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Henri Cartier-Bresson, um olhar decisivo

O vilarejo de Aquila, região de Abruzzes, Itália, 1951. swissinfo.ch

Mais de 50 anos após a primeira exposição dedicada ao fotógrafo, o Museu da Forma de Zurique apresenta uma grande retrospectiva sobre a obra de Henri-Cartier Bresson.

Um passeio através da obra do homem da câmara Leica e um dos fotógrafos mais marcantes do século 20.

Na Espanha, em Sevilha, em 1993, um grupo de crianças brincando atrás de outra com muletas de madeira e captados em pleno movimento. Seus risos, suspensos na eternidade, ainda parecem ressoar na grande sala do Museu da Forma (Museum für Gestaltung, em alemão).

Trata-se de uma ilustração perfeita da fotografia de Henri Cartier-Bresson e do “instante decisivo”, o conceito criado no seu célebre primeiro livro “Imagens de última hora” (1952), mas que marca a obra do artista desde o seu começo.

“De repente compreendi que a fotografia pode fixar a eternidade do momento”, escreve ele em 1977 à Joan Munkácsi ao falar de uma imagem do seu pai, Martin Munkácsi, onde aparecem três jovens de cor negra imobilizados a caminho do lago de Tanganyika, em 1930.

Um pioneiro

Conquistado pela fotografia, o artista francês sai à busca da imagem. Ele se funde com a paisagem, aguarda e, quando o momento é propício, a composição perfeita, ele aperta o botão da sua câmara Leica.

“Eu não tenho nenhuma mensagem a transmitir, nada a provar. Ver e sentir: é o olho surpreendido que decide”, escreve o fotógrafo, cujo olhar único deixou sua marca no século 20. Pioneiro do fotojornalismo e excelente autor de retratos, Henri Cartier-Bresson se impõe como um compositor único, com imagens estéticas e técnicas, mas também fotos que contam histórias ou trechos da vida.

A exposição em Zurique cobre perfeitamente todas as facetas do fotógrafo. São 300 das suas imagens, selecionadas no conjunto da obra do artista. Elas são completadas por reportagens publicadas nas revistas “Du” (revista cultural suíça em alemão), Life ou também filmes.

Viagens pelo mundo

México, Espanha, EUA, Indonésia, Índia, China, Rússia, Europa: o percurso se divide entre os diferentes países explorados pelo artista. São imagens que começam nos anos 30, exibindo a miséria em um bairro do México, até uma reportagem sobre a Suíça (publicada na revista “Du”), onde ele retrata o ambiente de Zurique nos anos 1960. Ele também aborda a crua realidade da América dividida ou a tensão ligada à queda do regime Kuomintang.

Com um estilo afiado, Henri Cartier-Bresson está sempre lá onde deve estar, no momento certo, seja durante o fim de um regime, a morte de um líder, o reflexo de um pedestre ou a fixação de um olhar. Talvez seja a intuição, como quando encontrou Mahatma Ghandi uma hora antes de ser assassinado. E cessa na foto do poeta e dramaturgo Paul Claudel, que cruza um carro fúnebre e depois recita três vezes “a morte, a morte, a morte”.

Maneira de viver

“Fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração. É uma maneira de viver”, diria Henri Cartier-Bresson. O artista enquadra o cotidiano para tirar dele condensados da história. Para fazê-lo, ele tentará até o cinema. Inclusive, seus dois filmes de propaganda republicana, realizados durante a guerra civil na Espanha – “Vitória da vida” (1937) e “A Espanha viverá” (1938) – são também apresentados em Zurique. Assim como “O Retorno”  (1945), seu filme mais importante, uma reportagem sobre o retorno dos deportados da Segunda Guerra Mundial.

Uma guerra que se encarna também pela apresentação de um fac-símile do famoso “Scrapbook”, um caderno de rascunho onde o fotógrafo organiza as fotos que ele apresentaria em Nova Iorque em 1947. De fato, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) acreditava que Henri Cartier-Bresson havia morrido durante a guerra e organizou para ele uma exposição póstuma, uma benção para o fotógrafo que havia conseguido escapar de um campo nazista.

História em uma fração de segundos

Além disso, foi na sequência da exposição que ele cria a célebre agência Magnum Photos juntamente com Robert Capa, David Seymour, George Rodger e William Vandivert. Os grandes fotógrafos dividem entre si o mundo: Henri Cartier-Bresson parte para descobrir a Ásia.

Ele fotografa a morte de Ghandi, o teatro balinês ou os chineses sob a pressão de um regime político que está entrando em colapso. São olhares que captou em centenas como em 1954, na União Soviética, atrás da Cortina de Ferro. Lá ele faz registros da vida cotidiana dos trabalhadores e  dirigentes comunistas com poder absoluto. Em Leningrado, em 1973, ele fotografa um homem e seu filho sob a sombra de uma estátua do Lênin, com uma altura sufocante.

Em uma imagem Henri Cartier-Bresson fornece uma época, como ele consegue fazê-lo nos seus retratos. “Fazer um retrato é, para mim, a coisa mais difícil. É um ponto de interrogação colocado em cima de qualquer pessoa”, declarou. Truman Capote, Alberto Giacommetti, Henri Matisse e Pablo Picasso: seu olhar aguçado conseguiu, portanto, oferecer sutilmente caracteres complexos. Personalidades ou pessoas anônimas: o enquadramento é sempre milimetrado, o ambiente é ideal e o “tiro” magistral.

“Eu sou sempre um prisioneiro escapado”, afirma o fotógrafo no documentário de Heinz Butler, cujo título é “Biografia de um olhar” (2003). Talvez seja por essa razão que, durante toda a sua vida, Henri Cartier-Bresson conseguiu dominar tão bem a capacidade de detectar o instante decisivo.

Henri Cartier-Bresson (22 de agosto de 1908, Chanteloup-en-Brie, Seine-et-Marne, França — 2 de agosto de 2004, Cereste, Vaucluse, França) foi um dos mais importantes fotógrafos do século XX, considerado por muitos como o pai do fotojornalismo. (Texto: Wikipédia em português)

A retrospectiva é exibida em Zurique no Museu da Forma (Museum für Gestaltung) até 24 de julho de 2011.

Ela foi elaborada por Christian Brändle, diretor do museu, e Robert Delpire, editor e diretor artístico em Paris. São cerca de 300 imagens do fotógrafo.

Concertos: paralelamente à retrospectiva, o museu também propõe concertos ligados ao gosto musical de Henri Cartier-Bresson, especialmente os concertos de piano com as composições de Johann Sebastian Bach ou Maurice Ravel.

Adaptação: Alexander Thoele

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