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Festival abre-se mais a filmes do Brasil e América Latina

'El Señal', policial de Ricardo Darín e Martin Hodara (Espanha/Argentina, 2007, fiff) fiff

A 22a. edição do Festival Internacional de Filmes (FIFF), na cidade suíça de Fribourg, consagra mais espaço à cinematografia latino-americana.

Das treze obras em competição – onze ficções e dois documentários – predomina a presença asiática, mas quatro vêm da América Latina.

Se nenhum filme brasileiro concorre ao prêmio Le Regard d’Or (olhar de ouro), que é a principal recompensa, “Falsa Loura” de Carlos Reichenbach (2007) figura, hors concours, na seleção oficial. E na lista dos curtas metragens, há três brasileiros no evento que se desdobra de 1 a 8 de março. E não é só.

Outras boas surpresas na programação do FIFF – que acaba de ser revelada – são a participação de vários filmes brasileiros e, por exemplo, a presença de Walter Salles, realizador de “Central do Brasil”, que levou ‘o urso de ouro’ do Festival de Berlim, em 1998, feito repetido agora, dez anos depois, por ‘Tropa de Elite’, de José Padilha.

(A propósito, Padilha, preferiu que a estréia européia fosse em Berlim, declinando convite de Friburgo. Compreende-se).

Salles vai dar uma master class no dia 3 de março para expor seu ponto de vista sobre o “road movie” que assinou, “Diários de Motocicleta”, justamente um ‘filme de estrada’, sobre o jovem Ernesto Guevara, antes de um lendário guerrilheiro argentino se tornar o Che e o ícone mundialmente conhecido.

Busca de novidades e de variedade

O novo diretor do FIFF, Edouard Waintrop, ex-jornalista da área cultural do jornal francês ‘Libération’, admite ter percorrido o mundo “em busca de novos cinemas”. Ele que, depois de 25 anos a profissão, tem um fichário de endereços respeitável, manifestou na coletiva à imprensa, dia 19, grande preocupação em abrir ainda mais o festival – sempre atento ao que se passa na Ásia, Africa e América Latina – às cinematografias que não chegam à Suíça.

Para nós outra boa surpresa é a particular atenção que ele dá à produção latino-americana, indicando pretender explorar ainda mais esse filão, pois, a propósito diz: “Estamos apenas no começo…”

Se se pode falar da nova orientação do Festival, ela se deve principalmente ao desejo de Edouard Waintrop de imprimir, de fato, uma maior variedade à programação. E lembra que o objetivo do festival é “abrir as telas suíças aos filmes do mundo inteiro, excluindo os da Europa e dos Estados Unidos”.

Fazendo uma comparação diz ser “melhor entrar em uma ‘bodega española’ com todos os tipos de vinho que entrar numa loja de tipo soviético que tenha apenas um artigo à venda”.

Mas uma verdadeira inovação na tônica do Festival parece ser a vontade do diretor artístico de trazer a Friburgo filmes que sejam mais do gosto popular, no bom sentido do termo.

E se ele tem especial interesse, por exemplo, em policiais – “gênero negro” – é porque se trata de um gênero “mais universal que os demais”. O mesmo não ocorre com as comédias, “mais complicadas”, pois o senso de humor varia de um país a outro. Já os filmes policiais “falam das mesmas enfermidades da sociedade: corrupção, desigualdades, injustiças…”

“Cinema do Sul não existe”

Resta que ele considera simplesmente absurda a mania de classificar de “cinema do Sul” o cinema que não seja da Europa ou de outras nações industrializadas. Edouard Waintrop realça que o cinema do Sul não existe mais, havendo na realidade uma diversidade muito grande de filmes e gêneros nas cinematografias de países como Brasil, Argentina, China, Japão, Coréia e África do Sul…

No Festival essa diversidade a que alude o diretor artístico se reflete justamente nos filmes que concorrem ao prêmio principal, nos que são apresentados “hors-concours” e nos curtas e médias metragens (com três filmes brasileiros: ‘Joyce’, de Caroline Leone; ‘Saliva’, de Esmir Filho; ‘Um Ramo’, de Juliana Rojas e Marco Dutra).

Reflete-se também numa lista de policiais em que aparece igualmente ‘O Homem do Ano’ (2003), de José Henrique Fonseca, e, ainda, nos diferentes panoramas em que se pode destacar o intitulado “Cinema e Revolução”. Neste panorama figura – além do mencionado ‘Diários de Bicicleta’ (2004) – ‘Hércules 86’ (documentário de 2006), de Sílvio Da-rin, e ‘Alma Corsária’, de Carlos Reichenbach.

Lee Chang-Dong

Na copiosa programação do Festival de Friburgo, em que é projetada uma centena de filmes, o diretor artístico realça ainda uma homenagem ao “admirável” Lee Chang-Dong (seis películas).

O realizador sul-coreano que se tornou conhecido com ‘Oasis’, em 2002, em Veneza, e em 2004 com ‘Peppermint Candy’ na Quinzena dos Realizadores em Cannes, “recebeu uma carrada de críticas positivas” no mesmo Festival de Cannes, em 2007, constata Waintrop.

É, aliás, de Lee Chang-Dong o filme que abre o FIFF, no sábado, primeiro de março: ‘Secret Sunshine. Para o diretor artístico do Festival “é o filme mais apaixonante a que pôde assistir em 2007”.

Percorrendo, porém, o programa na Internet (confira site, ao lado), pode se ver variadas ofertas para diferentes gostos. Mas como destacou Ruth Luethi, presidente do Festival Internacional de Filmes de Friburgo, um dos objetivos do evento foi e continua sendo “suscitar questões fundamentais e globais através dos filmes procedentes de outras culturas.”

De Friburgo para a Suíça

Resta que umas da metas do Festival é também reforçar seu impacto na Suíça. O interesse da cidade de Friburgo e arredores pelo evento é evidente, pois as diferentes sessões estão geralmente cheias e com freqüência a procura é maior que a oferta.

O que Ruth Luethi e sua equipe de colaboradores desejam é fazer do festival de Filmes um festival suíço, isto é, um evento de repercussão nacional. Por isso mesmo, nos últimos anos, nota-se preocupação de abrir o FIFF à Suíça alemã (que representa cerca de 70% da população).

Embora os habitantes de Friburgo falem majoritariamente francês, pelo menos um terço da população da cidade é de língua germânica. Daí a iniciativa de legendar os filmes em francês e alemão. É uma “orientação que implica uma abertura”, realça a presidente Luethi..

Em tempo: uma novidade desse 22° Festival é que os ingressos podem ser adquiridos por Internet, no endereço: http://www.starticket.ch/ (Na busca, escreva a palavra ‘Fribourg’).

Para a programação em sua totalidade, não deixe de consultar o site do Festival, ao lado.

swissinfo, J.Gabriel Barbosa, de Friburgo

Gira em torno de 1.7 milhão de francos suíços (cerca de 1 milhão e meio de dólares) o orçamento do Festival de Filmes de Friburgo.

A respeito da denominação PAÍSES DO SUL, aplicada aos países emergentes e fora da Europa e dos Estados Unidos, o diretor artístico do Festival de Fribourg, Edouard Waintrop, a considera simplesmente inadequada: “Não existe uma entidade política, econômica, estética e cinematográfica que a justifique”.

Por isso mesmo descarta a denominação de “filmes dos países do Sul” em sua programação: o cinema africano é diferente do latino-americano. Um filme argentino e peruano tem em comum apenas a língua, para não falar do filme brasileiro…

Para Waintrop trata-se de um conceito “paternalista e absurdo”, criado pelos críticos da Europa e dos Estados Unidos, talvez um reflexo de má consciência em relação a um mundo mais pobre.

A propósito de LEE CHANG-DONG, o diretor artístico do FIFF estima que o cineasta sul-coreano tem uma visão muito lúcida da sociedade e uma concepção estética sofisticada, realçando que “a forma de suas películas tem uma adequação incrível com o que quer expressar”.

Quanto à vinda de WALTER SALLES ao Festival, ela se deve a amizade que une o cineasta brasileiro ao novo diretor artístico do Festival de Friburgo, Edouard Waintrop. “Salles vem por pura amizade” nos disse Waintrop, comovido.

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