e ilusória”.

Tolerância zero: o Ministério Público turco já abriu mais de 1800 casos contra insultos a Erdogan desde que ele se tornou presidente em 2014 Keystone

A prefeitura de Genebra disse apoiar a exposição, que segundo ela “participa na direção da liberdade de expressão e destaca o papel de Genebra como capital dos direitos humanos”.

A exposição fotográfica recebeu o apoio da cidade de Genebra e da organização Repórteres Sem Fronteiras. Ela também inclui imagens de protestos a favor e contra Israel, pelos direitos da minoria Yazidi no Iraque e de apoio ao líder militante curdo Abdullah Ocalan.

Sonmez disse que não estava surpreso com o pedido da Turquia. “No final, a Turquia acabou dando um tiro no próprio pé”, disse.

O ministro suíço das Relações Exteriores, Didier Burkhalter, saudou a decisão de Genebra na rádio pública suíça, RTS: “A liberdade de expressão deve ser uma prioridade.”

Tempestade alemã

A controvérsia na Suíça foi gerada logo após uma tempestade política na Alemanha, que permitiu a abertura de um processo judicial contra o comediante alemão Jan Böhmermann por insistência de Ankara. Böhmermann será julgado por fazer insinuações sexuais sobre Erdogan na televisão alemã.

A decisão de iniciar um processo na Alemanha contra Böhmermann, com base em uma lei de 1871 que proíbe a difamação de líderes estrangeiros, gerou protestos no país em defesa do direito da liberdade de expressão.

O Ministério Público turco já abriu mais de 1800 casos contra insultos a Erdogan desde que ele se tornou presidente em 2014, confirmou o ministro da Justiça do país no mês passado. Os alvos incluem jornalistas, cartunistas e até mesmo crianças.

Assim como a Alemanha, a lei suíça contém uma cláusula que proíbe insultos aos líderes estrangeiros. Em 2010, a Suíça aplicou sua versão da lei contra um grupo político de Genebra que fez cartazes alusivos ao líder líbio Muammar Gaddafi com o slogan “Ele quer destruir a Suíça”. O processo foi arquivado um ano depois, quando Gaddafi foi derrubado.

O garoto da foto, Berkin Elvan, entrou em coma após receber na cabeça uma bomba de gás lacrimogênio lançada pela polícia turca quando saía para comprar pão, em seu bairro, em junho de 2013. Sua morte, em 11 de março de 2014, gerou manifestações de milhares de pessoas em várias cidades turcas, condenando o governo de Erdogan, que na época era primeiro-ministro.

Adaptação: Fernando Hirschy

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