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Exposição trata do tema da “meia-idade”

Pellerin - "Degraus das idades", por volta de 1810. cortesia

Um pequeno centro cultural suíço acaba de organizar uma exposição para debater de forma inteligente e bem-humorada a questão da meia-idade.

Se os visitantes são confrontados aos próprios medos e aspirações, eles também descobrem os mitos do período que é visto por muitos como o mais crítico da vida.

A primeira impressão é a música que sai do alto-falante logo na entrada. Com os fones no ouvido e frente à imagem do rosto de uma mulher já na sua meia-idade, com impressionantes olhos azuis e as rugas despontando, o visitante escuta a canção “A partir disso só foi ladeira abaixo” (n.r.: “Von nun an gings bergab”.), interpretada por Hildegard Knef, uma das mais famosas artistas alemãs da sua geração e falecida em 2002 aos 77 anos.

“A canção de Knef é um comentário irônico ao esforço que fazemos em busca do sucesso”, explica Beate Schappach, curadora juntamente com Andreas Schwab da exposição “Meio-tempo – uma vista à metade da vida: pensamentos, sonhos e fatos concretos”, recém-inaugurada pelo Centro Cultural Vögele em Pfäffikon, vilarejo localizado ao sul de Zurique. A ironia da canção também vale para o cartaz da exposição, um fósforo queimado pela metade. Possivelmente assim é que se sentem as pessoas que chegaram aos fatídicos quarenta anos, apesar de que muitos consideram a chamada “meia-idade” uma faixa mais larga, que poderia ir dos trinta aos cinquenta anos.

Como os organizadores explicam, esse grupo não é um fator estatístico, mas sim “um sentimento de ter chegado à metade do caminho”, concretizado pela situação em que a pessoa acumula experiência, responsabilidade e renda, participando ativamente da sociedade, mas já sentindo o peso da idade através de sinais visíveis no corpo, sejam as primeiras doenças crônicas, dores, queda ou embranquecimento dos cabelos. A frase ilustrada nas paredes “Você nem parece ter a sua idade” lembra a dualidade: o que parece um elogio, é na verdade a lembrança de que a beleza está ligada à juventude e essa já se foi.

Escadas 

Por isso não é coincidência que os curadores tenham selecionado várias ilustrações europeias, algumas datando da Idade Média. Todas têm em comum o fato de apresentar a vida como uma escada em formato de pirâmide, onde cada degrau corresponde a dez anos. A primeira metade da vida é a ascendência, onde a pessoa acumula experiência até chegar aos cinquenta anos. Do cume ela admira tudo que conquistou e aprecia o reconhecimento da sociedade. Mas depois a descida é inevitável, com o preço cobrado pela idade crescente até chegar à decrepitude e, finalmente, à morte.

Porém essa imagem mudou, sobretudo para aqueles que acham ter chegado à meia-idade. É o que explicam os organizadores. “Essa impressão geral mudou. Hoje em dias as pessoas querem organizar de forma ativa a segunda parte da sua vida e tomam, muitas vezes, decisões de criar novas bases para ela, quase como se quisessem começar de novo”, explica Schappach.

Para ilustrar essa vontade, o curador incluiu na exposição o perfil de várias pessoas, suíços comuns ou até personagens históricas. Paul Nizon foi um deles. Ao chegar aos cinquenta anos, jornalista famoso em Zurique, ele passou a considerar a vida tediosa e sufocante. Largou tudo e virou escritor em Paris, onde vive há 34 anos. Outros são ex-comunistas ou donas de casa, que na meia-idade mudam de profissão ou de relacionamento, dando uma reviravolta completa à procura da felicidade. Já no passado, a escritora suíça Lina Bögli mostrava ser possível abrir novas portas ao abandonar no final do século 19 a profissão de empregada doméstica para viajar pelo mundo e fotografar novas culturas.

Essa possibilidade de ter as coisas “sob controle” na meia-idade talvez seja a razão da famosa crise que se abate nesses anos. No passado as biografias eram mais determinadas, sobretudo pelas tradições e imperativos econômicos. O tema foi objeto de uma interessante experiência realizada pelo Centro Cultural Vögele no shopping center vizinho: dar para passantes de várias idades uma pequena lousa e giz, pedir que desenhassem a escada da vida e se colocassem em um dos degraus. O resultado foi pendurado em um grande mural e mostra a diversidade de sentimentos: enquanto alguns jovens apontavam já ter chegado ao cume, pessoas com mais de cinquenta consideravam estar ainda nos primeiros degraus. Um deles até retratou a vida como uma escada que apenas sobe. E nela, ele cumpriu apenas um terço do caminho. Otimismo?

Ditadura da beleza 

Mas esse sentimento não esconde que as pessoas hoje em dia lutam contra o relógio da vida. Para algumas o sucesso está relacionado à beleza. Uma grande vitrine apresenta centenas de produtos de beleza como tintura de cabelo e cremes de rosto, alguns deles ressaltando qualidades quase milagrosas como “anti-aging”, ou seja, freios da velhice. O cartaz publicitário mostra a força da sua mensagem: “Por que você está infeliz ao se olhar no espelho pela manhã?”. Ao lado, um telão mostra a entrevista com Benedikt Loser. “Se você acorda e descobre um tsunami na testa, a solução é uma pequena picada (injeção de botox) e, voilá, a pele fica lisinha”, diz o cirurgião plástico de Zurique que aparenta ser um trintenário, mas na verdade tem 67 anos.

E se não bastasse a decadência inevitável do corpo, combatido por uma indústria milionária da saúde e dos cosméticos, o quarentão também luta contra outros problemas da idade como o tédio no casamento ou a insatisfação profissional. O questionário (ver coluna da direita) oferecido em uma folha na exposição em Pfäffikon traz perguntas pontuais sobre a questão: “Você deixou de fazer alguma coisa na sua vida?” ou “Você pode imaginar envelhecer com seu parceiro(a) atual?”, são algumas delas. Para ajudar a respondê-las, os curadores também incluíram entrevistas em vídeo com profissionais especializados em tratar do tema. Se no passado ele se resumia ao pároco da cidade, hoje existem os terapeutas de casal, psicólogos ou consultores financeiros  para a aposentadoria. Todos dedicados a um só objetivo: preparar as pessoas à “descida” mais confortável possível e, talvez, à felicidade.

Para muitos, ela se resume às questões materiais. Por isso, um salão inteiro da exposição recebeu o título de “Mas a gente trabalhou tanto para isso…”. Os objetos expostos tentam simbolizar que um sinal claro para a pessoa que chegou à idade madura é começar a falar em hipoteca, vinhos franceses de “vintage” ou coleção de arte como temas do cotidiano. E quem se lembra, quando jovem, estar tão feliz em viver numa república de estudantes, beber cerveja ou pregar na parede cartazes de Che Guevara?

Porém o preço é alto: síndrome de burnout, depressão e a instabilidade são companheiros da meia-idade, já que as carreiras hoje já não são mais lineares, assim como também os relacionamentos. Estatísticas apresentadas comprovam: a idade média das pessoas que procuram aconselhamento profissional na Suíça é de 41,7 anos; a maior taxa de divórcios na Suíça é das pessoas na faixa etária entre 40 e 49 anos.

Mas a meia-idade também pode ser vista com humor e otimismo. Não é à toa que um dos vídeos apresentados traz a comédia “O Pai da Noiva” (1951), dirigido pelo cineasta norte-americano Vincente Minnelli. Nele, o personagem interpretado pelo ator Spencer Tracy é o pai que participa de um atribulado casamento da única filha, meio a contragosto. Porém a grande festa termina sem que ele tenha conseguido dançar ou se despedir do seu “bebê”. O sentimento de vazio termina quando ele diz à esposa “que os filhos continuam sempre filhos” e convida-a para uma dança romântica no meio da sala da casa em caos. Resumindo: talvez cada idade tenha o seu quinhão de felicidade.

– Em que degrau você está na escada da vida?

– Você sente tão velho como a sua idade real?

– O que é melhor na sua idade?

– Qual a coisa mais valiosa que você possui?

– Quando foi a sua “melhor” idade?

– Você já construiu sua casa ou plantou uma árvore?

– Você deixou de fazer alguma coisa na sua vida?

– Quais são os objetivos que você ainda tem?

– Você pode imaginar envelhecer com seu parceiro(a) atual?

– Você ainda vira a noite em festa?

– Você iria ainda hoje brincar em um balanço?

– Você tem cuidado com a  alimentação? Nível de colesterol? Açúcar no sangue? Já parou com o cigarro?

– Você coleciona vinhos?

– Já experimentou drogas?

– A partir de que ponto alguém é “velho”?

– Que idade deve ter o seu cirurgião de coração, terapeuta ou o piloto?

– Qual seria o título da sua biografia?

Passando em revista a metade da vida: pensamentos, sonhos e fatos concretos

De 6.11.2011 a 11.3.2012

Centro Cultural Vögele

Gwattstrasse 14

Pfäffikon

Horários de abertura:

Quarta a domingo, de 11 às 17 horas

Quinta-feira de 11 às 20 horas.

Segunda e terça-feira, fechado.

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