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Felipão comanda Portugal com mão de ferro

Scolari: teimoso, mas bem-sucedido Keystone

O mestre do futebol de resultados chega à Suíça com uma equipe favorita ao título da Eurocopa.

O técnico que levou o Brasil ao penta comanda a seleção de Portugal desde 2003, com pragmatismo e sucesso. Sua permanência no cargo vai depender do desempenho da equipe no torneio.

A trajetória de Luiz Felipe Scolari no futebol é comparável ao percurso de certas aves migratórias. Descendente de italianos (seu pai, Benjamin, oriundo de Veneza, foi um dos melhores zagueiros do Rio Grande do Sul nos anos de 1940), ele já deu a volta ao mundo.

Gaúcho de Passo Fundo (RS), começou sua carreira aos 17 anos nos juvenis Aymoré de São Leopoldo (RS), passou por vários clubes brasileiros como jogador e treinador, trabalhou na Arábia Saudita, no Kuwait e no Japão, conquistou o penta para o Brasil em 2002 e foi pousar no banco da seleção portuguesa.

Zagueirão que não gostava de enfeitar, ele se destacava pela garra, o que lhe rendeu a faixa de capitão nas equipes por onde passou: Caxias, Juventude e Novo Hamburgo, todos no Rio Grande do Sul, e no CSA de Alagoas, pelo qual conquistou seu único título como jogador: Campeão Alagoano de 1980.

Foi no CSA que Felipão, dois anos depois, pendurou as chuteiras e iniciou sua carreira de técnico. Comandou, entre outros, os times gaúchos Juventude, Brasil de Pelotas, Pelotas e Grêmio. Também treinou o Coritiba (PR), o Criciúma (SC), o Goiás (GO), o Palmeiras e o Cruzeiro. No exterior, Felipão comandou as equipes do Al Sabbab e Al Ahli, na Arábia Saudita; do Al-Qadsia, no Kuwait; e do Júbilo Iwata, no Japão.

Calando os críticos



Em 2001, assumiu o comando da seleção brasileira, que, apesar de ter embarcado desacreditada para o Japão e a Coréia do Sul, acabou conquistando a Copa do Mundo de 2002.

Na ocasião, a revista Veja, que não poupara críticas ao técnico, reconheceu: “Luiz Felipe Scolari assumiu a seleção para salvar a pátria do vexame da eliminação de uma Copa, fez da teimosia uma bandeira, contrariou a lógica e calou seus críticos”.

Mas nem mesmo essa surpreendente conquista fez de Felipão um técnico tão admirado pelos brasileiros, como, por exemplo, um Telê Santana, o mestre do futebol-arte.

Esse fato é atribuído à sua insistência em contrariar a torcida e à sua filosofia de jogo, caracterizada pelo futebol de resultados. “Jogando feio e ganhando, tudo fica lindo”, defende-se. A coleção de títulos (veja a lista na coluna ao lado) lhe dá razão.

Frases fáceis e comparações difíceis



Apesar do sucesso incontestável, “Big Phil”, como é chamado pela imprensa estrangeira, continuou um homem simples, como revela no livro Felipão, a Alma do Penta, um diário da Copa 2002.

Ali mostra que não é nenhum filósofo do futebol. Mistura lugares comuns com comparações incompreensíveis para quem é leigo em futebol, como a que faz entre o vôo dos gansos no céu e a formação da equipe na terra.

Desde 2003, Felipão é o técnico da Seleção Portuguesa de Futebol, onde também já ouviu muitas críticas, mas também foi vice-campeão da Eurocopa de 2004 e chegou às semifinais da Copa do Mundo de 2006.

No futebol português, o brasileiro já acumula recordes: é o técnico mais vitorioso (33 vitórias) e com a maior invencibilidade (19 jogos) de Portugal. Ele é também o primeiro treinador da história das Copas do Mundo a obter 11 vitórias consecutivas: 7 pelo Brasil durante a Copa de 2002 e 4 pela seleção portuguesa em 2006.

Religioso, dócil e duro



Pai de dois filhos e devoto de Nossa Senhora do Caravaggio, venerada entre os descendentes de italianos do Sul do Brasil, Felipão trata seus desafetos como “bom gaúcho”, no joelhaço, mas é capaz de oferecer uma churrascada para seus comandados. “Os jogadores são carentes. A maioria deles quer um técnico exigente, forte e que aja como um pai para eles”, disse certa vez.

Em palestra recente para executivos brasileiros, ele revelou mais uma de suas sabedorias: “No futebol, tem de haver companheirismo, amizade, disciplina, união, um projeto, sonhos, os mesmos valores que são importantes para uma empresa”.

Para atingir os objetivos que se propõe, ele também pode ser duro com seus “protegidos”, cobrando deles empenho máximo. Até os adversários chegam a sentir sua mão de ferro.

Foi assim no jogo contra a Sérvia pelas Eliminatórias da Eurocopa, em setembro de 2007. Após os visitantes terem empatado a partida (1 a 1), houve tumulto no gramado e um soco de Scolari atingiu o jogador sérvio Ivica Dragutinovic.

“Desculpem, não sou infalível. Foi um reflexo após várias provocações, e eu quis proteger meus jogadores”, justificou-se Felipão.

Para o projeto Eurocopa 2008, ele conta com uma equipe considerada favorita ao título. Dependendo dos resultados que atingir – assim se especula na imprensa portuguesa – poderá até continuar no comando da seleção lusa depois de julho deste ano, quando termina seu contrato.

swissinfo, Geraldo Hoffmann

1982 – CSA – Campeão do Campeonato Alagoano (como jogador)
1987 – Grêmio – Campeão do Campeonato Gaúcho
1989 – Al Qadsia – Campeão da Taça Salmiya
1990 – Al Qadsia – Campeão da Taça do Emir
1990 – Kuwait – Campeão da Taça do Golfo
1991 – Criciúma – Campeão da Copa do Brasil
1994 – Grêmio – Campeão invicto da Copa do Brasil
1995 – Grêmio – Campeão do Campeonato Gaúcho
1995 – Grêmio – Campeão da Taça Libertadores da América
1995 – Grêmio – Vice-Campeão do Mundial Interclubes
1996 – Grêmio – Campeão do Campeonato Gaúcho
1996 – Grêmio – Campeão da Recopa Sul-Americana
1996 – Grêmio – Campeão do Campeonato Brasileiro
1997 – Palmeiras – Vice-Campeão do Campeonato Brasileiro
1998 – Palmeiras – Campeão da Copa do Brasil
1998 – Palmeiras – Campeão da Copa Mercosul
1999 – Palmeiras – Vice-Campeão do Campeonato Paulista
1999 – Palmeiras – Campeão da Taça Libertadores da América
1999 – Palmeiras – Vice-Campeão do Mundial Interclubes
1999 – Palmeiras – Vice-Campeão da Copa Mercosul
2000 – Palmeiras – Campeão do Torneio Rio-São Paulo
2000 – Palmeiras – Vice-Campeão da Taça Libertadores da América
2001 – Cruzeiro – Campeão da Copa Sul-Minas
2002 – Brasil – Campeão da Copa do Mundo de 2002, vencendo todos os jogos>
2004 – Portugal – Vice-Campeão da Eurocopa

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