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Fórum de Davos discute turbulências econômicas e biocombustíveis

Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, tenta dissipar o pessimismo. Keystone

As conseqüências da crise imobiliária nos EUA, os altos preços das matérias-primas e o perigo da inflação devem dominar a agenda do Fórum Econômico Mundial.

Avaliação crítica dos biocombustíveis também está na pauta. Grandes “estrelas políticas” faltam ao encontro, que aposta cada vez mais no debate virtual.

“O poder da inovação cooperativa” é o lema do 38° Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), que reunirá 2.500 representantes de 88 países em Davos (leste da Suíça), nos próximos dias 23 a 27 de janeiro.

Os organizadores pretendem abordar, entre outros assuntos, novas tecnologias da internet, que permitem muitas pessoas ao redor do globo trabalhar conjuntamente na solução de problemas. Como exemplos, eles citam a “videoteca” Youtube, a rede social Facebook ou a enciclopédia Wikipédia.

O Fórum, que se torna cada vez mais fechado, inclusive para a imprensa, pretende usar essas possibilidades de comunicação com o público. “Queremos dar continuidade às discussões de Davos na internet. A tecnologia para tanto está disponível”, diz o fundador do WEF, Klaus Schwab.

“Temos uma falta de cooperação no mundo. Estamos nos tornando mais egoístas e nacionalistas. Por isso, precisamos cooperar mais. Isso é a chave para um futuro melhor”, diz Schwab num vídeo publicado no Youtube.

Desde dezembro passado, o Fórum mantém em cooperação com o Youtube um site em que interessados podem responder através de vídeos à chamada pergunta de Davos: “O que você acha que os Estados, as empresas e os indivíduos têm de fazer para melhorar o mundo em 2008?”. O WEF criou também uma plataforma de discussão no endereço www.davosconversation.org.

Foco na crise

Este ano, as turbulências econômicas, como a crise imobiliária nos EUA e a ameaça de volta da inflação, bem como temas ambientais, como a mudança climática, o consumo de energia e os biocombustíveis deverão dominar o encontro, que sentirá a ausência de estrelas da política e do showbiz.

A secretária de Estado norte-americana, Condoleeza Rice, integrante de um governo em fim de mandato, abrirá o encontro. Mais do que ela, o “ex-quase-presidente” dos EUA e Prêmio Nobel da Paz, Al Gore, deverá atrair as atenções da mídia.

O governo suíço participará com cinco dos seus sete ministros. Entre os grandes ausentes estão o presidente francês Nicolas Sarkozy, a chanceler federal alemã Angela Merkel e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cancelou sua viagem à Suíça.

Mesmo assim, o encontro reunirá, além de 27 chefes de Estado e de governo e 113 ministros, a nata da economia mundial: 1370 executivos, entre eles, representantes de 74 das 100 maiores empresas do mundo.

Segundo Schwab, a reunião de lideranças políticas e econômicas com representantes de organizações não governamentais, das religiões e da área cultural permite abordar problemas mundiais de uma forma sistemática. No total, estão previstas 240 mesas-redondas.

Contra o pessimismo

Quanto às atuais “incertezas econômicas”, Schwab tenta evitar um excesso de pessimismo. “As projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que o crescimento mundial recuará de 5% em 2007 para 3,5% em 2008. Isso ainda não é uma recessão e não quero ser exageradamente pessimista”, afirma.

O WEF, porém, não deverá apresentar grandes novidades nessa questão, além de uma série de questionamentos que vêm sendo feitos há anos – e em parte já foram respondidos – pelos críticos da globalização.

A “questão aberta” no catálogo de Davos, sobre o papel dos bancos centrais em mercados cada vez mais desregulamentados, já foi respondida pelos grandes bancos. Depois que as instituições financeiras privadas fecharam a torneira de créditos mútuos, o tesouro norte-americano e o Banco Central Europeu (BCE) injetaram bilhões de dólares e euros no sistema financeiro internacional para manter sua liquidez.

Balanço ambiental do etanol

No Fórum Econômico Mundial de 2005, os biocombustíveis foram considerados uma alternativa à matriz energética de países dependentes sobretudo de combustíveis fósseis.

Desde então, aumentaram principalmente na Europa os questionamentos sobre o balanço ambiental de combustíveis verdes, como o etanol, bem como suas conseqüências para a produção e para os preços dos alimentos.

Mesmo assim, empresas do setor de biocombustíveis serão premiadas em Davos. Segundo Christoph Frei, diretor de política industrial e energética do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), os biocombustíveis causaram muitas controvérsias nos últimos tempos, que relativizaram sua contribuição potencialmente positiva à proteção do clima.

“É preciso entender que há biocombustíveis bons e ruins, e que precisamos aprender a separar o joio do trigo. Por isso, é tão importante avaliar a sustentabilidade dos biocombustíveis ao longo de toda a cadeia produtiva”, afirma.

swissinfo com agências

O Fórum Econômico Mundial (World Economic Fórum – WEF), fundado em 1971, transformou-se numa empresa com 240 funcionários e um orçamento anual de 100 milhões de francos suíços.

Do encontro deste ano (23 a 27 de janeiro) participam 2.500 pessoas de 88 países, entre eles, 220 representantes governamentais – incluindo 27 chefes de Estado e de governo – e 1370 executivos.

A participação da sociedade civil é escassa: 40 representantes de organizações não governamentais, 20 das igrejas, 10 de sindicatos e 40 personalidades das áreas de esporte e cultura. E 250 jornalistas.

Alguns dos participantes se apresentarão como filantropos, outros como líderes empresariais que atuam de forma sustentável, e outros ainda deverão evitar as câmeras e procurar fechar negócios nos bastidores.

Dois dias após ter autorizado manifestações contra o Fórum Econômico Mundial, a prefeitura de Berna voltou atrás e proibiu os protestos marcados para sábado (19/01).

A polícia informou que a prioridade é garantir a segurança da cidade e conclamou os críticos da globalização a desistir da manifestação. Qualquer tentativa de protesto será “conseqüentemente punida”, advertiu.

Segundo as autoridades de segurança, há um grande potencial de violência entre os adversários do Fórum, que pretendiam reunir cerca de 1.500 pessoas na capital suíça.

O Movimento pela Resistência Global, organizador do protesto, garantiu que “não haverá vidraças quebradas”, mas não descartou atos violentos.

Prevê-se que a polícia tentará cercar os manifestantes antes de iniciarem uma demonstração ilegal, uma estratégia que durante o Fórum de Davos de 2003 causou graves distúrbios na cidade.

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