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Federer e os sub-17 são os ícones esportivos do ano

Roger Federer e Nassim Ben Khalifa, símbolos de uma Suisse que ganha. Keystone

As vitórias de Roger Federer e dos jovens jogadores da seleção sub-17, campeões do mundo na Nigéria marcaram o ano esportivo na Suíça em 2009.

O sociólogo do esporte Fabien Ohl, da Universidade de Lausanne, dá seu ponto de vista sobre os grandes esportistas idealizados ao extremo.

Roger Federer e os “Vermelhinhos” não é o título de um álbum em quadrinhos e sim os dois fenômenos que fizeram vibrar os amantes do esporte na Suíça em 2009. O primeiro, conhecido mundialmente, tornou-se o melhor tenista de todos os tempos – superando McEnroe, Bjorg, Sampras e tantos outros – ao ganhar sucessivamente seu 14° e 15° títulos do Grand Slam em Roland Garros e em Wimbledon.

Alguns meses depois, os “Vermelhinhos” – como são chamados os jogadores da seleção suíça sub-17 de futebol – que também representam a diversidade cultural do país, empolgaram a nação ao se tornarem campeões do mundo na Nigéria. Esses dois fenômenos Fabien Ohl, professor de Sociologia do Esporte na Universidade de Lausanne, tenta decifrar na entrevista a seguir.

swissinfo.ch: A popularidade de Roger Federer continua altíssima. Como o senhor analisa essa admiração sem limites pelo campeão?

Fabien Ohl: Antes das vitórias em Roland-Garros e Wimbledon,
Federer era uma estrela e hoje ele é um herói. Os cenários em torno de sua pessoa mudaram. Quando ele ganhava sem grande dificuldade aparente, ele parecia distante das pessoas, quase super-homem. Ele era visto como um jogador excepcional, mas também um personagem liso e, às vezes, um tanto individualista.

Doravante, ele é ainda maior porque soube voltar e superar suas dificuldades. Frente à adversidade, ele teve de ser corajoso, adquirindo assim o mérito aos olhos do público. Também houve uma idealização em torno de sua vida privada, que tem poucas arestas. Além disso, ele é simpático, sorridente e prestativo, e agora é um pai de família dedicado.

swissinfo.ch: Roger Federer parece agradar a todos, do adolescente apaixonado pelo esporte à dona de casa de 50 anos. Como o senhor explica esse fenômeno?

F.O.: A imagem transmitida por Federer é bem maleável. Cada um pode ver nele o personagem extraordinário que quiser. Desde o início de sua carreira, ele já foi identificado como solteiro, jovem esportista, conquistador, velho jogador em declínio, jogador que voltou, pai de família. A ele são atribuídas qualidades às quais os suíços podem aderir.

No estrangeiro, sua nacionalidade tem pouca importância e lhe são atribuídos valores mais próximos de sua própria cultura. Na Índia, na China, no Japão e no Paquistão, ele é percebido mais como um homem ocidental ideal, que venceu.

swissinfo.ch: Diz-se que Federer é o melhor embaixador da Suíça. O senhor acredita nisso?

F.O.: Uma parte das pessoas fora da Suíça pode realmente perceber no personagem Federer qualidades típicas atribuídas aos suíços, como a discrição, a eficiência, o trabalho ou a precisão. Essa imagem é combinada a outros eventos mais negativos: a votação contra o minaretes, o caso Polanski ou a percepção da Suíça como paraíso fiscal.

Mas, quando não há casos proeminentes, utiliza-se frequentemente um personagem esportivo para atribuir qualidades estereotipadas a um país. Mobiliza-se crenças antigas e depois projeta-se o imaginário sobre os esportistas de elite, quando, na realidade, as estrelas mundializadas não são ligadas a um país.

Outros jogadores de tênis têm qualidades idênticas, se preparam da mesma maneira e têm um estilo de jogo similar. É o discurso utilizado em todo deles que os modela. Eles próprios se aplicam a veicular uma imagem que é por vezes distante da realidade. E quando, de repente, aparece a enganação, a infidelidade ou um outro grande desvio, o mito se acaba. O exemplo mais recente é o de Tiger Woods.

swissinfo.ch: Por que os esportistas de elite são tão idealizados?

F.O.: Eles são ícones através dos quais pode-se avaliar o estado de nossas sociedades. A moralidade dos valores está no centro das discussões acerca do esporte. A mão de Tierry Henry foi a ocasião para cada um exprimir seu senso da ética, de justiça ou de relação com as regras.

Quando a vitória ocorre, detectamos o bom funcionamento de nossos valores. Ao contrário, também projetamos os erros da sociedade nas derrotas esportivas. Quando a seleção francesa ganhou a Copa do Mundo de 1998, foi celebrada uma França multicultural que ganhava. Quando essa mesma seleção tem dificuldades, fala-se do questionamento das tradições, das raízes ou da organização coletiva.

swissinfo.ch: Na Suíça, duas semanas depois do título de campeões do mundo do futebol sub-17, símbolo de multiculturalidade, votou-se pela interdição de contruir novos minaretests. Não há uma contradição flagrante nisso?

F.O.: A mídia representa em geral algumas figuras típicas do estrangeiro. Para simplificar, o bom estrangeiro é o esportista de origem estrangeira que deu certo e que é o orgulho de seu país de acolho. Inversamente, tem algumas pessoas repugnantes, estrangeiros ou de origem estrangeira que cometem delitos ou que não têm as mesmas práticas culturais que as nossas.

As figuras da realidade são pouco representadas. A maioria dos estrangeiros não é especialmente brilhante nem ameaçadora. Eles não contribuem de maneira visível à glória internacional da Suíça e têm empregos ordinários. Mas de todos esses estrangeiros ordinários fala-se muito pouco.

swissinfo.ch: Outra contradição aparente: critica-se os bônus dos banqueiros e os salários de grandes empresários, mas se julga normal que Federer ganhe 40 milhões de francos suíços por ano. Por que?

F.O.: Em uma empresa, o esforço é coletivo. O mérito do lucro deveria ser dos operários e dos quadros superiores. Nos últimos anos, o mérito foi frequentemente atribuído aos empresários. As pessoas acham que isso não se justifica porque os que ganham muito não parecem ter um grande talento e sim se aproveitar de condições conjunturais do sistema.

O esportista representa, ao inverso, a figura do ideal meritório e democrático. O esporte é, de fato, uma das práticas culturais mais acessíveis. No início, todos os esportistas – portanto praticamente todos os indivíduos – têm as mesmas chances. Pelo menos é o que se imagina. Se eles conseguem algo, é graças ao talento, ao trabalho, à força de vontade. Portanto, parece justo, dada a cobertura da mídia e os lucros que ela traz, que uma grande parte seja paga aos esportistas.

Samuel Jaberg, swissinfo.ch
(Adaptação: Claudinê Gonçalves)

Esqui. Na prova de Val d’Isère, em fevereiro, pelo Mundial, a Suíça terminou à frente na classificação de medalhas, com Didier Cuche, Lara Gut e Carlo Janka. Na Copa do Mundo também os esquiadores suíços tiveram uma temporada excepcional, com 16 vitórias.

Fórmula 1. O piloto suíço Sébastien Buemi fez sua primeira temporada na categoria superior do automobilismo. Com seis pontos, ele teve uma desempenho considerado honorável.

Tênis. Roger Federer tornou-se o jogador com mais títulos da história do tênis, depois de vencer os torneios de Roland-Garros (França) e Wimbledon (Inglaterra). Retomou a líderança mundial depois de a ter perdido durante um ano para Rafael Nadal.

Ginástica. Ariella Kaeslin foi campeã da Europa em abril. Em outubro, ela ficou em segundo lugar no cavalo, no Mundial de Londres.

Futebol. A seleção suíça classificou-se para a Copa do Mundo na África do Sul, terminando em 1° lugar de seu grupo. A seleção sub-17 foi campeã do mundo, na Nigéria, em novembro.

Ciclismo. Fabien Cancellara ganhou a Volta da Suíça, e o contra o relógio na Volta da França e na Vuelta italiana. Em setembro, ele ganhou seu terceiro titulo de campeão do mundo do contra o relógio, no Ticino, sul da Suíça.

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