Brasil: empresas suíças livres da crise na construção civil

A crise financeira global trouxe uma maior apreensão a alguns setores da economia, entre eles o da construção civil, onde estão presentes diversas empresas de origem suíça.
Governo brasileiro anunciou um pacote de ajuda às empresas que se aproxima dos R$ 6 bilhões, mas as companhias suíças não pretendem recorrer a ele.
Na Suíça, constuma-se dizer que quando a construção civil vai bem, toda a economia vai bem. Atualmemte não é o caso, pois o Ministério da Economia anunciou quarta-feira (12/11) um plano de ajuda de 1,5 bilhão de francos à economa, boa parte para esse setor, a exemplo do que já fez o Brasil.
O pacote brasileiro inclui a criação de uma linha de financiamento específica para permitir que uma empresa ligada à construção civil possa adquirir ativos e assumir empreendimentos de outra empresa do setor que esteja em má situação financeira. Esse financiamento, segundo o que foi apresentado pelo governo, poderá ser utilizado também como auxílio para aquisições de empresas e fusões.
A principal fonte de recursos para o pacote governamental será a caderneta de poupança. A Caixa Econômica Federal (CEF) anunciou a criação de duas linhas de capital de giro para as empresas do setor, o que significa a liberação imediata de R$ 3 bilhões.
A primeira linha será usada na antecipação de crédito para cobrir uma parte das obras em andamento. A segunda permitirá que as empresas retirem na CEF adiantamentos sobre créditos a receber, utilizando, por exemplo, notas promissórias de imóveis vendidos. As duas linhas de crédito, segundo o banco, terão juros anuais entre 10% e 11%.
O objetivo do governo é que as medidas de ajuda às empresas tenham caráter temporário, ou seja, que as linhas de crédito sejam encerradas quando o setor estiver mais tranqüilo e com mais liquidez. A ajuda foi bem recebida pelos empresários: “É importante, pois várias empresas já nos disseram que vão reduzir a velocidade dos seus empreendimentos no ano que vem”, disse o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC), Paulo Safady Simão.
O presidente da Associação Brasileira dos Dirigentes das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Rogério Chor, também elogiou o pacote: “Em 2009, como resultado da crise, o setor deve ter menos lançamentos do que teve este ano. Medidas favoráveis ao crédito serão importantes para que o mercado não se retraia”.
Empresas suíças tranqüilas
Nas empresas de origem suíça, o clima geral é de tranqüilidade, apesar das ameaças trazidas pela crise. Entre as empresas ouvidas pela swissinfo, nenhuma pretende recorrer, ao menos por enquanto, ao pacote do governo brasileiro: “Nossa empresa até agora não sentiu a crise financeira internacional. Ao contrário, esperamos um impulso novo pelo fato de termos uma base financeira sólida”, afirma, otimista, Gerald Martin Zahn, diretor da Pöyry Infra Consultoria e Projetos, empresa que trabalha com consultorias em engenharia.
Apesar do otimismo, a atenção frente à crise é redobrada: “Os efeitos reais do momento financeiro atual somente serão sentidos dentro de alguns meses”, avalia Maria Teresa Soares, que é gerente regional da Geobrugg AG no Brasil. A ordem, no entanto, é não paralisar ou atrasar qualquer empreendimento: “No momento, estamos atentos, porém desenvolvendo continuamente os projetos programados”, afirma a executiva.
O presidente da empresa Hilti do Brasil, Roberto Cardona, por sua vez, afirma que a crise financeira já chegou: “Ela nos afetou, sim, através da diminuição das perspectivas de crescimento da empresa para 2009. Isso teve conseqüente impacto em nossos planos estratégicos”, disse.
Empresa de origem suíça do setor de construção civil mais conhecida no Brasil, a cimenteira Holcim segue firme em seus negócios, sem sentir ainda os efeitos da crise: “Não tivemos qualquer cancelamento ou adiamento de pedidos, e nenhum dos nossos clientes suspendeu obra ou projeto. Fechamos o mês de outubro com 20% de vendas a mais que em outubro de 2007”, afirma Carlos Eduardo Garrocho de Almeida, que é diretor comercial e de relações externas da Holcim Brasil.
Almeida diz acreditar que a empresa não precisará recorrer ao pacote do governo: “Como não somos responsáveis pela realização total das obras _ somos fornecedores de cimento, concreto e agregados _ esse pacote de crédito, a princípio, não é direcionado especificamente a nós. Pretendemos continuar atuando com nossos recursos”, diz o diretor.
Fusões e aquisições
A Holcim Brasil também não tem por enquanto nenhum plano de ação no que se refere à possibilidade de fusões ou aquisições entre as empresas: “A Holcim é o maior grupo cimenteiro do mundo, com negócios sólidos em mais de 70 países. A Holcim Brasil, como parte integrante desse grupo, não pensa, neste primeiro momento, em algum tipo de associação ou fusão”, diz Almeida.
O executivo avalia que a crise não afetará a posição da Holcim no mercado brasileiro: “Soubemos pela imprensa da possibilidade de realização de negociações de fusão ou aquisição entre construtoras que estão com dificuldades de caixa. Mas, em termos reais, não tivemos nenhum problema de pagamento de nossos clientes”, diz.
A Pöyry, por sua vez, não descarta a possibilidade de negócio: “A expansão no mercado via aquisições e fusões é filosofia do Grupo Pöyry”, afirma Gerald Zahn. O mesmo acontece com a Hilti do Brasil: “Em relação à própria empresa, não pensamos em fusão ou aquisição. Entretanto, consideramos essa hipótese no planejamento de ações de nossos clientes”, diz Roberto Cardona. A Geobrugg, segundo Maria Teresa Soares, não pensa em nenhum negócio desse tipo.
swissinfo, Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro
Na última reunião do Conselho Curador do Fundo de Garantia sobre Tempo de Serviço (FGTS), representantes da indústria em geral e das empresas de construção civil em particular apresentaram a proposta de criação de um fundo de investimento imobiliário para garantir liquidez e crédito aos empreendimentos do setor no Brasil.
O fundo abriria às empresas a possibilidade de retirar do FGTS recursos adicionais em troca de créditos de financiamento habitacional a receber, e os juros seriam menores dos que os praticados pelo mercado, num máximo de 7% ao ano.
A proposta conta com o apoio de organizações representativas dos patrões, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e dos empregados, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT).

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