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Extrema-direita vai crescer nas legislativas em Israel

Em um contexto de grande desconfiança, o discurso de Avigdor Lieberman (ao centro) tornou-se eficaz. Keystone

Os israelenses votam hoje para eleger o Parlamento. A guerra na Faixa de Gaza se impôs na campanha eleitoral marcada pela ascensão espetacular da extrema direita, cujo líder Avigdor Lieberman é comparado por um especialista israelense ao rabino Meir Kahana.

Os eleitores israelenses escolhem hoje seus novos representantes na Knesset, o Parlamento de Israel. Cinco partidos principais concorrem: Likud (direita), Kadima (centro), Partido Trabalhista (esquerda), Shas (religioso sefardi), Israel Beyteinu (emigrantes russos, nacionalista). Também estão inscritos os pacifistas de Meretz e dois pequenos partidos árabes.

Idéias radicais

Esses vários partidos testemunham a diversidade de opiniões, mesmo se, no fundo, as divergências entre os cinco principais partidos – todos apoiaram a guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza – estão nas nuances e no estilo e não na estratégia política.

Essas eleições legislativas – com base nas últimas sondagens – poderá marcar uma ascensão rápida da extrema direita e das idéias radicais que ela defende.

De fato o partido dos israelenses da Rússia, Israel Beyteinu (Israel Nosso Lar, em hebraico), segundo as sondagens, deve eleger de 17 a 20 deputados (total de 120). Se esses prognósticos forem exatos, Israel Beyteinu ultrapassaria o Partido Trabalhista e se tornaria o terceiro partido do país, incontornável na coalizão para formar o novo governo.

Uma das razões dessa progressão anunciada da extrema direita seria o resultado considerado fraco, aos olhos de uma parte da população israelense, da recente guerra em Gaza. Como ela não tirou o Hamas do poder, muitos se dizem “decepcionados”.

Um voto de protesto

A maioria dos que votarão na extrema direita o fará como protesto. Seria uma maneira, dizem os analistas, de se desmarcar da direita clássica.

O Likud de Benjamin Netanyahou é visto como de princípios voláteis, capaz de aliar-se, depois das eleições, com os inimigos políticos da véspera, ou seja, os trabalhistas.

Entre os próximos de Benjamim Netanyahu, todos afirmam que ele pretender manter o trabalhista Ehud Barak no Ministério da Defesa.

O líder do Likud não esconde sua “admiração” pela capacidade de comando e a seriedade de Barak durante a ofensiva israelense. Ele elogia ainda a capacidade de cooperação de Ehud Barak, entre o Ministério da Defesa e o estado-maior das forças armadas durante os ataques a Gaza, em janeiro.

Unidade nacional

Como chefe da oposição de direita, Netanyahu se manifestou ostensivamente pela unidade nacional durante o conflito. Ele não terá, portanto, nenhum escrúpulo em formar uma coalizão governamental com os trabalhistas ou até mesmo com os centristas do Kadima.

Quanto a Tzipi Livni, líder do Kadima, ela sabe que se, por acaso, e contrariamente a todas as previsões, seu partido vencer as eleições, a única solução seria negociar com o Likud e o Partido Trabalhista.

Por enquanto, Tzipi Livni recusa-se a dialogar com Avigdor Liebermann, líder do Israel Beyteinu. Devido a suas posições, ela o considera quase como um “pestífero”.

Avigdor Liebermann e Meir Kahana

Autor de um livro que, na época, causou muito barulho – As camisas amarelas, crônica da ascensão da extrema-direita em Israel /1990) – Simon Epstein, professor na Universidade Hebraica de Jerusalém, faz um elo entre Avigdor Liebermann e o rabino Meir Kahana (assassinado em 1990).

Essa ligação é confirmada em recente artigo do jornal independente Haaretz, afirmando que o jovem Lieberman, quando havia imigrado da ex-União Soviética, tornou-se membro do Partido Kach, dirigido na época pelo rabino Kahana.

“Liebernann está vencendo onde Kahana havia fracassado”, constata preocupado Simon Epstein, embora não considere que Israel Beyteinu seja uma ameaça para a democracia israelense. Ele acha que o partido é um perigo para o processo de paz entre israelenses e palestinos.

“A ascensão atual da extrema-direita está ligada ao desânimo de uma parte importante da população israelense diante da radicalização dos palestinos e dos árabes de Israel”, segundo Simon Epstein.

Por um Estado palestino

“Uma tal radicalização provoca uma onda de nacionalismo nos israelenses. Essa dupla radicalização é trágica, uma alimenta a outra”, acrescenta.

Ao contrário do rabino Meir Kahana, Liebermann é mais pragmático. Ele não se opõe à criação de um Estado palestino ao lado de Israel, mas pretende reagrupar nesse Estado o maior número possível de árabes israelenses.

“Não se trata, na ótica dele, de transferir os árabes de Israel, mas de remanejar o território, trocar localidades da Galileia por grandes colônias da Cisjordânia”, explica Simon Epstein.

É preciso constatar que o discurso de Avigdor Liebermann é cada vez mais popular porque um número crescente de israelenses é cada vez mais desconfiado da comunidade árabe de Israel, que eles acusam de alinhamento com os islamitas palestinos.

Essa insinuação é categoricamente rejeitada pelo deputado árabe-israelense Ahmed Tibi, líder do Movimento Árabe pela Mudança.

swissinfo, Serge Ronen, Jerusalém

Israel elege hoje seu 18° parlemento – Knesset – composto de 120 cadeiras.

Inscritos: 5.278.985 eleitores

Listas: 33 inscritas; é preciso 2% dos votos eleger um deputado à Knesset.

Escrutínio: as legislativas são proporcionas em um turno. Todo o país é considerado como uma única circunscrição.

Resultados: A votação começou às 07hs locais (05hs GMT) nos les 9.263 locais de voto e será encerrada às 22hs lovais (20hs GMT). Os resultads definitivos serão divulgads quarta-feira de manhã e proclamados dia 18 de fevereiro.

Nomeação do primeiro-ministro: Na publicação dos resultados, o presidente Shimon Peres tem uma semana para consutas e escolher o partido que terá maiores chances formar uma coalizão e não forçosamente a que obtiver o maior número de deputados.

Governo: O candidato designado terá 28 dias para apresentar um governo à Knesset, prazo que pode ser prorrogado por 14 dias. Se não for aprovado, o presidente escolhe um outro candidato que terá mais 28 dias para formar o governo.

Inquietos: a perspectiva de uma coalizão de direita preocupa os árabes de Israel e muitos não pretendem votar.

Dez deputados: Eles representam aproximadamente 20% dos 7 milhões de cidadãos de Israel. Dez deputados representam os árabes atualmente na Knesset.

Participação fraca: Mas os partidos árabes isralenses esperam uma baixa taxa de participação: menos de 50% contra 55% na eleição precedente, em 2006.

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