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Patrícia Melo recebeu prêmio em Frankfurt

Patricia Melo em Frankfurt 2013. AFP

A escritora, dramaturga e roteirista brasileira Patrícia Melo recebeu na feira de Frankfurt o LiBeraturpreis, o único prêmio de literatura alemão destinado somente a escritoras da África, Ásia e América Latina.

Convidado de honra deste ano na 65ª. Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, o Brasil não só mostrou a diversidade de sua literatura no exterior, mas também ganhou um prêmio importante dentro do evento, o maior do mundo no setor.

Brasileira radicada na Suíça, Patrícia Melo participou da Feira do Livro de Frankfurt deste ano lançando a tradução para o alemão de seu oitavo romance, Ladrão de Cadáveres (Leichendieb). A história gira em torno de um homem que encontra um cadáver em uma mochila cheia de cocaína e acaba envolvendo-se com a máfia do narcotráfico na fronteira entre Brasil e Bolívia, daí o título. O livro chegou em julho ao primeiro lugar da lista dos dez melhores romances policiais do jornal alemão Die Zeit, manteve-se dois meses na primeira colocação e até hoje continua figurando no ranking.

A edição alemã de Ladrão de Cadáveres também ficou em primeiro lugar na lista dos melhores livros organizada pela Sociedade de Promoção da Literatura da África, Ásia e América Latina (litprom). A lista da litprom é elaborada por escritores, críticos literários e jornalistas.

“Patrícia Melo é uma autora inteligente, que sabe mostrar, sem utilizar os elementos comuns do romance policial, a complexidade do limite entre o bem e o mal. Ladrão de Cadáveres é um romance policial emocionante sobre a máfia do narcotráfico e, ao mesmo tempo, um questionamento elegante, malicioso e sarcástico dos padrões morais”, justificou o juri do LiBeraturpreis.

Concedido há 25 anos, o LiBeraturpreis possui uma dotação de 3 mil euros e é vinculado a um convite para visitar a cidade de Frankfurt, onde Patrícia já esteve no ano passado, para a leitura de seus livros.

Nicole Witt, agente literária de Patrícia Melo no exterior, também comemorou o reconhecimento. “Em seus romances policiais notamos um extremo cuidado com o uso das palavras e com o estilo, percebemos que ela faz um trabalho refinado e cuidadoso. Ela recebe merecidamente este prêmio”, afirma.

Patrícia Melo nasceu em Assis, no estado de São Paulo, e estreou na literatura em 1994 com o romance Acqua Toffana. Ao grande público, porém, a escritora chegou um ano depois com o romance O Matador. Em 2003 o livro virou roteiro de cinema escrito por Rubem Fonseca ganhando o nome O Homem do Ano e tendo Murilo Benício no papel título. Coincidentemente, dois anos antes Patrícia escrevera o argumento do filme Bufo & Spallanzani, baseado no livro homônimo de Rubem Fonseca.

Também em 2001 Patrícia escrevera o roteiro do filme Xangô de Baker Street, baseado no romance de mesmo nome escrito por Jô Soares. Seus livros já foram traduzidos para o inglês, francês, alemão, espanhol, holandês, italiano, grego, romeno, turco, sueco, norueguês, chinês e russo.

Além dos livros e roteiros para cinema, Patrícia cria textos para teatro e televisão. Em 2001 escreveu a peça Duas Mulheres e um Cadáver e em 2003 A Caixa. Na televisão foi responsável pelos roteiros das miniséries Colônia Cecília, exibida em 1989 pela Rede Bandeirantes, e A Banqueira do Povo, produção portuguesa de 1993.

Em 2011 Patrícia Melo lançou seu nono livro, pela primeira vez uma reunião de contos chamada Escrevendo no Escuro. “É um formato inédito para mim, um trabalho de experimentação da linguagem, mas dentro da mesma temática urbana, continuo mostrando as mesmas patologias, com personagens em situações limite”, revela.

Prêmios no Brasil e no mundo

Consagrada no Brasil e no exterior por seu estilo literário que preza a descrição psicológica detalhada dos personagens, situações extremas e uma narrativa ágil, Patrícia Melo vê em sua premiação uma chance para a literatura brasileira.

“No momento, por vários motivos, existe um interesse muito grande em relação ao Brasil. Nesse sentido eu acho que este prêmio dá visibilidade não somente ao meu trabalho como escritora, mas também à literatura brasileira de um modo geral. Eu acredito que prêmiações como esta ajudam a mostrar o patrimônio literário do Brasil, um patrimônio tão rico e tão diverso, porém ainda muito pouco conhecido fora do país. Isto pode, no futuro, atrair mais traduções de livros brasileiros no exterior e colaborar para que o Brasil passe a ser conhecido através de sua literatura e não somente através dos clichês”, diz ela.

O LiBeraturpreis não é o primeiro prêmio concedido à Patrícia na Alemanha. Em 1998 ela já recebera o Deutscher Krimi Preis, que premia romances policiais, pelo livro O Matador. No Brasil, recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura por Inferno e na França ganhou o Prix Deux Océans, de reconhecimento à literatura da América Latina. Patrícia Melo também foi consagrada pelo jornal inglês Times como a “a principal escritora latino-americana do milênio”.

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Mudança definitiva para a Suíça

Patrícia Melo vive em Lugano e é casada com o maestro John Neschling, nascido na Suíça. Apaixonada pelo país, após três anos de residência a escritora decidiu dar entrada no pedido de naturalização. “Nasci no Brasil, mas amo a Suíça, um país sensacional para se viver. Mesmo antes da naturalização já tenho muito orgulho de ser uma cidadã suíça”, afirma.  

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