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Hotel “zero” estrela é empreendimento comercial

Os irmão Riklin (dr. e esq) inventaram o conceito do hotel "zero" estrelas. Keystone

A Suíça pode ser o país do luxo, mas uma nova forma de hotelaria planeja ocupar um nicho no setor de acomodações baratas com espaços atraentes, incluindo até serviço de mordomo.

O Hotel “Zero” Estrela foi inaugurado em um abrigo nuclear desativado para servir como uma performance artística. Sua principal mensagem é ser uma alternativa em tempos de dinheiro rápido e luxúria. Porém o sucesso foi tão grande que em breve deverá ser lançado como empreendimento comercial.

A locação original em Teufen, um pequeno vilarejo no cantão de Appenzell Ausserrhoden (nordeste da Suíça), teve de ser fechada depois de um ano para se transformar em museu comemorativo do hotel original. O novo local ainda está sendo mantido em sigilo, mas promete também ser incomum e dentro de uma cidade.

A ideia nasceu quando os irmãos gêmeos Frank e Patrik Riklin, os dois artistas, foram solicitados por uma prefeitura da região a converter um bunker nuclear em abrigo a preços módicos. Então eles criaram o primeiro hotel do mundo com “zero” estrela. O lema era: “Onde a única estrela é você”.

Mas o albergue improvisado com 14 camas, nos quais os preços variavam de 10 a 30 francos (US$ 8.75 a 26) o pernoite, teve tanto sucesso que os gêmeos e o parceiro Daniel Charbonnier, um especialista em hotelaria, transformaram a ideia em marca.

“Tivemos de testar antes de começar, ou seja, o primeiro hotel zero estrela funcionou apenas como um protótipo”, explica Charbonnier. “Nossa pesquisa de mercado mostrou que 80% dos hóspedes manifestaram o desejo de querer voltar, mas indicando preferir ficar em uma cidade.”

Serviço de mordomo

Charbonnier, que chefia uma consultoria na área de hotelaria, não quis revelar quantas pessoas pernoitaram no hotel, mas explica que elas viriam de 29 diferentes países, de todas as classes sociais e com idades variando entre sete e 77 anos.

“Muitos dos nossos hóspedes contaram que têm o costume de ficar em hotéis de três ou quatro estrelas”, conta. “Então arrumamos um jeito de atrair clientes que gostam de serviço de boa qualidade, mas que tiveram recentemente de apertar seus cintos.”

O ambiente austero dos quartos sem janelas – e banheiros coletivos – ganhou um brilho através de um mordomo, cuja função era trazer chá ou café de manhã e também servir de porteiro. Juntamente com o local incomum que o novo hotel “zero” estrela irá ocupar, o pacote continuará oferecendo o serviço personalizado de mordomo para os hóspedes.

Um mordomo parece à primeira vista estar em desacordo com a filosofia artística inicial, mas Charbonnier insiste que o conceito funciona muito bem com esse detalhe.

“Um mordomo parece ter uma conotação negativa de luxo, mas uma pessoa que gasta menos para pagar sua acomodação, também merece um serviço de primeira classe”, defende. “Nossa mensagem é: fazer dinheiro requer trabalho duro e que economia por si só não é algo sustentável.”

Imagem de país caro

Os novos empresários até recusaram uma oferta de apoio financeiro de um investidor russo, pois sentiam que ele não havia compreendido o conceito. Assim a integridade da marca poderia ser perdida.

Urs Eberhard, vice-diretor da Suíça Turismo, órgão oficial do setor, estava entusiasmado de ver a ideia do hotel se tornar comercial.

“Tudo que consegue se diferenciar e oferecer uma experiência única tem chance de sucesso”, declara. “Talvez isso mude a percepção das pessoas de que a Suíça é um lugar caro para se visitar.”

“Existe uma tendência atual de procurar hotéis mais baratos ou até mesmo os campings. As pessoas estão hoje em dia mais abertas a experimentar ofertas diferentes como, por exemplo, ficar num albergue da juventude quando for fazer trilhas e, depois, relaxar em um spa às margens de um lago.”

Muito do sucesso do Hotel Zero Estrela deve-se à cobertura da imprensa, que lhe deu publicidade gratuita. O hotel não gastou nenhum franco em propaganda.

Mas Christian Laesser, professor de turismo e administração de serviços na Universidade de St. Gallen, tem dúvidas sobre o que ocorreria se a imprensa perder seu interesse na novidade.

O segredo é o lugar

“Os iniciadores teriam, então, que procurar meios não convencionais para continuar a ter um nome no mercado ou confiar na propaganda boca a boca para continuar a gerar receitas”, analisa.

De fato, o Hotel Zero Estrela se esforçou bastante para ser conhecido. Ele chegou até a entrar por um ano no famoso guia de mochileiros, o “Lonely Planet”.

Lukas Brunner, do Instituto de Pesquisa em Lazer e Turismo na Universidade de Berna, acredita que o hotel está tomando a decisão correta em se mudar para um centro urbano. Isso, pois cidades como Zurique e Genebra são importantes centros de atração para os turistas.

Mas ele adverte que o hotel deve procurar um local tão único para se instalar como o bunker nuclear no Appenzell.

“Não será fácil encontrar algo parecido em Zurique, pois lá os preços são muito mais elevados. A localização é muito importante, mas acredito apesar disso que esse projeto possa dar lucros”, afirma Brunner.

Charbonnier revela que vários possíveis locais já estão sendo investigados, mas ainda não pode dar a previsão de quando o novo hotel será inaugurado. Porém ele está otimista de que essa “marca” possa se expandir para incluir até outras locações, inclusive fora da Suíça.

Matthew Allen, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)

O Depto. Federal de Estatísticas colhe os dados do setor de hotelaria há 25 anos. Aqui estão alguns que mostram as principais mudanças entre 1934 e 2009:

– O número de hotéis teve uma queda de 29%. Se antes eram 7.756, hoje existem 5.533 estabelecimentos hoteleiros no país. Porém o numero de camas aumentou em 35%.

O número de pernoites mais do que dobrou, passando de 14.3 milhões em 1934 para 35.6 milhões em 2009.

Porém as pessoas estão ficando menos tempo nos hotéis: uma média de 2,3 pernoites (2009) comparado a 4,2 pernoites (1934).

Também houve uma mudança no perfil dos hóspedes: em 1934, 57% deles vinham da Suíça e 45% do exterior; em 2009, 43% eram suíços e 57% eram estrangeiros.

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