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Fúria fiscalizadora da Uefa irrita torcedores

Cuidado: é proibido vender cenoura nos estádios da Euro. Keystone

A União Européia de Futebol quer proteger seus patrocinadores durante a Eurocopa. Nas cidades-sedes, fiscais da Uefa controla a roupa e os acessórios dos torcedores.

A fiscalização da entidade irrita os fãs. Para um cartunista, “a Suíça foi ocupada duas vezes em sua história: em 1798 por Napoleão, em 2008 pela Uefa”.

Está quase tudo pronto para a festa do futebol nas oito cidades-sede da Euro. Os 14 patrocinadores oficiais colocaram seus anúncios nos devidos lugares, os cartolas, políticos e felizardos do sorteio da Uefa já receberam seus ingressos.

Só um detalhe ainda preocupa a entidade máxima do futebol europeu: a invasão iminente de torcedores com camisetas, bonés ou latas de cerveja que não têm as marcas dos patrocinadores.

Esses fãs podem ser obrigados a entregar seus acessórios na entrada dos estádios, principalmente quando se tratar de grupos de 20 ou trinta 30 pessoas, adverte o porta-voz suíço da Euro, Pascale Vögeli. É o que prevê o “contrato” entre a Uefa e o portador de um ingresso.

Mas há torcedores que não estão a fim de beber a cerveja Carlsberg (que paga 40 milhões de francos à Uefa pela publicidade exclusiva) ou de vestir camisetas da adidas. Na Basiléia, por exemplo, um bar situado próximo a um telão público foi cercado porque se negou a vender a “cerveja oficial”.

Boné errado



Algumas torcidas organizadas anunciaram a realização de “protestos com roupas coloridas”. Com razão, diz Hans Caspar, professor de Direito na Univeridade de Zurique, ao jornal NZZ am Sonntag. “Não se pode proibir uma pessoa de entrar num estádio só porque ela usa o boné errado.”

Enquanto os jogos nos estádios são eventos privados da Uefa, as festas das torcidas diante dos telões em locais públicos seguem as diretrizes das prefeituras. Ali os fãs, em princípio, podem se vestir como quiserem.

“O poder público precisa colocar os direitos de seus cidadãos acima dos direitos dos patrocinadores e da Uefa”, diz Patrick Cotting, especialista em patrocínio de Friburgo. A Uefa gostaria de ver o contrário.

Por isso, a entidade promete enviar fiscais às cidades-sede para ver se não há abusos contra os patrocinadores oficiais, inclusive nas festas dos torcedores. Também os espiões dos patrocinadores estarão em ação. As prefeituras se negam a fazer qualquer controle.

A linha dura da Uefa também gera insegurança na indústria e no comércio. Por exemplo, vender um “pãozinho Hopp Schwiiz” é permitido, mas um “pãozinho Euro 08”, não.

Davi contra Golias



O combate à propaganda de guerrilha vem sendo praticado há anos por organizadores de grandes eventos. “Mas atacar diretamente o consumidor final é algo novo e comparável às queixas da indústria da música contra usuários de downloads ilegais”, diz Cotting.

Embora a Uefa garanta que não está de olho em pessoas individualmente ou em famílias, e sim em empresas, poucos acreditam nisso. Muitos torcedores vêem a briga entre cervejarias locais e a Uefa como uma luta de Davi contra Golias, diz Cotting.

A Uefa vê a Euro 08 como seu produto e sua propriedade, escreve o NZZ am Sonntag. Por isso, ela cobra direitos de uso da marca, quando os jogos são exibidos em telões com mais de 3 metros de diagonal.

Como esporte, porém, o futebol é um bem público, continua o jornal. “Se não fosse assim, a Uefa teria de pagar impostos sobre o lucro estimado de um bilhão de francos. Ela só é isenta enquanto seu trabalho for em prol do bem-comum. Para cumprir essa exigência, ela talvez devesse intensificar a proteção ao seu principal patrocinador: o contribuinte suíço [e austríaco]”, conclui o NZZ.

swissinfo com agências

A Uefa arrisca perder simpatias ao dizer o que os torcedores devem vestir ou beber, mas na internet ela está longe de atingir esse padrão de marketing.

Quem digitar o endereço www.euro08.com chega à página da bolsa de empregos da emissora de televisão árabe Al Jazeera Jobs. Esse domínio foi registrado em 2006.

O endereço oficial da Euro é www.euro2008.com. Também o www.euro2012.com é da Uefa. Mas www.euro2016.com pertence à empresa TrafficZ, com endereço em Los Angeles.

Cena desenhada esta semana pelo cartunista do jornal tagesanzeiger.ch. Um professor suíço ensina durante uma aula de História:

“A Suíça foi ocupada duas vezes em sua história: em 1798 por Napoleão, em 2008 pela Uefa”.

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