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Gelo revela riscos da poluição

Pesquisadores passam até oito dias em Monte-Rosa para retirar amostras de gelo de uma geleira. swissinfo.ch

Equipe do Instituto Paul Scherrer pesquisa história climática do globo através de escavações no gelo. Camadas chegam a ter 1.500 anos de idade.

Concentração de poluentes encontrados no gelo aumentou drasticamente desde 1950. Aquecimento global destrói geleiras.

O aquecimento gradual do globo terrestre não é um risco apenas para a humanidade. Também nas regiões montanhosas acima dos quatro mil metros esse fenômeno climático já cobra suas vítimas.

“Estamos vivendo a destruição de um arquivo histórico único no planeta: as geleiras”, afirma Margit Schwikowski, chefe do departamento de química analítica no Instituto Paul Scherrer.

Desde 1990 a cientista alemã trabalha num dos mais conceituados centros de pesquisa da Suíça, localizado em Villigen, um povoado entre Zurique e Basiléia. Um dos seus principais trabalhos é a análise do gelo encontrado nas geleiras.

Gelo de 1.500 anos

A geleira cobre uma gigantesca saliência, localizada a uma altura de 4.452 metros do nível do mar, na região montanhosa do maciço do Monte Rosa, próxima à fronteira da Suíça com a Itália. Ela foi formada com a queda de neve nos últimos milhares de anos. Cada camada vai compactando a outra e, sob a pressão, as mais profundas vão se transformando em gelo.

Como uma espécie de impressão digital, o gelo revela as condições climáticas, a consistência do ar e outros dados químicos e físicos importantes sobre o ano em que a neve caiu. Muitas vezes formam-se também bolhas ou fissuras.

“Esse ar aprisionado pode ser retirado e mostra como era composta a atmosfera no passado”, lembra a pesquisadora alemã.

A geleira no maciço do Monte Rosa é uma das áreas onde a equipe de Schwikowski utiliza brocas especiais para retirar amostras de gelo. Elas perfuram as diferentes camadas e retiram pedaços cilíndricos. “Assim como nas árvores, é possível contar os anos através das diferenças de cor e consistência”.

O objetivo do grupo de pesquisa suíço é encontrar o gelo mais antigo da Europa, que poderia ter até 10 mil anos. A última perfuração alcançou os 82 metros e mostrou que o gelo nessa profundidade tem apenas 1.500 anos.

“Existem áreas mais profundas, porém não sabemos se o gelo será ainda mais antigo. Muitas vezes as camadas se misturam”, explica Schwikowski.

Surpresas no gelo

As análises no gelo coletado concentram-se, por enquanto, apenas nas camadas formadas no último século. Porém elas revelam algumas surpresas.

Testes de radioatividade realizados no gelo mostram claramente o desenvolvimento da bomba nuclear nas últimas décadas. “As tabelas mostram aumentos na concentração de elementos radioativos que coincidem, por exemplo, com a explosão da bomba de Hiroxima, com o primeiro pico de testes atômicos ao ar livre em 1958, indo até 1963, com as explosões promovidas pelos russos em 1963”, esclarece a pesquisadora.

Outras análises comprovam o aumento dramático da poluição atmosférica a partir de 1870, quando se iniciou a chamada “Revolução Industrial”. Desde então chaminés das fábricas passaram a dominar vastas paisagens na Europa, EUA ou Japão.

O sulfato é um desses elementos. Ele surge na atmosfera através do dióxido de enxofre, que é liberado durante a queima do carvão ou petróleo. As tabelas mostram o mesmo crescimento para poluentes como o chumbo, fuligem, nitrato e amônio, todos conseqüência da industrialização crescente.

Porém as amostras de gelo revelam outro segredo: nos últimos anos, a concentração dos poluentes está se reduzindo drasticamente. “A razão está nos programas de despoluição e desenvolvimento das tecnologias ambientais aplicadas nos países desenvolvidos”, revela Schwikowski.

Catástrofe em 100 anos

Essa boa notícia não significa a solução para o problema do meio-ambiente. “Infelizmente o efeito estufa, provocado pelo alto nível de emissões de gás carbônico na atmosfera, continua a progredir”, lembra a pesquisadora.

“A tendência começou há cem anos, mas o aumento se tornou dramático nos últimos vinte anos”. Calcula-se que, caso os países industrializados não adotem medidas para reduzir suas emissões, a Terra poderá se aquecer em até quatro graus centígrados.

O derretimento do gelo provocado pelo aquecimento pode fazer elevar o nível do mar e provocar até o desaparecimento de países inteiros ou cidades litorâneas.

swissinfo, Alexander Thoele

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