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Fundador da Swatch lança livro

O empresário costuma usar vários relógios de uma só vez. Swatch Group

Nicolas G. Hayek, fundador em 1983 do Grupo Swatch e um dos mais conhecidos empresários suíços, revela alguns dos seus segredos durante entrevista dada a jornalista.

Considerado como o “salvador” da indústria relojoeira helvética, ele está longe de se aposentar.

– Um das grandes fraquezas do meu caráter é o fato de necessitar de mais reconhecimento do que outras pessoas – admite o empresário no recém-lançado livro intitulado “Nicolas G. Hayek: visões de um empreendedor puro-sangue” (no original em alemão, “Nicolas G. Hayek im Gespräch mit Friedemann Bartu Ansichten eines Vollblut-Unternehmers”).

E ele também já contou para os colegas no Grupo Swatch, onde já foi presidente, o que gostaria de ver escrito na sua lápide: “Aqui jaz alguém que sempre foi justo ou tentou sê-lo”.

Aos 77 anos de idade, Hayek, que é também um nome muito comum na Suíça, decidiu passar à limpo sua longa e bem-sucedida carreira.

A obra é obviamente parcial, mas também não tem outra pretensão. Em resumo, qualquer pessoa interessada na história recente da indústria relojoeira suíça não ficará desapontada.

Difícil começo

O livro traça uma narrativa em volta do seu difícil começo como consultor, o convite dos bancos para salvar a indústria relojoeira helvética e a criação do grupo, que terminou se transformando no maior fabricante de relógios do mundo.

O primeiro de agosto de 1957, data do ano onde também é comemorado o dia nacional da Suíça, não é lembrado com muita alegria por Hayek. Foi quando ele se instalou num minúsculo escritório em Zurique, onde não havia nem telefone: ele não tinha dinheiro para pagar por uma linha. Nessa época ele ia para a agência dos Correios localizada do outro lado da rua fazer suas chamadas.

Enquanto as pessoas estavam nas ruas comemorando, Hayek estava deprimido, pois nenhum pedido chegava e o plano de trabalho continuava em atraso.

– Como sou idiota! Tenho duas crianças, uma esposa e agora estou entrando nessa aventura. Eu tinha um trabalho seguro e agora tenho apenas três clientes que me prometeram encomendas e que me deixaram na mão – conta no livro.

A família teve de penhorar os móveis e o banco aprovou um crédito de 4 mil francos suíços.

– Essa foi a primeira e última vez que eu pedi um empréstimo ao banco ou qualquer outra pessoa. Agradeço a Deus pelo fato dos tempos difíceis não terem durado muito – escreve.

Mas Hayek terminou firmando seu nome no mercado quando foi chamado para tentar salvar a indústria relojoeira, que havia perdido o “bonde” da digitalização e mercado para os japoneses.

Capitão do barco

Ele revela ao repórter da swissinfo, na sede geral do Grupo Swatch em Biel, que seu papel nessa história foi como o de um capitão de navio no meio de uma tempestade.

– Ninguém sabia o que fazer e todo mundo temia pela morte iminente, já tendo até desistido da vida. Porém era importante ter alguém para dizer “não”, “nós podemos fazer melhor”. Não apenas dizendo “não” podemos fazer melhor, mas sim mostrando o caminho à percorrer e como fazer melhor. Essa era o tipo de ação que as pessoas necessitavam, o da liderança – conta.

Hayek nunca escondeu o que para ele é considerado a prioridade máxima – o produto, o produto e mais uma vez, o produto.

E ele se posiciona de forma crítica em relação às empresas que apenas cortam empregos, tornando seus funcionários supérfluos ou deixando-os num permanente estado de “reestruturação”.

– Muitos dirigentes empresariais, em grandes empresas, gostariam de reorganizar suas firmas seis vezes por ano. Eles organizam, reorganizam, desorganizam e acabam esquecendo do principal problema que é o produto.

Hayek explica que os funcionários não devem ser considerado um fator de custo numa companhia, pois eles são a unidade que formam a “família”. E são seus membros que devem levar o produto para a frente.

Força analítica

Uma das suas qualidades, conta ele à swissinfo, é analisar uma situação com grande rapidez e compreender antes de todos quais são as tendências do mercado e da indústria.

– Quando vejo uma realidade, reajo à ela. É possível se preparar e fazer a coisa certa. Essa é uma razão para o meu sucesso. A segunda é saber dar confiança e motivar as pessoas. As pessoas que trabalham na empresa devem se sentir fortes quando estou por perto. Elas devem se sentir verdadeiramente que estamos indo numa determinada direção para ganhar a batalha. Se eu consigo dar esse sentimento ao grupo, então já temos meio caminho andado – conta.

Sua estratégia de ser o melhor do mundo é baseada não apenas em motivar as pessoas, mas também em manter o caráter inovador num alto nível e levando à sério qualquer idéia trazida por um colaborador.

Ele revela que outro segredo é incentivar as pessoas a manter suas idéias e fantasias como no tempo em que elas eram crianças e brincavam na praia.

Mantendo a fantasia

– Não matamos a criatividade na empresa. Nós a deixamos crescer. Essa é a razão para dizer que precisamos manter a fantasia da época dos nossos seis anos. Eu não estou brincando! Isso é real!

Apesar dos lucros da empresa estarem sendo garantidos apenas pelos bons negócios das marcas de luxo do grupo como “Omega”, “Blancpain” e “Breguet”, muitos funcionários acreditam que a marca “Swatch” ainda terá um futuro brilhante pela frente. Porém muitos representantes da imprensa pensam o contrário.

Para Hayek a Swatch ainda não alcançou seu pico. Ele mostra que suas fábricas continuam produzindo e lançando novidades no mercado.

– Porém a marca sofre uma concorrência forte no mercado. Tratam-se de empresas que elaboram seus modelos na Europa ou nos Estados Unidos, mas que produzem na China. Os relógios são de baixa qualidade e custo de produção. Mas para o consumidor, o que segue as tendências da moda, a única coisa que conta é a aparência e não a qualidade do produto. Essa é a razão pelo fato da Swatch não estar crescendo como é de costume – analisa o empresário.

Para um homem na sua idade, Hayek não pensa em ficar em casa, deixando de se preocupar com os negócios. Isso não seria do seu estilo. Afinal, o que ele mais gosta é de estar cercado de colaboradores.

Se divertir no trabalho

– Você pode ver que não tenho um emprego comum. Eu realmente me divirto a cada dia e não preciso da solidão. Mas as vezes ela é necessária para pensar, escutar música ou se emocionar. Então eu tento aproveitar alguns momentos do dia. Por isso eu gosto tanto de conduzir pela manhã meu próprio carro. Não tenho motorista. Para ir ao trabalho necessito de uma hora e dez minutos, um espaço de tempo que costumo guardar só para mim – explica Hayek.

O empresário suíço foi presidente do grupo Swatch até o final de 2002, quando então passou o cargo para o filho Nick. Porém ele continua sendo a força motriz da indústria relojoeira suíça.

Muitos perguntam o que significa o “G” no seu nome (Nicolas G. Hayek). A swissinfo não perdeu a oportunidade de fazer essa pergunta. A resposta foi mais prosaica do que o esperado:

– O nome do meu pai era George, por isso na realidade me chamo Nicolas George Hayek – revela.

swissinfo, Robert Brookes

Nicolas G. Hayek nasceu em 1928 e teve um papel decisivo na reorganização e fusão dos fabricantes de relógios ASUAG e SSHI no início dos anos 80, quando a indústria relojoeira suíça estava vivendo uma grave crise.
Com um grupo de investidores ele se tornou em 1985 o acionista majoritário do que hoje em dia é conhecido como Grupo Swatch.
Durante os anos, Hayek recebeu um grande número de distinções acadêmicas e públicas.
Ele recebeu a medalha de Grande Oficial da Legião de Honra francesa no final de 2003.
Hayek foi agraciado também com o título de cidadão honorário de Biel (cidade industrial próxima de Berna) e citado como “salvador” da indústria relojoeira suíça.
Ele continua ativo como consultor de empresas na sua própria empresa, a Hayek Engineering.

– O livro “Nicolas G. Hayek: visões de um empreendedor puro-sangue” (Nicolas G. Hayek im Gespräch mit Friedemann Bartu Ansichten eines Vollblut-Unternehmers) foi escrito em cooperação com o jornalista Friedemann Bartu, do jornal suíço “Neue Zürcher Zeitung” (NZZ).

– No momento a obra existe apenas na versão em alemão, mas está sendo traduzido para o francês. Um tradução para o inglês está prevista.

– O prefácio foi escrito pela modelo americana Cindy Crawford, que durante muitos anos foi “embaixadora” da marca Omega.

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