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Legados da Copa e dos JO são de longo prazo

Arena Corínthians, palco do jogo de abertura BrasilxCroácia Keystone

Este foi o tema e a conclusão de uma mesa redonda da qual participaram, entre outros o Secretário-Geral da Fifa, Jerôme Valcke, e o Diretor Executivo do COI para os Jogos Olímpicos, Gilbert Felli, organizada em Lausanne, capital olímpica, no contexto de uma exposição e debates sobre a administração profissional dos esportes. Ambos também falaram bastante do Brasil.

O que resta para o país que organiza grandes eventos esportivos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos? Basicamente, restam legados de dois tipos: materiais (estádios e instalações e infraestrutura de transportes e telecomunicações, quando elas não existiam ou eram precárias antes dos eventos. Resta ainda o legado imaterial (imagem do país organizador, pessoas que foram formadas para o evento, incentivo à prática esportiva para as futuras gerações, etc.). Um balanço de um grande evento precisa ser feito de cinco a dez anos, na opinião de Denis Oswald, membro do COI e Diretor do Centro Internacional de Estudos do Esporte (CIES).

Alguns exemplos

Existem cidades ou países que tiraram mais proveito de grandes eventos esportivos do que outros. Montreal, Canadá, teve de aumentar os impostos dos cidadãos para pagar parte dos prejuízos dos Jogos Olímpicos de verão em 1976. Para a Copa do Mundo de 2006, a Alemanha investiu pouco dinheiro público porque já tinha toda a infraestrutura pronta. Todos os que conheceram Barcelona antes dos JO de 1992 sabem que a topografia da cidade, como toda a orla, mudou para melhor.

Para eventos esportivos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos existem basicamente dois orçamentos. Um chamado de operacional, ligado à organização da competição (despesas das delegações e ou seleções como transporte e alojamento), transmissões de televisão, patrocínio etc. são arcadas pela Fifa e COI; e existe o orçamento em infraestrutura (estádios, transportes, comunicações etc.),  arcado pelo país organizador (como dinheiro público, privado ou parcerias). 

Brasil decidiu 12 estádios

No caso da Copa do Mundo, Jerôme Valcke explicou que, para uma Copa com 32 seleções, “a Fifa exige um mínimo de oito estádios. Quem decidiu que seriam 12 estádios foi o Brasil”, disse o Secretário-Geral da Fifa. Recentemente, em entrevista para swissinfo.ch, o ministro dos Esportes Aldo Rabelo justificou a construção de 12 estádios para que a Copa ocorresse em todo o Brasil (ver matéria relativa).  Gilbert Felli (COI) disse que o legado de um grande evento esportivo deve começar no dia da designação da cidade ou do país organizador. “É preciso saber exatamente porque se quer organizar um evento desse porte” e que ele não é anódino. “Não se pode fazer um omelete sem quebrar ovos”, exemplificou.

Gilbert Felli e Jerôme Walcke reconhecem que a Fifa e o COI  não sabem comunicar o que fazem de positivo. “Pouco importa que a Fifa, o presidente Blatter ou eu sejamos criticados. Eu compreendo isso. O que não deve ser criticado é o futebol”, disse o Secretário-Geral da Fifa.  Walcke acrescentou que a Fifa “não pode ser amada porque toma decisões.”

Em breve encontro com jornalistas brasileiros ao final da mesa redonda em Lausanne, Jerôme Walcke disse que viveu três anos difíceis nas relações com o Brasil, “com incompreensões das duas partes”, do Brasil e da Fifa.

“Pode parecer fácil, mas organizar uma Copa do Mundo é difícil e exige muito trabalho. No início também houve uma certa incompreensão sobre a dimensão do evento e os investimentos começaram um pouco tarde. Foram dificuldades ligadas à estrutura do país.  Agora espero que não haja problemas de segurança e que quiser ir do Rio para Cuiabá, por exemplo, poderá fazê-lo sem problema.”

Estádios duram média de 35 anos

Miranda Kiiuri, arquiteta especializada em infraestruturas esportivas, presente na mesa redonda, explicou que as construções planejadas  e executadas a médio prazo sempre têm custos menores do que as construídas na última hora.  Acrescentou que as instalações esportivas duram em média 35 anos.

Ao contrário do futebol, que tem uma audiência cativa em boa parte do planeta, Gilbert Felli explicou que nos Jogos Olímpicos, muitas competições são simultâneas e que “certas disciplinas atraem menos público e mídia do que outras.”  A esse respeito, Walcke garantiu que “os estádios na Copa no Brasil estarão lotados nos 64 jogos da competição.”

Bombardeio de perguntas

No momento das questões aos participantes do debate, o Secretário-Geral da Fifa foi o mais solicitado. Respondendo a duas perguntas de swissinfo.ch, Jerôme Walcke disse que “suas últimas preocupações é que tudo funcione bem nos estádios. “Tivemos que fazer compromissos e ceder em alguns pontos. Deveríamos ter assumido os estádios em dezembro e isso vai ocorrer somente em 15 de maio. Disse ainda que a Fifa aprendeu mais com as Copas na África do Sul e no Brasil do que em todas as outras. Trabalhamos com o comitê de organização na África do Sul e tentamos repetir isso no Brasil. Essas experiências serão certamente aproveitadas.”

Walcke ainda reclama das dificuldades com a mudança de interlocutores, principalmente no plano político, com novos ministros, governadores e prefeitos.  Ele lança a ideia de que, talvez no futuro seria atribuir a Copa a um comitê mais representativo de um país do que a um governo.

Outro que tem criticado a organização para os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio é justamente Gilbert  Felli, principalmente a opção por  Deodoro, uma zona pobre do Rio, sem infraestrutura. Ele disse que sugeriu utilizar monitores do Exército para atrair jovens para o esporte, por enquanto sem sucesso.

O Secretário-Geral da Fifa também falou do Catar, que sediará a Copa do Mundo em 2018. Ele reconhece que a Fifa tem uma responsabilidade moral, mas acha que a Copa no Catar pode ajudar a mudar algumas coisas, inclusive um novo paradigma de trabalho para a região.O Secretário-Geral da Fifa também falou do Catar, que sediará a Copa do Mundo em 2018. Ele reconhece que a Fifa tem uma responsabilidade moral, mas acha que a Copa no Catar pode ajudar a mudar algumas coisas, inclusive um novo paradigma de trabalho para a região.

Questionado por swissinfo.ch se ele vai torcer pela França (Walcke é francês), no jogo com a Suíça, em Salvador, ele respondeu que não verá esse jogo. Precisou que as primeiras partidas que ele vai ver serão Brasil X Croácia, em São Paulo e Espanha X Holanda, em Salvador.

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