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Morte do presidente da Venezuela comentada pela imprensa helvética

População homenageia Hugo Chávez, que lutou por muito tempo contra o câncer. AFP

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, morreu na tarde da terça-feira (5 de março), aos 58 anos, após uma longa luta contra o câncer. O governo declarou sete dias de luto nacional e as cerimônias fúnebres serão realizadas no final da semana.

O acontecimento foi amplamente noticiado pela imprensa suíça. Para editorialistas e correspondentes de vários jornais, Chávez foi deixou um legado importante não apenas à Venezuela, mas também ao continente, porém ressaltam os problemas não solucionados.

Entrevistado pelo diário Basler Zeitung, o jornalista Sandro Benini, responde o que representa o falecimento de Hugo Chávez para a Venezuela. “O país perdeu um líder carismático, que mostrava uma verdadeira proximidade com o povo e que lutou contra a pobreza”, afirma, ressaltando, porém o outro lado do líder. “A Venezuela também perdeu um tipo, que quanto mais permanecia no poder, mais ficava autoritário, presunçoso e irracional.”

Para o correspondente baseado na América Latina, a Venezuela é hoje um país dividido. “O apoio que Chávez gozava por parte da população vem dos seus programas sociais. Ele investiu o dinheiro do petróleo em escolas e moradias gratuitas. Assim a situação dos pobres melhorou. Porém com tanto dinheiro gerado pela exploração do petróleo, o país deveria estar com uma situação econômica muito melhor.”

Sentimento de união

 As reações atuais do governo venezuelano à morte de Chávez, incluindo a expulsão de dois diplomatas dos Estados Unidos, também são comentadas por Sandro Benini. “Os Estados Unidos são os principais receptores do petróleo venezuelano. A Venezuela não se pode dar ao luxo de manter um curso de oposição verdadeiramente concreto. A tentativa do país é de apresentar com mais clareza, nessa situação de emergência, o inimigo sempre destacado por Chávez e, com isso, provocar um sentimento de união.”

Já o jornal Neue Zürcher Zeitung (NZZ), no comentário escrito pelo correspondente Werner Marti, baseado em Buenos Aires, escreve que a “Venezuela e a América Latina perderam com a morte de Hugo Cháves uma figura marcante, mas que pouco da sua herança permanecerá no país”.

“A estratégia de Cháves era levar os serviços do Estado diretamente aos bolsões de pobreza do país. Dessa forma, muitos venezuelanos, que antes eram totalmente ignorados pelos regimes precedentes, recebiam uma ajuda concreta. Outras camadas mais desfavorecidas se aproveitavam das clínicas ou dos alimentos subsidiados. Porém os críticos lembram que o dinheiro do petróleo era muitas vezes mal empregado e sem controles públicos”, escreve o jornalista.

A presidência da Suíça expressou condolências oficiais em uma carta enviada às autoridades venezuelanas e à população. Como gesto diplomático formal, o ministro suíço das Relações Exteriores, Didier Burkhalter, vai prestar homenagem na embaixada da Venezuela em Berna na sexta-feira (8 de março), declarou o porta-voz do ministério.

A bandeira suíça foi colocada na quarta-feira a meio mastro no edifício do ministério das Relações Exteriores próximo ao Parlamento federal, como é de praxe após o falecimento de um chefe de Estado.

Em uma breve declaração aos jornalistas presentes na sala de imprensa, o ministro Burkhalter descreveu Chávez como uma figura de liderança política. “Ele marcou não apenas o curso no seu país, mas também em toda a América Latina”, declarou.

Burkhalter acrescentou que o futuro da Venezuela depende da forma como será realizada a transição de poder nas próximas semanas e manifestou também um desejo. “Esperamos que haja mais segurança legal na Venezuela, o que abre caminho para mais investimentos suíços em longo prazo.”

As relações entre a Suíça e a Venezuela sofreram um revés após a nacionalização das atividades do fabricante suíço de cimento, Holcim, no país em 2008. Porém o ministro das Relações Exteriores descreve os laços entre os dois países como “bons, mas não particularmente bem desenvolvidos.”

Em 2011, a Suíça importou bens da Venezuela, em grande parte produtos agrícolas e metais, na ordem de 6,3 milhões de francos (US$ 6,7 milhões). As exportações à Venezuela totalizaram 374 milhões de francos. O investimento direto suíço no país é de 2,1 bilhões de francos (2010).

A Suíça abriu uma embaixada na capital, Caracas, em 1961. Até o final do ano passado, 1.800 cidadãos suíços viviam na Venezuela.

Situação crítica

Para o correspondente do NZZ, o chamado “Socialismo do século 21” estava caminhando para uma linha cada vez mais extremamente dirigista. Ele lembra que o setor petroleiro foi quase todo estatizado, assim como setores industriais como os de produção de cimento e aço, além do confisco de milhões de hectares de terras agrícolas. O resultado “foram fortes quedas de produção”, o que levou Cháves a “revogar a independência do Banco Central e introduzir o controle de divisas”.

Hoje a situação da Venezuela é critica, no entender de Werner Marti. “A inflação elevada de cerca de 30% e a forte reação à crise econômica a partir de 2008 foram sinais fortes de uma fraqueza fundamental da economia venezuelana”. E o que permanece do legado de Chaves? “Se Hugo Cháves denominava o seu período de governo como uma revolução bolivariana, uma análise profunda mostra que essa chamada revolução não trouxe mudanças estruturais profundas à sociedade…Suas ‘misiones’ trouxeram esmolas à grande parte da população, mas nada além disso”, escreve.

O correspondente do NZZ conclui que “na área econômica, Chávez não conseguiu construir nada de novo. A Venezuela está hoje mais do que nunca dependente do petróleo. A economia, enfraquecida pela intervenção estatal, só não sofreu um colapso graças aos preços elevados do petróleo no mercado internacional”.

Ao seu próprio destino

 “Chávez deixa o país ao seu próprio destino”, intitula o Tribune de Genève um artigo em que anuncia o falecimento do Hugo Chávez. Para o diário genebrino, o presidente venezuelano “abandona o país em estado de choque e insegurança antes das novas eleições previstas para os próximos 30 dias”. De acordo com a constituição venezuelana, o governo deverá convocar novas eleições em um prazo de um mês.

Antes de viajar à Havana, em 8 de dezembro de 2012, para passar por uma quarta operação, Hugo Chávez se dirigiu à nação, no que viria a se tornar uma mensagem de despedida. Então, ele pediu unidade e que o povo venezuelano votasse em seu vice-presidente. “Elejam Nicolas Maduro como presidente. Isso estou pedindo do meu coração”.

Para o jornal Le Temps, Nicolas Maduro deve provar nas urnas, como afirmou seu mentor ao designá-lo, que a revolução “não depende de um homem”. Em um artigo intitulado “A última Batalha do comandante Chávez,” Le Temps traça a vida do presidente venezuelano. “Muitas vezes ele anunciou aos seus patriotas novas vitórias em sua batalha pela vida”, escreve o jornal baseado em Genebra.

Presidentes e autoridades de diversos países expressaram pesar pela morte do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, nesta terça-feira em Caracas, depois de uma luta de quase dois anos contra o câncer.

Da Organização das Nações Unidas a Buenos Aires, líderes políticos de várias partes do mundo prestaram condolências ao povo e às autoridades venezuelanas pela morte do carismático líder socialista, que governou a Venezuela por 14 anos.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, ofereceu suas “mais profundas condolências” ao povo venezuelano durante encontro com jornalistas.

Na mesma reunião, o embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin, disse: “É uma tragédia, foi um grande político.”

Em Brasília, a presidente Dilma Rousseff cancelou uma visita à Argentina que estava programa para esta semana para participar do funeral de Chávez, disseram fontes do Planalto.

Durante um evento com trabalhadores rurais em Brasília, ela pediu um minuto de silêncio em homenagem a Chávez, a quem descreveu como um “grande latino-americano” e um “amigo do povo brasileiro.”

“O presidente Hugo Chávez deixará no coração, na história e nas lutas da América Latina um vazio. Lamento como presidente da República e como uma pessoa que tinha por ele grande carinho”, disse. (Reuters: quarta-feira, 6 de março de 2013).

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