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Fim dos anos de vacas gordas para agricultores suíços

A época das vacas gordas chega ao fim para os agricultores suíços. Keystone

O governo suíço planejava conceder mais 4 bilhões de francos de ajuda aos agricultores, mas uma aliança de centro-esquerda rejeitou o projeto na Câmara dos Deputados.

Tratava-se de uma medida para amenizar desde já o impacto social da liberalização do setor, que deve decorrer de um acordo de livre comércio agrícola com a União Europeia e da derrubada de barreiras alfandegárias pela Organização Mundial do Comércio.

A ministra da Economia, Doris Leuthard, defendeu na terça-feira (27/5) na Câmara dos Deputados uma transferência de recursos ao setor agrário para “amortecer” desde já o previsível impacto da liberalização sobre esse setor ainda fortemente protegido.

Ela explicou que também a Rodada de Doha da OMC significará para os protegidos agricultores suíços uma abertura de mercado e, com isso, preços mais baixos para os consumidores e queda da renda no campo.

O protecionismo na Suíça baseia-se, entre outras coisas, em altas taxas de importação para produtos agrícolas. Querendo ou não, a Suíça terá de reduzir suas barreiras alfandegárias nesse setor, disse Leuthard.

A ministra disse estar consciente de que a derrubada de barreiras alfandegárias será dura para os agricultores. Por isso, ela propôs usar dinheiro dessas taxas para medidas de compensação.

Até 2016 entrará até meio bilhão de francos por ano nas reservas. Com esses cerca de 4 bilhões de francos os agricultores deveriam ser apoiados na difícil fase transitória.

Aliança inusitada

Mas uma aliança formada pelo Partido Social-Democrata (OS) e a União Democrática de Centro (UDC) – normalmente adversários – rejeitou a proposta do Conselho Federal (Executivo).

A UDC, que também se considera um partido dos agricultores, não queria saber da proposta do governo e dessa maneira manifestou sua oposição ao livre comércio agrícola com a UE e dentro da OMC.

Do acordo com a UE e da Rodada de Doha dependem novas chances de exportação principalmente para a indústria e o setor de serviços, que com suas exportações respondem por cerca de metade do Produto Interno Bruto da Suíça. A agricultura contribui com apenas 0,5% a 1% do PIB.

Segundo Leuthard, a negociações na OMC envolvem os interesses dos setores econômicos “responsáveis por 99% do PIB suíço”.

Promessas vazias

Também a bancada social-democrata foi contra o projeto do governo. Segundo a deputada e agricultora orgânica Andrea Hämmerle, o Conselho Federal quer conquistar a confiança dos agricultores com promessas vazias.

O Partido Liberal (FDP), o Partido Democrata Cristão (PDC), Partido Burguês-Democrático (BDP – formado por dissidentes da UDC) votaram a favor da proposta do governo. Os liberais desejavam medidas de longo prazo, disse o deputado Jean-René Germanier.

Também Hansjörg Walter, presidente da União Suíça dos Agricultores e membro da UDC da Turgóvia, mostrou interesse pelas reservas oriundas das taxas de importação, embora sua entidade seja contra o acordo de livre comércio agrícola. Sua associação prevê uma queda de 50% da renda dos agricultores.

A Câmara dos Deputados decidiu por 111 a 60 votos e 13 abstenções não apoiar a proposta do governo, que agora passa a ser avaliada pelo Senado.

swissinfo.ch, Alexander Künzle e agências

Apenas 3,5% da população suíça (172.991 pessoas em 2007) trabalha na agricultura.

A participação do setor no PIB é de 0,5%.

Segundo dados do censo rural de 2006, existem na Suíça 63.627 propriedades agrícolas, com uma área média de 16,7 hectares cada (a metade tem, no máximo, 15 hectares).

O governo federal gasta anualmente 4 bilhões de francos em subsídios para a agricultura. Isso corresponde a 8% do orçamento federal.

Apesar dessa participação ínfima na economia do país, a política a agrária é um dos assuntos mais discutidos na Suíça.

Motivo: as subvenções são altas, o lobby da agricultura é politicamente forte.

Mas 40% por alimentos consumidos na Suíça são importados.

Não mensurável é a participação da agricultura na marca “Suíça” e sua utilidade para a paisagem e o turismo.

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